Arquivo da tag: Comunitárias

Abraço defende prazo maior para habilitação de associações

Brasília – O prazo para quem quer montar uma rádio comunitária termina na segunda-feira (3), mas segundo o coordenador-executivo da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), José Soter, deveria ser prorrogado pelo Ministério das Comunicações. Assim, explicou, as comunidades teriam mais tempo para se organizar e participar do processo.

De acordo com nota divulgada pelo Ministério das Comunicações, o aviso de habilitação nº 06/2007 foi publicado no Diário Oficial da União em 5 de dezembro do ano passado. Em janeiro, as inscrições foram prorrogadas por 45 dias para garantir maior participação da sociedade e democratizar o acesso às rádios comunitárias.

Ainda segundo o ministério, em 2007 foram lançados quatro avisos de habilitação, cadastrando 1.246 entidades. Já são 5.557 os municípios contemplados, o que representa 99,86% do total do país.

Para José Soter, a divulgação das inscrições pelo Ministério das Comunicações nem sempre chega às localidades onde há interessados em participar do serviço de radiodifusão comunitária. “Quem fica sabendo são aqueles que têm organização bem estruturada, em nível nacional”, disse.

O ministério informou que somente na próxima semana se manifestará sobre o assunto. No endereço eletrônico www.mc.gov.br os interessados podem encontrar o formulário para a inscrição.

Rádio on-line une favelas dominadas por facções rivais no Rio de Janeiro

Uma rádio comunitária transmitida pela internet está criando uma ponte entre duas favelas dominadas por facções criminosas rivais. A AfroReggaeDigital, criada por um grupo cultural da favela de Vigário Geral, com sede na comunidade vizinha – e 'alemã' (inimiga) – Parada de Lucas, ambas na zona norte da cidade.

Formada em parceria com a BBC de Londres e pelo AfroReggae, a rádio está no ar desde setembro e, além de emissora, atua também como escola de multimídia.

As aulas na AfroReggaeDigital são em um amplo estúdio que conta com equipamentos modernos. Lá, a jornalista inglesa Helen Clegg, 37, que deixou a BBC de Londres para montar a AfroReggaeDigital, dá aulas de locução, produção e redação jornalística em rádio. Helen também responde pelo conteúdo dos programas, escolhendo os temas que vão ser abordados e pesquisados.

A rádio web produz diariamente um programa apresentado pelos alunos dos cursos promovidos pelo projeto, chamado de 'Vozes da Favela'. Também há programas semanais que são apresentados por voluntários e artistas locais e internacionais.

De acordo com os responsáveis pela rádio, não há interferência do tráfico na programação musical nem no conteúdo veiculados pela rádio AfroReggaeDigital.

'Inicialmente iríamos montar uma rádio convencional, para atingir um número maior de ouvintes', conta um dos criadores do projeto, o inglês Damian Platt. 'Mas, para evitar algum tipo de interferência externa [do tráfico], optamos pelo sistema digital, que perde em audiência, porém ganha em qualidade de som, em programação independente e no alcance, já que pode ser ouvida em todo o mundo.'

Por meio da integração das duas comunidades, a rádio busca a paz entre comandos opostos. O Grupo Cultural AfroReggae é sediado na favela vizinha, Vigário Geral, controlada pelo CV (Comando Vermelho), facção criminosa inimiga do TCP (Terceiro Comando Puro), de Parada de Lucas. Ela pode ser acessada pelo endereço www.afroreggaedigital.com .

Projeto de Lei prevê que rádios possam usar programação do Congresso

A programação das rádios Câmara e Senado poderá ser transmitida pelas rádios comunitárias espalhadas pelo País. A determinação consta no Projeto de Lei 1352/07, do deputado José Guimarães (PT-CE), que inclui um dispositivo na Lei 9.612/98, que regulamentou o serviço de radiodifusão comunitária. Atualmente essas rádios são proibidas, pela lei, de operar em rede. Isso impede o uso da programação das emissoras do Legislativo.

Para o deputado, a transmissão das informações da Câmara e do Senado contribuirá para o aprimoramento das rádios comunitárias. Além disso, permitirá às comunidades conhecer o posicionamento dos deputados e senadores.

As Rádios comunitárias são emissoras FM de baixa potência que atuam em comunidades, vilas, bairros e distritos. O funcionamento é autorizado pelo Congresso Nacional, depois da licença expedida pelo Ministério das Comunicações, e regulado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Segundo o ministério, há cerca de 3 mil entidades autorizadas a explorar rádios comunitárias no País.

O projeto tramita em caráter conclusivo e será analisado pelas comissões de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Democratização da comunicação é pauta do VI Congresso Nacional da Abraço

As discussões em torno de uma Conferência Nacional da Comunicação participativa fortalecem uma mobilização social necessária para mudanças nas políticas de comunicação. Os clamores contra a tentativa do Ministério das Comunicações em fazer um evento vertical e autoritário revelam como é inaceitável que um governo popular, democrático e socialista, como o do presidente Lula, continue relegando a gestão da comunicação aos setores mais retrógrados e tradicionalistas de sua composição política. Esses atores realizam, de um lado, uma prática fisiologista de distribuição de concessões, principalmente, de canais educativos e, de outro, uma propaganda governamental baseada no marketing persuasivo para a conquista do receptor/eleitor.

Essa conjuntura permeará os debates do VI Congresso Nacional da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), nos dia 14 a 17 de dezembro em Brasília. Conforme o relato de Heitor Reis, militante do movimento, as rádios comunitárias vivem o seguinte contexto: 

** Apenas 50% dos municípios brasileiros possuem uma rádio comunitária outorgada; 
** 20% dos municípios sequer tiveram um Aviso de Habilitação publicado; 
** A duração média do processo de outorga é de mais de quatro anos, existindo processos em andamento no Ministério das Comunicações desde 1998, sem conclusão; 
** Mais de quinze mil entidades tiveram seus processos de pedido de concessão de radiodifusão comunitária arquivados; 
** O setor de outorga do Ministério das Comunicações não cumpriu os acordos firmados diante da Organização dos Estados Americanos (OEA) em 2005, quando se comprometeu a rever seus métodos e encaminhamentos diante da Comissão de Direitos Humanos da entidade e ainda inviabilizou o diálogo e o acompanhamento dos representantes das rádios comunitárias aos processos de concessão;  
** O "coronelismo eletrônico", segundo pesquisa dos professores Venício Lima e Cristiano Aguiar, atua fortemente em muitas emissoras comunitárias; 

** A repressão contra ativistas das rádios comunitária continua aliada à apreensão de equipamento, prisões e até óbitos de comunicadores populares.

Chega a hora de iniciar uma ruptura com essa situação tendo como suporte os movimentos sociais que clamam por um planejamento participativo nessas políticas.

A democratização da comunicação, pressuposto básico para a construção de uma sociedade justa e participativa, só é possível com suporte de uma mobilização popular. É necessário que todos os sujeitos sociais tenham meios para expressar-se, opinar e, assim, poder participar plenamente das decisões. Essa política necessita atuar em três níveis fundamentais: o controle público das mídias, o incentivo a meios de comunicação comunitários e alternativos e a formação de uma audiência crítica.

Concepção etnocêntrica de cultura

A sociedade civil organizada precisa exercer um controle público das mídias por meio da aplicação de uma legislação que impeça a formação de oligopólios e deve participar das decisões nos conselhos editoriais de cada veículo. Não se pode admitir que 80% da grande mídia brasileira esteja nas mãos de sete famílias que utilizam de todas as formas para burlar as restrições legais. Também urge combater a produção de conteúdo baseada somente nos interesses comerciais e nos acordos políticos de seus proprietários.

Uma política de incentivo a meios de comunicação comunitários possibilita o fortalecimento dos movimentos sociais e a produção de conteúdo pluralista que respeite a diversidade cultural. As rádios e televisões comunitárias, jornais de associações e sindicatos, os sites de organizações não governamentais e os blogs de ativistas sociais são espaços fundamentais para a construção de uma política que não restrinja a concepção etnocêntrica de cultura como artefatos intelectualizados e cientificistas. A intervenção governamental precisa não somente dotar de recursos tecnológicos esses sujeitos sociais, como promover sua competência técnica e cultural, respeitando a liberdade criativa.

Inclusão social e educação

A formação de uma audiência crítica é imprescindível para o exercício da cidadania. O "analfabetismo", na contemporaneidade, atinge não somente o domínio da escrita, mas também a falta de preparação para a leitura crítica das mídias audiovisuais e impressas. O receptor precisa ser capaz de perceber e questionar os interesses escamoteados nas notícias, os contra-valores dos programas de entretenimento e o insustentável incentivo ao consumismo da publicidade.

A preocupação com a democratização da comunicação atravessa os processos de construção de uma sociedade equânime e democrática. Aliada a políticas de inclusão social, de educação emancipadora e de cultura pluralista, cria condições de tornar a utopia da justiça social numa realidade.

Anatel quer mudar canais de rádios comunitárias de 26 municípios

A Anatel lançou recentemente duas consultas públicas para fazer alterações de canais de radiodifusão em FM e Radcom (Rádio Comunitária) em diversos estados. Segundo Marconi Maya, gerente geral de Regulamentação da agência, essas alterações visam adequar o espectro radioelétrico.

Na consulta 832, que trata de Radcom, o objetivo da proposta é substituir os canais 285 e 300, designados para a prestação do serviço em 26 municípios dos estados da Bahia, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rio Grande do Sul pelos canais 253 e 254, que serão usados como temporários em algumas regiões até sua substituição pelo canal exclusivo 200. “Essa modificação é para cumprir o dispositivo da Lei de Radiodifusão Comunitária, onde estabelece que o poder concedente deve designar nacionalmente um canal único para a execução do serviço”, explicou. As contribuições para essa consulta vai até o dia 30 de novembro.

Já a proposta 836, a Anatel vai estudar a viabilidade da mudança de potência dos transmissores de FM nas localidades e, em alguns casos, alterar o canal de freqüência envolvendo 15 cidades dos estados de Alagoas, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. Maya explicou que, neste caso, a agência realiza a consulta por demanda do Minicom, que repassa os pedidos de alterações técnicas para o órgão regulador, que tem a responsabilidade de fazer os estudos para saber se é possível ou não proceder nas alterações técnicas. Essa consulta será encerrada no dia 23 deste mês.

Pelo texto das propostas, os regulamentos pretendem verificar o uso racional e econômico do espectro de freqüências, inclusive pela utilização da potência mínima necessária para assegurar, economicamente, um serviço de boa qualidade.