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Igreja Universal usa meio legal para alcançar objetivo ilegal

Não há antídoto contra a má-fé no uso da Justiça. Mas existe um mecanismo civil de punição: a multa por litigância indevida ou abuso de direito. Ele deve ser aplicado quando o juiz que aprecia o processo reconhece que ele foi ajuizado para atingir um único objetivo: o da retaliação. Apesar da possibilidade de punição, a prática de usar o Poder Judiciário apenas para incomodar um desafeto persiste.

Não se pode impedir que aviões continuem voando só porque terroristas resolveram lançar dois deles contra as torres gêmeas de Nova York, no dia 11 de setembro de 2001. Da mesma forma, não se pode impedir que quem quer que seja, tendo motivo, recorra à Justiça só porque alguns fanáticos religiosos resolveram mover uma bateria de ações judiciais contra jornais que supostamente os teriam ofendido ao discorrer sobre as atividades comerciais da Igreja Universal do Reino de Deus.

Até esta terça-feira (19/2), 96 fiéis moviam ação contra a imprensa — processos ajuizados em cidades do interior dos estados (estratégia usada para dificultar a defesa dos jornais e jornalistas). A maioria — 56 — é contra o jornal Folha de S. Paulo e a jornalista Elvira Lobato. A série de ações de fiéis começou depois que a Folha publicou a reportagem Universal chega aos 30 anos como império empresarial, em 15 de dezembro. Também respondem ações de indenizações por danos morais o jornal Extra, e seu diretor de redação, Bruno Thys, do Rio de Janeiro; e A Tarde e o jornalista Valmar Hupsel Filho, de Salvador.

Mordaça pela Justiça

Apesar de toda a polêmica levantada, os fiéis da Universal não foram os primeiros a estrear ações orquestradas contra a imprensa, só para causar incômodo. A TV Globo, entre 1997 e 1998, sofreu uma avalanche de ações movidas por policiais militares depois que o programa Casseta e Planeta satirizou as situações ocorridas na Favela Naval, onde dez policiais foram filmados agredindo moradores em uma blitz. Foram 132 processos, todos movidos por policiais. O argumento era o de que eles se sentiram ofendidos só pelo fato de trabalhar na Polícia.

De acordo com o advogado Luiz Camargo de Aranha Neto, que defende a emissora, todos os pedidos de indenização foram negados. A Justiça de São Paulo entendeu que os policiais não tinham legitimidade para propor ação porque eles não apareceram nas cenas gravadas, nem seus nomes foram citados no programa de humor.

Aranha, apesar de reconhecer como legal o ajuizamento das ações, acredita que todas beiram a má-fé. “As iniciais são idênticas e a reportagem não mencionou o nome de um fiel sequer. É impossível que um fiel do Amazonas tenha ouvido as mesmas chacotas ditas para um fiel do Rio Grande do Sul”, diz.

O advogado Djair Rosa, que faz a defesa da Editora Rickdan, responsável pela publicação revista Sexy, afirma que neste caso quem tem direito de pedir indenização é o órgão de imprensa. “Cabe processo por perdas e danos. Essa é a melhor arma jurídica para evitar que isto se repita. Apesar da roupagem legal, a estratégia é claramente ilegal”, defende o advogado.

A Editora Abril também já teve de se desdobrar para administrar dezenas de processos sobre o mesmo caso. Em 2002, a editora respondeu 40 ações movidas por freqüentadores do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal, por causa da reportagem Barato Legal, publicada em setembro pela revista Veja. No texto, era dito que o chá ayahuasca, consumido durante as reuniões do centro espírita, era “droga como qualquer outra”, por provocar surtos psicóticos e, se fosse combinada com outras substâncias, seria capaz de provocar morte súbita.

“Se um brasileiro fundar uma religião que utilize em seu ritual maconha, cocaína, ecstasy, LSD ou crack, terá a aprovação do secretário nacional antidrogas. Afinal de contas, ‘religião é religião’”, dizia o texto. Os seguidores do centro espírita alegaram que foram ofendidos pelo conteúdo da reportagem. O nome de nenhum deles foi citado no texto. Por causa da ilegitimidade, as 40 ações foram julgadas improcedentes.

Em outro caso, a Editora Abril respondeu 105 ações por causa da reportagem A cidade goiana das espanholas, publicada na revista Veja em 2 de março de 2005. A jornalista Solano Nascimento escreveu que a economia na cidade de Uruaçu (GO) era fruto do trabalho das mulheres da cidade que se prostituem na Espanha.

As autoras da ação, moradoras do município, afirmavam que além de a reportagem colocar Uruaçu como a cidade das prostitutas, dava a entender que se você não fosse prostituta seria filha de prostituta ou mãe de prostituta. Também por ilegitimidade das partes, a Abril ganhou todas as ações.

Tudo indica que a tradição será mantida nas ações da Universal. Até agora, Folha e jornalista não perderam nenhum caso, no mérito, dos cinco analisados até agora. O único pedido indeferido foi o de centralizar todas as ações em apenas um juízo. No caso do jornal A Tarde, uma ação já foi julgada extinta.

Fenaj e sindicatos de jornalistas repudiam intimidação da Universal

A Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas e os sindicatos de jornalistas do Rio de Janeiro e da Bahia divulgaram nesta quarta-feira (2), nota sobre as ações judiciais movidas pela Igreja Universal e seus fiéis contra jornalistas e veículos de comunicação.
Veja a íntegra da nota: 

A Federação Nacional dos Jornalistas, o Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, o Sindicato dos Jornalistas da Bahia e demais Sindicatos do país filiados à FENAJ  repudiam, com veemência, a atitude da direção da Igreja Universal do Reino de Deus, que desencadeia campanha de intimidação contra jornalistas no exercício da profissão.

Também apelam aos Tribunais e ao Superior Tribunal de Justiça no sentido de alertá-los para ações que se multiplicam a fim de inibir o trabalho de jornalistas em todo o país. O acesso e a divulgação da informação garantem o sistema democrático, são direitos do cidadão, e o cerceamento de ambos constitui violação dos direitos humanos.

A TV Record, controlada pela Universal, chegou ao extremo, inadmissível, de estampar no domingo, em cadeia nacional, a foto da jornalista Elvira Lobato, autora de uma matéria sobre a evolução patrimonial da Igreja, publicada na Folha de S.Paulo. Por esse motivo, Elvira responde a dezenas de ações propostas por fiéis e bispos em vários estados brasileiros.

Trata-se de uma clara incitação à intolerância e do uso de um meio de comunicação social de modo frontalmente contrário aos princípios democráticos, ao debate civilizado e construtivo entre posições divergentes.

O fato de expor a imagem da profissional em rede nacional de televisão, apontando-a como vilã no relacionamento com os fiéis, transfere para a Igreja a responsabilidade pela garantia da integridade moral e física da jornalista.

A Federação Nacional dos Jornalistas, o Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, o Sindicato dos Jornalistas da Bahia e demais Sindicatos exigem que os responsáveis pela Igreja Universal intervenham para impedir qualquer tipo de manifestação de intolerância contra a jornalista.

O episódio nos remete à perseguição religiosa, absurda e violenta, praticada por extremistas contra o escritor Salman Rushdie, autor de Versos Satânicos, e as charges de Maomé publicadas no jornal dinamarquês Jyllands-Posten.

O jornalista Bruno Thys do jornal carioca Extra também é processado pela Universal em cinco cidades do Estado do Rio de Janeiro. O repórter Valmar Hupsel Filho, na capital baiana, já responde a pelo menos 36 ações ajuizadas em vários estados do Brasil, nenhuma delas em Salvador, sede do jornal A Tarde, onde trabalha.

Há evidência de que essas ações, com termos idênticos, estão sendo elaboradas de forma centralizada, distribuídas e depois impetradas em locais distantes, para dificultar e prejudicar a defesa, além de aumentar o custo com as viagens dos jornalistas ou seus representantes.

Encaminhados à Justiça com o nítido objetivo de intimidar jornalistas, em particular, e a imprensa, em geral, esses processos intranqüilizam e desestabilizam emocionalmente a vida dos profissionais e de seus familiares. Ao mesmo tempo, atentam claramente contra os princípios básicos da liberdade de expressão e manifestação do pensamento.

Em um ambiente democrático e laico, é preciso compreender e aceitar posições antagônicas e, mais ainda, absorver as críticas contundentes, sem estimular reações de revanche ou mesmo de pura perseguição.

Este episódio repete, com suas consideráveis diferenças, outras situações em que os meios de comunicação exorbitaram os fins para os quais foram criados. A Federação Nacional dos Jornalistas, o Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, o Sindicato dos Jornalistas da Bahia e demais Sindicatos sustentam que a imprensa não pode se confundir com partidos políticos, crenças religiosas ou visões particulares de mundo.

Brasília, 20 de fevereiro de 2008.

Diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas
Diretoria do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro
Diretoria Sindicato dos Jornalistas da Bahia

Igreja Universal garante respeitar a liberdade de imprensa

Em comunicado divulgado na noite da última terça-feira, a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), enfim, se posicionou a respeito da polêmica gerada pelos processos impetrados contra a Folha de S.Paulo, a jornalista Elvira Lobato e o jornal Extra, em série por seus seguidores, além de matéria veiculada na TV Record, que tratava como crime o fato de a jornalista da Folha ter publicado matéria, que dissertava sobre o império empresarial da Igreja e do possível destino dos donativos dos fiéis.

No texto, a Universal afirma que vem sendo procurada por fiéis que manifestam seu repúdio às matérias publicadas sobre a Igreja, "especialmente no que se refere à origem e destinação de seus dízimos".

A Iurd alega que já entrou com ações judiciais e que não tem qualquer interesse em orquestrar e incentivar processos individuais por parte de seus fiéis. "A Iurd respeita a liberdade de Imprensa, os jornalistas e suas entidades representativas, porém, não admite que reportagens sejam usadas para ofensas de outras garantias constitucionais como a dignidade da pessoa humana, o acesso à Justiça, à liberdade de crença e à inviolabilidade da honra".

Ainda no comunicado, a Universal classifica como inaceitável que a mídia utilize denominações consideradas "ofensivas e preconceituosas" para se referir à Igreja, tais como "seita, bando e facção", e garante apoiar as entidades de classe, quando a questão é a democracia. "A Imprensa, com responsabilidade, pode noticiar e os fiéis, da mesma forma, podem acessar a Justiça".

A Iurd finaliza a nota, colocando nas mãos do Judiciário a resolução para a polêmica entre ela e a imprensa. "Cabe ao Judiciário, com a imparcialidade e independência que lhe são inerentes, a palavra final".

Prisões de jornalistas triplicaram na Rússia em 2007

Moscou – O número de prisões de jornalistas na Rússia praticamente triplicou no ano passado, em uma clara demonstração do aumento da repressão estatal da liberdade imprensa.

Um dos exemplos mais gritantes da censura ocorrida em 2007, denunciada hoje pelo jornal Novye Izvestia, é o de Serghei Golovinov, jornalista de uma TV local de Vladimir (400 quilômetros a leste de Moscou), que corre o risco de pegar um ano de prisão ou ter de pagar uma multa de 40 mil rublos (US$1.200) por ter feito um jogo de palavras com o nome do presidente russo, Vladimir Putin, e ter rebatizou os jovens apoiadores do mandatário de "Putinistas". Segundo o jornal, somente no ano passado foram presos pela polícia russa, pelos mais variados motivos, cerca de 140 jornalistas.

Também triplicou o número de seqüestros de jornalistas que publicavam artigos incômodos. Em 2007 ocorreram 92 seqüestros, contra os 28 de 2006. Estão em crescimento também os casos de agressão contra representantes dos meios de comunicação, 75 em 2007 contra 56 em 2006. s dados foram levantados pelo Fundo para a Defesa da Glasnost (transparência), que revelou que Agora pela primeira vez a internet também esteve na mira da censura.

Juizes ordenaram a retirada do ar de vários sites, tidos como tecnicamente pouco responsáveis, e em Cita, na Siberia meridional, foi requerido um meio de limitar o acesso de alguns usuários. O provedor recusou, explicando que a lei não consente censuras do gênero. No ano passado foram registrados oficialmente 1.502 casos de violência dos direitos da liberdade de imprensa, contra os 1.345 de 2006.

A censura não poupou nem mesmo a imprensa estrangeira. Uma jornalista moldava foi proibida de entrar na Rússia após uma viagem, mesmo possuindo visto regular de trabalho, por ter publicado artigos pouco lisonjeiros com relação à deriva autoritária do Kremlin.

Jornalistas têm ano mais difícil para profissão desde 1994

Desde 1994, não se via um ano tão difícil para o exercício do jornalismo. Essa é a conclusão de um relatório divulgado na última segunda-feira (17/02), pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas, com sede em Nova York.

Segundo a entidade, pelo menos 64 jornalistas foram mortos em 2007, sendo que o Iraque continua a ser o local mais perigoso do mundo para a imprensa. Ainda há 22 mortes registradas neste ano, ainda sob investigação, que ainda podem ser ligadas ao trabalho jornalístico.  Em 2006, foram 56 as mortes.

"Desde o começo da guerra, em março de 2003, 124 jornalistas e 49 outros trabalhadores de meios de comunicação foram mortos, o que faz do Iraque o conflito mais letal para a imprensa na história recente", informou a entidade, sobre as dificuldades de se trabalhar como jornalista no Iraque.

Além do Iraque, Somália, Sri Lanka, Paquistão, Afeganistão, Eritréia, Mianmar, Haiti, Honduras, Quirguístão, Nepal, Palestina, Paraguai, Peru, Rússia, Turquia, Estados Unidos e Zimbábue registraram mortes de jornalistas. Na Colômbia, pela primeira vez em mais de 15 anos, não houve assassinatos de jornalistas. As Filipinas também ficaram fora dos registros pela primeira vez, desde 1999.