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“No governo do PCB, privatizações do setor de telecomunicações seriam revistas”

2010_ivan_thumbO Brasil vive, no campo da comunicação, um atraso histórico: o Código Brasileiro de Telecomunicações é de 1962; nosso arcabouço regulatório para o setor não alcança os desafios dos modelos e práticas de comunicação social que emergem a partir da intensificação do uso da Internet e da convergência dos meios; a sociedade brasileira até hoje espera pela regulamentação do capítulo “Da Comunicação Social” da Constituição Federal e as práticas monopólicas se intensificam, na falta de marcos legais e compromissos políticos que assegurem a comunicação como um direito e seus meios, como bens públicos comuns. No que diz respeito à Internet, o país tem um significativo hiato a enfrentar, especialmente em relação à universalização da banda larga e à adoção de políticas que fomentem a apropriação das tecnologias digitais de informação e comunicação pelo cidadão e pela cidadã para o exercício de direitos e em prol do desenvolvimento humano e social.

Apesar de algumas conquistas recentes – como a realização, em 2009, da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) –, o Brasil ainda está muito longe da realidade de um Estado capaz de garantir direitos fundamentais e privilegiar o interesse público no campo da comunicação. Diante deste cenário, consideramos essencial compreender se há compromisso político dos candidatos à Presidência da República com relação ao direito à comunicação – e se há, em quê extensão – como elemento indispensável para o aprofundamento da democracia no país. Por isso, o Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, através do Observatório do Direito à Comunicação, e o Instituto Nupef, através da revista poliTICs, realizam esta série de entrevistas com os/as candidatos/as à presidência.

O mesmo conjunto de questões foi enviado a todos/as as coordenações de campanha, na mesma data. A ordem da publicação das entrevistas respeita a ordem de chegada das respostas às nossas redações.

Veja as respostas enviadas pelo candidato do PCB, Ivan Pinheiro:

Confecom e Marco Regulatório
Em dezembro de 2009, a 1ª Conferência Nacional de Comunicação contou com a participação de empresários, sociedade civil e governo e aprovou mais de 600 resoluções. Em julho de 2010, o governo federal criou um GT Interministerial para propor uma revisão do marco regulatório das comunicações. O/A candidato/a pretende dar prosseguimento à revisão do marco regulatório e como seriam incorporadas, neste processo, as resoluções da Confecom?
Ivan Pinheiro –
Nosso governo não cederia à gritaria de empresários, como ocorreu. Não faríamos concessões, não colocaríamos a grande maioria das 600 resoluções em “letra morta”, mera conversa para boi dormir. A revisão do marco regulatório seria fato, não debate ou discurso pra enganar ou acalmar setores inocentes dos movimentos sociais. faríamos uma nova conferência, sem a participação do setor empresarial, e levaríamos as resoluções à cabo. Simples assim.Isso é poder popular, isso é democracia como a entendemos.

Conselho Nacional de Comunicação e controle social
O/A candidato/a se compromete com a criação de um Conselho Nacional de Comunicação, órgão participativo que garanta o exercício do controle social da comunicação no Brasil deliberando sobre políticas públicas do setor e acompanhando as atividades na área da comunicação, conforme resolução da Conferência Nacional de Comunicação?
I.P. –
Assino um documento com esses princípios na hora que me apresentarem, sem o subterfúgio covarde de criar GTs interministeriais para deixar a discussão morrer com o tempo…

Rádios Comunitárias
Tendo como base os parâmetros da liberdade de expressão, a Organização do Estados Americanos (OEA) recomenda ao Brasil a revisão da legislação no que se refere à punição penal aos comunicadores comunitários. O candidato pretende seguir esta orientação internacional? Qual sua posição sobre a anistia para os condenados por crime de radiodifusão não autorizada?
I.P. –
Como todo documento que integra interesses burgueses, essa recomendação da OEA é tímida e incompleta. Mesmo assim, é muito mais avançada do que vemos hoje em dia no Brasil. Em nosso governo, o direito à criação e difusão de noticiário sob interesse popular seria estimulado. Complementando, seria a favor da anistia.

Sistema público de comunicação
Nos últimos 4 anos, o governo transformou sua estrutura de comunicação com a criação da Empresa Brasil de Comunicação. Qual é a sua avaliação sobre o papel cumprido pela EBC e o que pretende fazer para fortalecer a comunicação pública durante a sua gestão?
I.P. – Como diz o ditado popular, não se pode servir a Deus e ao Diabo ao mesmo tempo. É chacota afirmar que o governo quis fortalecer o sistema público de comunicação quando vemos os processos de renovação das concessões de rádio e TV. A EBC não cumpriu o papel nem de ter um jornalismo independente muito menos o de promover entretenimento acessível com qualidade. Aliás, por que não nos integramos ao projeto Telesur? Por que não firmamos convênios com outras TVs públicas de nosso continente? Por que a linha editorial dos programas jornalísticos de nosso sistema público de rádio e TV mantém os preceitos do pensamento único? Por que não priorizamos a criatividade regional de nosso extenso país para afirmar valores como o altruísmo e a solidariedade em nossa população? Em nosso governo, essas coisas seriam o princípio fundamental de qualquer ação no ramo das comunicações.

Monopólio e capital estrangeiro
Que papel deve cumprir o Estado brasileiro para evitar a concentração da propriedade e regular a presença do capital estrangeiro no setor das comunicações?
I.P –
Ter a coragem de barrar essa realidade. Ter interesse político. Ter projetos. Ter o que dizer à população, com qualidade e salários dignos para os profissionais que trabalham nas comunicações públicas. Nada do que temos visto ao longo das últimas décadas…

Universalização da banda larga
O acesso à banda larga no Brasil é hoje limitado a 21% das residências, e os brasileiros pagam muito caro por um serviço ruim – mais de 54% das nossas conexões “de banda larga” têm velocidades nominais abaixo de um megabit por segundo, o que impossibilita um uso pleno das possibilidades que a Internet hoje oferece. Como o/a candidato/a pretende enfrentar o desafio de universalizar a banda larga no país e aprimorar a qualidade deste serviço? Quais os planos do/a candidato/a com relação ao Plano Nacional de Banda Larga, recentemente criado pelo governo federal?
I.P –
As privatizações do setor de telecomunicações seriam revistas. Iríamos reestatizar o setor, e não privilegiar interesse privados de criar uma megaempresa sob interesses capitalistas, como no recente caso da Oi. Somente indo contra os interesses privados conseguiremos democratizar o acesso a esse serviço, cada vez mais importante, o que Lula nem de longe fez. Após a estatização completa do setor, e com base de insumos e instrumentos de que já dispomos, seria criado um plano público de expansão do setor. É preciso afirmar, em todo caso, que isso não significa um PC com banda larga em cada domicílio do país. temos outras prioridades, mais custosas até, como a universalização do saneamento básico, da possibilidade de ingresso no ensino superior público e do direito ao trabalho. Mas todos, nem que fossem em centros comunitários, teriam acesso ao serviço a um custo subsidiado.

Governança da internet
O Brasil é hoje reconhecido internacionalmente por seu modelo de governança da Internet. Qual sua opinião sobre o papel do CGI.br e do NIC.br para o desenvolvimento da Internet no país? Que ideias o/a candidato/a tem sobre o futuro destas entidades?
Após a revisão de seus princípios e valores de funcionamento, que passariam a estar a serviço dos interesses populares, esse instrumentos seriam fortalecidos. Precisamos ter o domínio de fato, e não a mera ilusão deste domínio, sobre os dados, instrumentos de funcionamento e serviços presentes no mundo virtual. Nossa capacidade de criação, nossas informações, não passarão por back-up nos órgãos de inteligência dos interesses imperialistas.

Marco Civil da Internet
Qual a opinião do/a candidato/a sobre o Marco Civil da Internet no Brasil, e como o/a candidato/a vê o papel do Estado no estabelecimento de parâmetros que garantam direitos fundamentais na Internet?
I.P. –
O debate deve ser democratizado, pois afeta a todos mas está restrito à pequenos públicos e grupos de interesse. De qualquer forma, somos contra qualquer “gritaria” privada que veja “dirigismos” em qualquer iniciativa de regulamentação do setor.

Lei de Direitos Autorais
O país hoje discute a reforma da Lei de Direitos Autorais, com uma proposta do MinC que tem o intuito de equilibrar a proteção dos autores com o direito da sociedade de acessar de forma mais ampla os bens culturais produzidos. Qual a opinião do/a candidato/a quanto a esta proposta?
I.P. –
A proposta é tímida e tenta a conciliação entre entes diametralmente divergentes, como quase tudo nesse governo. E o resultado, como de sempre, deve ser o mesmo: conciliação extrema com os interesses do Capital e de entes privados. As ciências, é fundamental e óbvio que se diga, só avançam com compartilhamento de informações, conhecimento dos caminhos percorridos, dos acertos e até dos erros. Num governo comunista, o conhecimento é de todos, a cultura é de todos, bem como a dignidade das condições de vida – seja de operários, seja de intelectuais que produzem conhecimento.

Software livre
A política brasileira em relação ao software livre e à adoção de padrões abertos e interoperáveis também repercute positivamente em nível internacional e representou avanços para o país em termos de inovação tecnológica, transparência, entre outros aspectos. A política de priorizar software livre, padrões abertos e interoperabilidade será continuada?
I.P. –
Muito mais do que utilizar softwares livres, o que vamos manter nos órgãos/empresas/ serviços públicos, é preciso ter uma política de desenvolvimento e inovação tecnológica em nosso país, algo que ultrapasse a antiga lógica de “substituição de importações”, para fazer uma comparação com nosso passado histórico. Nossa população é inventiva, criativa, e pouco utilizamos isso a favor de soluções tecnológicas que deem conta de nossas necessidades. Isso ocorrerá através de investimentos maciços em nossas universidades e centros de pesquisa públicos. Isso extrapola em muito o que vem sendo feito, a mera propaganda oficialesca de instalação de centros de pesquisa em terrenos onde só o que cresce são matagais…

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Veja entrevistas com demais presidenciáveis:

Plínio de Arruda Sampaio – “Um governo do PSOL buscaria implementar todas as resoluções da Confecom”

 

Foram convidados a participar deste Especial, mas ainda não enviaram respostas:

Dilma Roussef (PT)

José Serra (PSDB)

José Maria Eymael (PSDC)

Levy Fidelix (PRTB)

Marina Silva (PV)

Rui Costa Pimenta (PCO)

Zé Maria (PSTU)

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Detentas produzem programa de TV em Votorantim (SP)

A cinco minutos do início da gravação, o clima é de agitação no "estúdio". Tudo conferido. A diretora grita para um homem alto, vestindo jaqueta preta: "Pode soltar". O carcereiro abre a porta de ferro da Cadeia Pública de Votorantim, no interior de São Paulo, e libera a equipe de reportagem da TV Cela.

Primeiro programa de TV feito por detentas no país, é um misto de talk show e documentário. Cada edição dura 30 minutos e tem um entrevistado. Entre os blocos, cenas da rotina da cadeia e depoimentos de presas.

A produção, desde a escolha dos convidados até a seleção das perguntas, é responsabilidade de cinco detentas. Todas respondem por tráfico de drogas ou associação ao tráfico.

Gravado em um espaço semelhante a uma gaiola com três metros de comprimento por dois de largura, o programa mobiliza a carceragem. Quando a produtora-detenta pede silêncio, a cantoria –ora pagode, ora sertanejo– cessa imediatamente.

As 150 mulheres, mantidas em um espaço projetado para 48, se veem representadas por Iara Fernanda de Mello, 25, a apresentadora. Sempre de unhas feitas e maquiagem preparada por um profissional –voluntário, como o resto da equipe externa.

Edicleusa Gomes, 30, opera as três câmeras emprestadas pelo Ceunsp (Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio). Concentrada, ela mira detalhadamente o convidado da vez, o advogado Hélio Bicudo.

Ele é recebido como estrela na cadeia. Antes de gravar, cumprimenta as presas. Uma delas chora. "Ele me lembra o meu vozinho", sussurra.

Celebridades

O projeto começou em outubro de 2009 com o objetivo de ressocializar as presas (há condenadas, algumas aguardando julgamento ou recorrendo da sentença).

Treze convidados já passaram pelo TV Cela desde a estreia. Os assuntos abordados vão de direitos humanos a saúde pública e outros temas ligados à rotina das detentas. As presas participantes devem mudar periodicamente, em sistema de rodízio.

O TV Cela é transmitido pela TV Votorantim, canal local do município (105 km de SP), e por outros 48 canais comunitários do Estado. No resto do país, chega via parabólica e internet.

A repercussão transformou as mulheres do TV Cela em celebridades carcerárias. Dezenas de cartas parabenizando chegam de presídios de todo o Brasil. Pela internet, as mensagens de apoio, que chegam até elas impressas, também se multiplicam.

"Receber um elogio vindo de tão longe faz muito bem", diz a apresentadora Iara.

Na cadeia há quatro meses, a produtora do programa, Alessandra Laquima, 38, emociona-se. "Quem está lá fora pensa que na cadeia só tem gente sem instrução e ignorante. Nós estamos mostrando que não é assim."

Os quatro filhos dela mostraram o programa a amigos e até para professores. Mesma reação da filha de Suzana Maria Braga Ramos, 26, que também participa.

Coordenador do programa, o jornalista Werinton Kermes disse que o objetivo do projeto não é formar profissionais, mas resgatar a autoestima. "É para exercitar a individualidade. Ocupar o tempo delas."

As detentas, porém, não descartam seguir carreira no jornalismo. "Se tiver oportunidade, seria maravilhoso. Eu me identifiquei com a comunicação", fala Iara.

Globo exibe retratação por declaração de BBB sobre aids

Com a veiculação de uma mensagem enumerando as formas possíveis de contágio pelo vírus HIV, a TV Globo respondeu ontem (29) à decisão da Justiça Federal que obrigou a empresa a assumir a responsabilidade por exibir declarações equivocadas sobre a aids feitas por um dos participantes do reality show. Realizada em formato de comunicado oficial e lembrando, pelas cores e fonte escolhidas, as mensagens obrigatórias do Ministério da Saúde, a nota contrasta com a edição das declarações do lutador Marcelo Dourado, que afirmou durante o programa que “homem hétero não pega aids”.

O procurador da República Jefferson Dias, responsável pela denúncia contra a Globo, diz que ainda irá avaliar se a resposta da emissora foi satisfatória. Segundo ele, é necessário que o vídeo com a mensagem exibida ontem seja anexado aos autos do processo. Para isso, se a emissora não enviar a gravação espontaneamente, o Ministério Público Federal fará esta solicitação. “Originalmente, eu tinha pedido que a resposta tivesse o dobro do prazo de exposição [da declaração de Dourado] e o juiz concedeu o mesmo tempo, vou esperar [a Globo] juntar para fazer a comparação temporal, e a partir daí fazer a análise”, informou. “Por enquanto, não dá nem para falar que foi satisfatório. Na próxima semana [darei um parecer].”

A partir de denúncia feita por um cidadão, o MPF abriu inquérito para averiguar a responsabilidade da emissora por veicular o comentário feito por Dourado sobre o HIV (saiba mais). O lutador disse, em 2 de fevereiro, que “hetero não pega AIDS, isso eu digo porque eu conversei com médicos e eles disseram isso. Um homem transmite para outro homem, mas uma mulher não passa para o homem”. A declaração, exibida ao vivo nos serviços de pay per view na internet e na TV paga, foi incluída na edição dos melhores momentos do programa na TV Globo que foi ao ar em 9 de fevereiro.

Na denúncia, o procurador Dias pedia que a Globo fosse responsabilizada por atentar contra as políticas públicas de prevenção à aids e promovesse uma retratação. Na decisão liminar em favor do pedido do procurador, proferida ontem mesmo,o juiz federal substituto Paulo Cezar Neves Junior, da 3ª Vara Federal Cível de São Paulo, reconheceu a responsabilidade da emissora por “lesão ou ameaça de lesão ao direito constitucional à saúde e também ao direito também de cunho constitucional ao serviço público de rádio e televisão de qualidade”.

O juiz justificou a decisão em caráter liminar considerando que o programa se encerra hoje, 30. A pena prevista pelo não cumprimento era de R$ 1 milhão.

Na tarde de ontem, a Globo já sinalizava que cumpriria a decisão judicial. Antes, porém, havia se manifestado publicamente sobre o caso afirmando que não é responsável pela opinião dos participantes do reality show. A emissora alegou ainda que, no mesmo dia da veiculação do comentário, o apresentador Pedro Bial teria feito uma errata, indicando que os telespectadores procurassem informações corretas sobre a transmissão do HIV no site www.aids.gov.br

Para o juiz, a conduta assumida pela emissora de “liberalidade” não é suficiente para cumprir seu dever de não afrontar o direito fundamental de informação e prevenção de doenças. Na sentença, Neves Junior ressalta o desequilíbrio entre a exibição de uma declaração na TV e a solução apontada pelo apresentador de que os telespectadores buscassem informações pela internet.

Na decisão, o juiz ainda ressalta que a “análise sistemática da Constituição Federal impõe que a liberdade de comunicação seja limitada pelo exercício de outros direitos fundamentais nela previstos, dentre eles o direito à saúde”.

Veja a íntegra da decisão.

Conceito foi definido em relatório da Unesco na década de 70

A compreensão da comunicação como um direito nasceu no bojo dos debates comandados pela Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura (Unesco) no final da década de 1970 sobre uma Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação (Nomic). Para embasar as discussões, a Unesco montou uma comissão liderada pelo irlandês Sean McBride com o objetivo de mapear a realidade da mídia no mundo. O relatório, intitulado Um Mundo e Muitas Vozes e publicado em 1980, tornou-se um marco ao conceituar a noção de direito à comunicação.

“Hoje em dia se considera que a comunicação é um aspecto dos direitos humanos. Mas esse direito é cada vez mais concebido como o direito de comunicar, passando-se por cima do direito de receber comunicação ou de ser informado. Acredita-se que a comunicação seja um processo bidirecional, cujos participantes – individuais ou coletivos – mantêm um diálogo democrático e equilibrado. Essa idéia de diálogo, contraposta à de monólogo, é a própria base de muitas das idéias atuais que levam ao reconhecimento de novos direitos humanos”, definiu o documento.

Após a desarticulação das intenções da Unesco por parte dos Estados Unidos na década de 1980, as propostas do relatório e a noção de direito à comunicação ficaram esquecidas enquanto a hegemonia do pensamento conservador, traduzido no neoliberalismo, estendia sua influência até a Academia. No início dos anos 2000, foi criada a campanha Communications Rights in the Information Society, que elegeu o direito à comunicação como programa para a discussão sobre o futuro convergente da mídia na Cúpula Mundial da Sociedade da Informação. Para mais informações, veja o sítio www.crisinfo.org

No Brasil, o Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social tem atuado pela promoção do direito à comunicação. Conheça mais o coletivo em www.intervozes.org.br

Para estimular o acompanhamento da situação do direito à comunicação no Brasil, o Intervozes criou o Observatório do Direito à Comunicação.

Abaixo, algumas referências importantes sobre o tema, parte delas disponíveis na Biblioteca deste Observatório:

ARIENTE, Eduardo Altomare. Direito à Comunicação no Brasil. São Paulo: USP / Faculdade. de Direito, 2006

BITELLI, Marcos Alberto Sant'anna. O Direito da Comunicação e da Comunicação Social. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004.

GOMES, Raimunda Aline Lucena. A comunicação como direito humano: um conceito em construção. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Universidade Federal de Pernambuco, 2007.

FERREIRA, Aloísio. Direito à informação, Direito à comunicação. São Paulo, Ed. Celso Bastos, 1997

FISHER, Desmond. O direito de comunicar: Expressão, informação e liberdade. São Paulo: Brasiliense, 1984.

INTERVOZES. Relatório de pesquisa – O direito à comunicação no Brasil (versão final). São Paulo: Intervozes, 2005.

MARQUES DE MELO, J.; SATHLER, L. Direitos à Comunicação na Sociedade da Informação. São Bernardo do Campo, SP: Umesp, 2005.

PERUZZO, C. M. K. Direito à Comunicação Comunitária, Participação Popular e Cidadania. In: OLIVEIRA, Maria José da Costa (org). Comunicação Pública. São Paulo: Alínea, 2004, p. 49-79

SILVA, Luiz Martins da (org.). Direito à Comunicação. Brasília, Casa das Musas, 2004

RAMOS, Murilo. BAYMA, Israel, LUZ, Dioclécio. Por políticas democráticas de comunicação: ideário reconstrução do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação. Mimeo, 2001.

UNESCO. Um Mundo e Muitas Vozes – comunicação e informação na nossa época. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1983.

Conceito ainda busca espaço no mundo acadêmico

Uma busca em sistemas de publicações acadêmicas pelo termo “direito à comunicação” não irá apresentar muitos resultados. Apesar deste conceito ter surgido há cerca 30 anos, seu emprego ainda é mais freqüente por entidades da sociedade civil do que no mundo universitário. No entanto, para pesquisadores entrevistados pelo Observatório do Direito à Comunicação, este quadro vem mudando nos últimos anos e o termo já encontra seu espaço nos estudos críticos do campo.

Idealizado no final dos anos 1970 nos debates sobre uma Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação, o entendimento da comunicação como um direito humano só veio a ser retomado no início dos anos 2000, resgatado por organizações envolvidas na luta por uma mídia mais democrática. “É uma construção muito mais da sociedade civil do que da Academia”, afirma Adilson Cabral, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador do tema.

A avaliação é compartilhada pela jornalista Aline Lucena, autora da dissertação de mestrado A comunicação como um direito humano: um conceito em construção. “Até aqui, o conceito da comunicação como direito humano ainda está sendo construído sob argumentos mais políticos que científicos. Os estudos que existem sobre as teorias da comunicação citam os debates internacionais sobre o direito à comunicação como um momento de militância e articulação política, não como uma tentativa de estabelecer novos marcos epistemológicos para o campo das ciências da informação e comunicação”, conclui em seu trabalho.

Segundo Murilo Ramos, professor da disciplina Legislação e Direito à Comuncação na Universidade de Brasília (UnB), um dos impulsos a esta recuperação foi a criação da campanha internacional Communication Rights in the Information Society (Cris – Direito à Comunicação na Sociedade da Informação), que reuniu organizações da sociedade civil para intervir na Cúpula Mundial da Sociedade da Informação (CMSI), realizada em duas etapas, nos anos de 2003 e 2005.

No Brasil, continua Ramos, o uso deste conceito foi impulsionado pela criação de um capítulo nacional da campanha Cris e pelo surgimento do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, que elegeu o tema como bandeira principal de suas ações. Durante este período, o termo passou a ser utilizado, ainda de maneira incipiente, na Academia, incentivado por pesquisadores que retomaram o ideário do Relatório McBride 25 anos após seu lançamento.

Evolução gradual

Segundo a coordenadora do Núcleo de Pesquisa (NP) de Políticas e Estratégias de Comunicação da Sociedade Interdisciplinar de Estudos de Comunicação (Intercom), Ada Machado, até 2004 houve um ou outro trabalho relacionado ao tema inscrito nos congressos de Ciências da Comunicação. O ex-coordenador do núcleo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Edgard Rebouças, lembra que houve tentativas de aproximação por parte do NP com as entidades envolvidas na campanha Cris Brasil, mas isso não se refletiu em elevação imediata da produção acadêmica. De qualquer forma, foi neste momento, na virada da década, que Ada Machado identifica o aumento das pesquisas de campo com menção ao conceito.

Para Murilo Ramos, pode-se dizer que o uso da noção da comunicação como um direito humano foi ampliado, especialmente nos grupos e núcleos de pesquisa voltados ao estudo das políticas de comunicação. Adilson Cabral acrescenta que o conceito transbordou este tipo de estudo e chegou até as pesquisas relacionadas a novas práticas democráticas e cidadãs de comunicação, especialmente os meios comunitários e as iniciativas de movimentos sociais e Organizações Não-Governamentais (ONGs).

De acordo com Cabral, a noção da comunicação como direito humano estaria gerando novas intersecções dentro e fora do campo da comunicação. “A área do Direito passou a se debruçar sobre estas questões”, exemplifica Murilo Ramos. Hoje, já há pesquisadores do campo jurídico trabalhando com o termo em universidades de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Recife.

Direito à comunicação e democratização da comunicação

Na avaliação de Adilson Cabral, o ganho de espaço da noção de comunicação como um direito significou um deslocamento em relação à perspectiva da democracia na comunicação que até então vinha sendo corrente nos espaços voltados à análise de políticas para mídia e de práticas cidadãs. “Esta noção é mais interessante, pois gera uma interlocução com outros atores a partir da compreensão de que a comunicação é processo e que a ausência de agendas de determinados setores sociais é também determinada pela configuração da mídia hoje”, diz.

Já para Edgard Rebouças, o direito à comunicação é análogo ao conceito de democratização da comunicação. “Como existia um desconhecimento da utilização deste conceito de direito à comunicação, falava-se em democratização da comunicação. Mas, no fundo, se formos fazer uma ruptura epistemológica e analisar os conceitos, é a mesma coisa.”

Murilo Ramos discorda desta visão. “O direito à comunicação não é sucedâneo para questão de democratização da comunicação, porque tem marca mais acadêmica, é mais conceitual e tem dimensão teórica importante”, opina.

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