O coro das operadoras de telecomunicações para que o governo destine logo a faixa de 700 Mhz para a banda larga móvel está completamente descolado da realidade, se comparado à migração das emissoras de TV analógica para a digital. Pela lentidão com que são solicitadas e liberadas pelo MiniCom as autorizações para a ocupação dos canais digitais, analistas de radiodifusão e telecom já ponderam que é completamente irreal a data de 2016 para o fim das transmissões analógicas e desocupação da faixa de 700 MHz.
Essa avaliação leva em conta apenas as empresas que precisarão digitalizar seus sinais, sem considerar o ainda mais sério problema que é a substituição dos milhares de aparelhos analógicos de TV pelos equipamentos capazes de receber os sinais digitais.
Visto apenas pelo lado da oferta, a situação é mesmo de alerta. Conforme os dados da Anatel, seriam 87,7 milhões de brasileiros recebendo os sinais digitais de TV (ou 46% da população) ou 30,7 milhões de domicílios (45,5% do total), localizados em 480 municípios que estão cobertos com pelo menos um canal digital. Números que por si só já demonstram a complexidade desta migração, tendo em vista a pequena quantidade de cidades atendidas.
O mais grave, porém, é o reduzido número de emissoras que já ingressaram no mundo digital. Das 502 geradoras de TV, apenas 106 estão operando em digital. Se considerarmos que faltam pouco mais de 60 meses para se chegar à data estipulada pelo governo para o fim das transmissões analógicas, pelo menos oito geradoras teriam que migrar para o mundo digital todos os meses para que o switch off das transmissões analógicas pudesse se confirmar.
Entre os inúmeros problemas que impedem esta migração, reclamam fontes do setor, estaria a falta de estrutura do MiniCom, que demora meses para conceder uma autorização para a ocupação do canal consignado. Desde abril, quando a Anatel começou a liberar as informações sobre a TV digital, até setembro, último dado disponível, nenhuma única nova geradora entrou em operação na TVD, embora radiodifusores assegurem que há emissoras com equipamentos comprados esperando a liberação.
No caso das retransmissoras, não dá nem para fazer contas. São oito mil estações em todo o país, e nenhuma delas migrou para a TV digital. Talvez, uma das alternativas fosse uma política de compartilhamento de torres e antenas, a exemplo do que o governo está buscando no segmento de telecomunicações.
Em quase todos os países que já concluíram esse processo, o prazo teve que ser prorrogado e, mesmo em ricas nações, como Estados Unidos e Inglaterra, o governo teve que subsidiar o cliente final na aquisição do conversor digital, pois caso contrário não conseguiria universalizar a medida. Aqui, os problemas são nas duas pontas – da oferta e da demanda.
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