Uma pesquisa feita sobre a cobertura da imprensa relativa à participação de mulheres na política em 2010 apontou que os maiores jornais brasileiros pouco falaram sobre políticas públicas para a área. Das 425 notícias analisadas, menos de 2% mencionam ações do poder público, como a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher ou o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres.
“O que mais chama a atenção é que havia um gancho que foi oferecido para a imprensa discutir uma amplitude de questões sobre mulheres e os jornais pouco aproveitaram”, diz a cientista social e coordenadora da pesquisa, Diana Teixeira Barbosa. O gancho, nesse caso, foi o fato de termos tido duas mulheres (Dilma Rousseff e Marina Silva) disputando em boas condições o cargo de presidente do país.
A pesquisadora entende que esse diagnóstico também foi resultado da postura das duas candidatas, que pouco trataram do tema em suas campanhas, mas mesmo assim avalia que os jornalistas perderam uma valorosa oportunidade de pautar a questão. Assuntos como a destinação de 5% dos recursos do fundo partidário para promoção da participação das mulheres na política e a necessidade dos partidos preencherem a cota mínima de 30% de candidatos/as para cada sexo foram praticamente ignorados pelos jornais analisados.
A pesquisa “Análise da Cobertura da Imprensa sobre Mulheres na Política e Espaços de Poder” integra uma série de levantamentos realizados pela ANDI – Comunicação e Direitos e pelo Instituto Patrícia Galvão, no âmbito de projeto desenvolvido com o Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Governo Federal. Ela será publicada na íntegra, junto com outros estudos sobre o tema, em um seminário em Brasília realizado dia 3 de outubro.
Diferenças
Outro foco da pesquisa foi analisar as diferenças de tratamento dos jornais entre homens e mulheres, principalmente candidatos. No caso das mulheres, a referência a aspectos físicos está presente em 14% do material estudado. São principalmente menções a cabelo, roupa, peso, maquiagem e cirurgia plástica das candidatas.
Não é um número tão alto, mas se for somado com as matérias que citam aspectos da vida privada das candidatas, como estado civil, filhos/netos e prendas domésticas essas informações aparecem em 31,5% da cobertura. “É considerável”, avalia Diana Barbosa. Insuficiências exclusivamente relacionadas às candidaturas femininas são mencionadas em 20% das notícias. Apenas 4% apontam aspectos negativos de homens e mulheres na mesma matéria.
Apesar de todos esses aspectos negativos na abordagem do tema, a pesquisadora também percebeu melhoria na postura dos jornais. Segundo Diana, há por parte da imprensa um cuidado maior dos veículos para não usarem terminologias negativas nem reforçar alguns estereótipos. A pesquisa monitorou 16 jornais (nacionais e locais) durante todo o ano de 2010.
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