Cultura busca verba privada e terceiriza a produção

Apesar de a TV Cultura ver a participação de dinheiro público em seu caixa diminuir, o orçamento total do governo cresce desde 2003. Mas, em 2004 e em 2006, houve queda nominal dos repasses.

A emissora escolheu deixar de produzir programas e comprar desenhos estrangeiros, como "Backyardigans", "Pocoyo" e "Charlie & Lola". A terceirização da produção determina um aumento das despesas de custeio, que desde 2005 superam proporcionalmente os gastos com pessoal -exceção feita a 2010, quando cerca de 300 demissões elevaram gastos com funções trabalhistas.

Em 2003, custos com funcionários respondiam por 62,26% do orçamento, contra 37,57% de outras despesas. Em 2009, foram, respectivamente, 42,78% e 55,12%.

Na era da TV digital, o canal também reduziu o investimento tecnológico; em 2008, era de 6,29% e, em 2010, caiu para 2,89%. O jornalista Eugênio Bucci, que fez parte do Conselho Curador por três anos e participou do comitê de programação do canal, diz que o baixo repasse de dinheiro do governo "é um caminho para entender a situação em que a emissora se encontra". "É desse tipo de erro administrativo que decorrem os problemas de programação."

Ele defende que os recursos de uma TV pública tenham de ser públicos também. "Se não for assim, a TV pública passa a competir com a TV comercial e deixa de ser uma alternativa a esse formato. Além do fato de ser muito negativo ter de prestar contas ao mercado publicitário."

João Sayad, que preside o canal, disse em julho à Folha que a via para recuperar o público era investir em "mais jornalismo e mais debate".

Na ocasião, ele negou que os cortes de funcionários fossem um "desmanche" do canal, mas sim parte do processo de regularização do pessoal nas normas da CLT. Hoje a TV tem 1.300 funcionários.

Procurado pela Folha na sexta-feira passada, João Sayad não foi encontrado para comentar os números.

 

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