TV pública voltará a ter publicidade para crianças

Na sexta-feira dia 5, a imprensa destacou a fala da gerente de marketing da TV Cultura, Flávia Cutolo, que afirmou que a emissora pública voltaria a veicular publicidade infantil depois de um intervalo de dois anos.

 

Segundo o Portal Imprensa, a fala de Flávia que aconteceu em evento da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), era que o canal por assinatura TV Rá Tim Bum veicularia publicidade ainda em 2010, e a TV aberta a partir de 2011.

 

A assessoria da TV Cultura confirmou que a veiculação de publicidade durante a programação infantil só está autorizada na TV paga, conforme disseram por e-mail: “a direção da TV Cultura esclarece que veiculação de publicidade durante a programação infantil só está autorizada no sistema a cabo, na TV Rá Tim Bum. Não há nada para o sinal aberto da TV Cultura. A escolha da TV a cabo foi uma decisão estratégica da emissora pelo fato de ser mais segmentada. E toda esta operação será alvo de avaliação detalhada. Para a televisão aberta, TV Cultura, não há nenhum estudo neste sentido”.

 

A fala de Flávia, veiculada pelo Portal, ainda cita análises que demonstrariam que a criança pode se proteger de propagandas: "Na TV Cultura esse processo deverá ter início no ano que vem. Após perceber os movimentos e análises da sociedade que revelam que a criança tem, sim, percepção crítica, resolvemos rever nossa determinação".

 

O Instituto Alana, que existe para defender o fim da publicidade dirigida a crianças, ainda não se pronunciou por não se tratar de uma afirmação oficial. A advogada e coordenadora-geral do Projeto Criança e Consumo do instituto, Isabella Henriques, afirmou não conhecer movimentações e análises na sociedade que comprovam a “maioridade psíquica” da criança, mas sim o contrário: pesquisas do mundo inteiro de especialistas que estudam infância, pedagogia, sociologia, todos unanimente afirmam que a criança se desenvolve em estágios. “Assim como ela passa por fases de desenvolvimento físico, como a formação do estômago – no começo come papinha, depois sólido, até crescer e poder comer um prato de feijoada -, ela também passa por desenvolvimento psíquico”.

 

Isabella, que também é autora do livro ”Publicidade abusiva dirigida à criança”, conta que até por volta dos seis anos a criança não faz distinção entre publicidade e entretenimento, intervalo e programação, não tendo condições de fazer análise crítica e entender o caráter da mensagem. O desenvolvimento psíquico para entender toda a complexidade de uma publicidade como faz um adulto seria por volta dos doze anos.

 

Se a afirmação de Flávia e da assessoria estiverem corretas, ainda esse ano a publicidade para crianças voltará à grade da paga TV Rá Tim Bum. Isabella afirma que é tão grave quanto passar na TV aberta, mesmo tendo um alcance menor. “As questões são as mesmas na TV fechada com o agravante dela ser paga e já ter verba para poder se manter”. Ela também acha que pelo fato do público ser segmentado, e o canal ser inteiro infantil, faz os pais, ao comprarem o pacote, confiar que aquele produto respeita as especificidades da criança, ainda mais em canais da Cultura, que é reconhecida por ter uma programação infantil de qualidade.

 

TVs públicas recebem verba dos governos aos quais são vinculadas para não terem que depender totalmente de anunciantes. E no caso da publicidade infantil há o agravante de expor mentes inocentes a mensagens feitas para convencê-las a todo custo de que serão melhores se consumirem, uma questão delicada que uma TV cujo objetivo é o enriquecimento cultural da população, e não o lucro, deveria atentar.

 

Apesar de ter uma posição clara a respeito de publicidade infantil nessa emissora, o Alana não se manifestará até a confirmação oficial da TV. “Não entendo o contexto que a frase foi falada. Sem a gente saber de fato as fundamentações que a TV Cultura teria se valido pra tomar essa decisão, não dá para fazer qualquer crítica”, e ressaltou que devem ficar atentos para o que vai acontecer. Está marcado para semana que vem um encontro entre o Instituto e a TV Cultura sobre esse tema.

 

 

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