Futebol: TV Globo vs. vereadores paulistanos

A polêmica está na mesa. A Câmara de Vereadores de São Paulo aprovou projeto de lei que limita até 23h15 o término das competições esportivas no município. A matéria foi encaminhada para o Executivo. O prefeito Gilberto Kassab tem até o dia 31/3 para vetá-la ou sancioná-la.

Na quinta-feira (25/3), o Arena SporTV debateu o projeto. Participaram o secretário de Esportes da cidade de São Paulo, Walter Feldman, o deputado estadual Luciano Batista (PSB), o vereador Celso Jatene (PTB) e os jornalistas da casa Marco Antonio Rodrigues e Paulo César Vasconcelos.

Ponto novamente para o SporTV. Embora todos saibam o interesse da TV Globo no projeto, o debate foi em alto nível. Partidas de futebol às quartas-feiras têm sido marcadas para as 21h50 e até 22 horas por causa da grade de programação global.

A emissora que detém os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, aliás, foi esticando esse horário até chegar às 22h. Se não houvesse um "não mais", certamente haveria partidas começando por volta das 22h30, o que seria absurdo para com o torcedor.

A Rádio Jovem [Pan] faz campanha pela mudança dos horários. Em editorial veiculado diariamente, a emissora diz que houve tentativa da TV Globo e da Federação Paulista de Futebol de manipular a opinião do torcedor, levando-o a concluir que o horário atual faz bem aos cofres dos clubes.

"Em toda essa novela indigesta, inconsequente, que ainda envolve o povo, Câmara Municipal, prefeito, Federação Paulista de Futebol e TV Globo, um ato é indesculpável: a forma primária e leviana como se pretendeu manipular a opinião pública e a consciência de nossos vereadores e deputados", diz trecho do editorial.

Sono tardio

A rádio conclui sua opinião afirmando que "a grade de uma televisão não pode regulamentar a vida, a ponto de prejudicar a paz, o sono e segurança dos cidadãos, o descanso de todos, de quem vai ao estádio e até de quem assiste TV em casa. Essa não é uma briga do bem contra o mal. É um movimento que coloca de um lado o apelo popular, as pessoas pedindo o fim dos jogos as 10 da noite, o bom senso, enfim".

Para este colunista, o ideal seria que partidas de futebol fossem iniciadas entre 21h e 21h30, no máximo. O horário avançado não atrapalha apenas o dia seguinte de quem vai ao estádio. Impõe barreiras também àqueles que ficam em casa.

No meu caso, tenho o hábito de acompanhar o pós-jogo com entrevistas de técnicos e jogadores. Não vou para a cama antes de 1h da manhã. Quem vai ao estádio em partidas no horário imposto pela Globo, certamente irá dormir por volta das 3h. Não dá mesmo. É preciso rever os horários das partidas no meio de semana.

Mais imposição

Torcedores de determinados estados têm sido obrigados a engolir jogos de péssima qualidade por conta do monopólio da TV Globo na transmissão dos campeonatos estaduais.

Quem mora em Brasília e torce por equipes paulistas se vê forçado a encarar Botafogo e Olaria, por exemplo, ao mesmo tempo em que Santos e Palmeiras fazem jogo eletrizante, com sete gols. Isso ocorreu, de fato, no dia 14 de março.

A Globo se superou naquele domingo: a partida entre os cariocas foi interrompida por causa das fortes chuvas que caíram sobre o Engenhão. Ao invés de entrar com as imagens de Santos e Palmeiras, a Globo seguiu mostrando Botafogo e Olaria.

Só que, dessa vez, narrando a chuva que caía. Só faltou o repórter de campo entrevistar os funcionários que tentavam conter a força do temporal, usando rodos e muita disposição.

O mesmo ocorre em outros estados nos quais a Globo empurra jogos ruins entre equipes paulistas e deixa de lado um clássico carioca, por exemplo.

A Bandeirantes, que deveria ser o diferencial na transmissão dos campeonatos estaduais e nacionais, aceita as condições da emissora carioca e só transmite o que está programado. Quem determina o que irá passar em cada praça é a Globo.

Essa postura, que revela a crueldade do monopólio da transmissão esportiva, tem passado dos limites. Por isso, a necessidade das demais emissoras se unirem para tentar quebrar o monopólio da Globo. O torcedor não tem mais opção aos domingos e às quartas-feiras. Engole-se aquilo que lhes enfia goela abaixo. No seco. Sem choro.

* Antonio Carlos Teixeira é jornalista e colunista do Observatório da Imprensa.

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