Vitória da Conquista realiza Conferência Livre reunindo universidade e movimentos sociais

O diálogo entre as demandas da universidade e movimento sociais foi a tônica da I Conferência Livre de Comunicação de Vitória da Conquista na Bahia, realizada no dia 15 de outubro. Ao longo dos debates, trajetórias distintas de lutadores pelo direito à comunicação se cruzaram nas dependências da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e apresentaram estratégias complementares para diminuir a concentração da propriedade nos meios de comunicação, além de propor participação dos movimentos sociais na gestão da TV Universitária local.

Na abertura das atividades, o representante do Movimento Sem Terra (MST) local, Rosalvo José dos Santos, comparou a questão fundiária aos meios de comunicação no Brasil. Nas palavras de Santos, a legislação de ambos os setores beneficia a concentração da propriedade e a estratégia adotada pelo MST também é semelhante. “Temos que criar o conflito para que o Estado chegue até nós e busque resolver o problema. Da mesma forma que ocupamos uma terra improdutiva colocamos no ar uma rádio comunitária nos assentamentos e acampamentos sem autorização do Estado.”

Sobre a I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), Rosalvo, que é coordenador regional do MST, preferiu comparar com a Conferência do Meio Ambiente, em 2003, quando “o Governo Federal criou as condições para o debate se popularizar na sociedade, algo que não está ocorrendo na Confecom”.

Outro depoimento marcante daqueles que lutam pelo direito à comunicação na caatinga foi de André Santos, da Associação Comunitária de Piripá. O radialista contou que, em 1998, aos 18 anos, foi estimulado pelos amigos a soltar a voz nas rádios da pequena cidade, com cerca de 20 mil habitante, na divisa com Minas Gerais. Aos poucos foi ganhando notoriedade por falar “as coisas que as pessoas gostavam de ouvir, independente dos políticos locais”. A importância de terem suas "vozes" reproduzidas nas ondas dos rádios culminou na decisão coletiva de batalhar pela concessão de uma radiodifusão comunitária.

A estratégia dos companheiros de André é seguir a Lei a risca, mesmo que desfavorável. Pra isso os piripaenses fundaram a Associação Comunitária de Comunicação (ACC) e enviaram os documentos corretamente para Brasília, mas passados três anos o Ministério das Comunicações ainda não deu qualquer retorno em relação ao pedido de autorização. “Como nós não temos uma parlamentar para agilizar o processo, fiquei ligando insistentemente para assessoria do Minicom, até que um dia aceitaram falar comigo no telefone, mas nada adiantou”, finaliza André.

O radialista afirmou que gostaria de participar da etapa estadual da Confecom, mas o governo da Bahia não garantiu nem transporte nem hospedagem para qualquer cidadão do interior de um estado com 417 muncípios. no qual mais de 75% população não mora na região metropolitana de Salvador.

TV Universitária

Paulo Correia, coordenador regional da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação (Enecos) foi um dos estudantes da UESB a puxar a I Conferência Livre de Vitória da Conquista. Para além da Confecom, os debates serviram para alavancar uma antiga demanda local: gestão participativa da TV Universitária, retransmissora da TVE Bahia na região. Segundo Paulo a comunidade e estudantes não têm presença no conselho da TV Universitária. Além disso, é a Assessoria de Comunicação da Reitoria que controla a programação, o que dificulta a reprodução de conteúdos oriundos das organizações sociais locais.

Ao final das atividades foi unânime a produção de uma moção pela reformulação da gestão e o estimulo à diversidade de conteúdos e formatos na TV Universitária, que tem como base da programação o telejornalismo tradicional.

Para André Araújo, membro do Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania (CCDC) da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, o ambiente acadêmico na teoria, deveria abrir espaço para alternativas na gestão e produção dos meios de comunicação, porém costuma reproduzir o modelo tradicional da grande mídia.

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