União quer classificar programas com conteúdo homofóbico

O governo federal quer classificar como impróprios para crianças e adolescentes programas de TV com conteúdo homofóbico. A medida consta de um plano de promoção da cidadania de LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) que será lançado hoje à tarde pela Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência.

O plano tem propostas feitas na última Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, em junho do ano passado. As ideias foram analisadas por 18 ministérios, que descartaram algumas e chancelaram outras. Há ações previstas nas áreas de educação, saúde, segurança pública e cultura, entre outras.

O documento estabelece que a classificação etária dos programas com conteúdo homofóbico se dará de acordo com as regras de classificação indicativa do Ministério da Justiça. Elas são ditadas pela portaria número 1.220 de 2007 -embora o plano faça menção à de número 264, já revogada. A reclassificação pode abranger desde programas de humor até outros em que religiosos atacam a homossexualidade, mas não se aplicam a programas jornalísticos, esportivos e à publicidade.

Como inapropriadas para crianças e adolescentes, as atrações terão que exibir selo com a mensagem "não recomendado para menores de 18 anos" -portanto, "inadequados" para exibição entre 6h e 23h, segundo o secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr. "O ideal é que não fossem exibidas em horário nenhum." A classificação indicativa é feita pelas emissoras, mas o Ministério da Justiça faz um acompanhamento dos programas e pode mudá-la mediante procedimento administrativo.

O plano prevê que comissão "intersetorial" a ser constituída pelo Ministério da Justiça analise programas de auditório e de humor. Ela não terá poder de veto, mas fará recomendações, diz Eduardo Santarelo, coordenador do programa Brasil Sem Homofobia da Secretaria dos Direitos Humanos. Segundo ele, o plano é o primeiro marco normativo do governo especificamente para essa área, já que o Legislativo pouco avançou no que diz respeito a temas como união civil e adoção por homossexuais. Parte das ações está voltada à igualdade de direitos de LGBT nas próprias ações do governo.

Uma delas é permitir que quem mora com o companheiro do mesmo sexo possa declarar o parceiro como seu dependente no Imposto de Renda. Outras medidas do mesmo caráter já aconteceram, mas por iniciativas isoladas de ministérios ou decisões judiciais. É o caso do aluno gay que teve permissão para incluir o parceiro como dependente para atingir o cálculo da renda máxima para ingresso no ProUni.

Para ator, ser correto demais atrapalha humor

O humorista Evandro Santo, 34, que há cerca de dois anos interpreta o personagem gay Christian Pior, no Pânico na TV, da Rede TV!, afirma que é preciso haver respeito sem exagerar no politicamente correto, para não deixar chato o que deveria ser engraçado.

FOLHA – Você apoia esse tipo de medida?

EVANDRO SANTO – Acho que a televisão é um complemento. O primeiro problema da homofobia é em casa, relacionado a como se educa um filho. Não é nem só a homofobia. É o racismo, o machismo… Não adianta nada a mulher reclamar que o marido bate nela se deixa o filho chegar às 5h e a filha a 1h. Mas a televisão também pode colaborar. É preciso respeito. Mas se você fica muito pisando em ovos e com muitos dedos, fica chato. O excesso do politicamente correto prejudica o humor.

FOLHA – O seu trabalho tem algum aspecto homofóbico

SANTO – Não. Porque é um personagem gay que brinca com héteros, com gays. Se excluísse os gays das brincadeiras, seria homofobia.

FOLHA – Um personagem humorístico gay não significa um trabalho homofóbico?

SANTO – Se eu fizesse aquele personagem vítima, que os héteros usassem de escada e sempre o colocassem de maneira muito fragilizada, aí seria homofobia.

FOLHA – Como você vê os personagens gays em geral na TV brasileira?

SANTO – Essa coisa é antiga. Nos anos 80, ele era vítima. Nos anos 90, era aquela coisa mais Vera Verão. Hoje se tornou uma coisa mais politizada. A homofobia diminuiu e isso se reflete no humor.

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