O Brasil e a revolução dos conteúdos audiovisuais digitais

Em tempos de mídias digitais e de mudança do sistema analógico de televisão para o modelo de TV digital (TVD), várias transformações se fazem necessárias, como a preparação dos técnicos e profissionais de comunicação e de telecomunicação que já se encontram no mercado, ou a atualização dos currículos universitários na área da Comunicação, para que professores e alunos possam desenvolver e exercitar a produção de conteúdos audiovisuais digitais.

Isso inclui produção de conteúdos de áudio, vídeo, texto e dados para diferentes plataformas tecnológicas como celulares, TV digital móvel, rádio e cinema digital, computadores mediados por internet e videojogos em rede. Uma produção que pode ser desenvolvida para cada aparelho ou conteúdos voltados para a convergência entre as diferentes tecnologias, o que exige pensar, desenvolver e realizar pesquisas para os novos formatos audiovisuais digitais interativos e interoperáveis.

A TV e rádio digital, os celulares, os videojogos em rede, os computadores mediados por internet ou os conteúdos audiovisuais pensados para a convergência exigem novos formatos de programação e também novos modelos de negócios para essas mídias. Isso porque não é possível comparar os modos de produção jornalística ou ficcional para TV e rádio analógica com as novas necessidades da TV e rádio digital, nem simplesmente repassar esses conteúdos para a TV usada em um computador com acesso a internet. Tampouco é possível desenvolver conteúdos ficcionais ou jornalísticos para celulares que, além de possuírem uma tela pequena, exigem outro tipo de linguagem e relação com seus públicos.

No caso da televisão digital, os novos formatos audiovisuais terão de ser elaborados pensando as possibilidades interativas do público com a TVD, pensando multiprogramação, acessibilidade, usabilidade (do controle remoto, que poderá ser usado como um miniteclado) e pensando a melhora considerável da imagem que permite observar detalhes antes não vistos na TV analógica (rugas, espinhas, defeitos nos estúdios etc).

Outra diferença importante do sistema analógico para o digital é que é possível mudar a origem da produção dos conteúdos audiovisuais digitais, até então restrita a grupos de comunicação como Globo, SBT, Grupo Abril, Record etc. Ou seja, a produção de conteúdos audiovisuais digitais poderá ser feita por profissionais de Comunicação ou mesmo por produtores independentes, eliminando a necessidade de intermediários como os grupos de comunicação brasileiros que há anos concentram e produzem conteúdos para diversas mídias – como rádio AM e FM, televisão aberta e por assinatura, TV digital, provedor de internet, jornais e revistas impressas e por internet, produtoras de filmes e vídeos, empresas discográficas, agências de notícias, etc.

Neste caso, a produção de conteúdos audiovisuais digitais interativos poderia ser feita desde casa, de um estúdio ou redação, ou mesmo a partir de uma organização não governamental em um bairro ou grupo social, representando outras vozes ao discurso informativo e ficcional atual.

Desenvolvimento da criatividade

Pensando na possibilidade de ampliar a produção de conteúdos audiovisuais independentes para as mídias digitais e, por conseqüência, abrir novos nichos no recém criado mercado audiovisual digital, o governo brasileiro apresentou em 2008 a proposta de criar o Centro Regional de Produção de Conteúdos Digitais para América Latina e Caribe.

Esse Centro foi aprovado no Congresso da Sociedade da Informação para América Latina e Caribe realizado em El Salvador, em fevereiro do ano passado. Na prática, isso significa desenvolver políticas nacionais de comunicação e estimular a criação de centros nacionais em toda a região, atividade que ficou a cargo do Grupo de Trabalho (GT) sobre Conteúdos Digitais Interativos da Sociedade da Informação / eLAC 2010, cuja coordenação é brasileira.

Uma das atividades desse GT é realizar seminários internacionais sobre inclusão e produção de conteúdos digitais interativos com a participação de diferentes atores sociais, como governos, empresas de diferentes portes, ONGs e academia, abrindo a discussão sobre as possibilidades de produção de conteúdos digitais interativos em diferentes mídias e para diferentes áreas em cada país. Essas áreas abrangem a educação a distância, o jornalismo digital, os produtos ficcionais audiovisuais, serviços voltados para saúde e cidadania – como marcar consultas no SUS a partir da TV digital e acompanhar processos jurídicos; ou serviços bancários, como pagamento de contas, além de projetos de inovação e tecnologia, alfabetização digital, entre outros.

Outro ponto importante é criar as condições para a criação dos Centros Nacionais de Produção de Conteúdos Digitais, voltados para o desenvolvimento da criatividade, da inovação tecnológica e de uma futura venda desses conteúdos audiovisuais tanto para o mercado interno como externo, gerando renda e um pólo alternativo de produção, diferente dos já existentes em países como EUA ou Inglaterra.

Possibilidades de inclusão

Em 2008, foram convocados dois seminários internacionais na região, sendo o primeiro foi organizado por SELA, na Venezuela (outubro/2008) e o outro realizado no Brasil pelo Ministério de Ciência e Tecologia (MCT), com o apoio da Comisión Económica para America Latina e Caribe – CEPAL/Unesco e do governo federal. O Seminário Internacional sobre Inclusão e Produção de Conteúdos Digitais Interativos realizado em Brasília (dezembro/2008) contou com a presença de representantes de 14 países e sua coordenação acaba de lançar o relatório com as recomendações do evento, assim como a Carta de Brasília (ver aqui). Na mesma ocasião, o MCT lançou oficialmente o Centro Nacional de Produção de Conteúdos Digitais Interativos e Interoperáveis que ainda se encontra em fase de implantação.

Entre as atividades do Centro Brasileiro estão:

** A realização de oficinas para que profissionais, professores e estudantes de todo o país aprendam a usar o Ginga para desenvolver conteúdos digitais interativos e com multiprogramação, pois esse middleware é uma das grandes contribuições brasileiras para a padrão nipo-brasileiro de TV digital;

** O levantamento de onde estão localizadas as pesquisas na área acadêmica voltadas para o desenvolvimento de conteúdos digitais para as diferentes plataformas tecnológicas existentes atualmente para, em breve, apoiar esses pesquisadores para que desenvolvam projetos e produtos nessa área;

** A disponibilização ao público latino-americano e caribenho da Coleção "Comunicação Audiovisual Digital" em português e espanhol (versão impressa e eletrônica), estimulando a reflexão e o desenvolvimento de novos projetos de conteúdos audiovisuais no país e ainda apontar as melhores práticas na área;

** O desenvolvimento de competência nessas novas áreas da Comunicação em todo o país.

Nesse sentido, o Brasil busca também tornar-se uma referência na região. Para isso, estimula a adoção do sistema brasileiro de TV digital (SBTVD) em outros países e leva seus especialistas para debater e apresentar conferências mostrando as possibilidades de inclusão através das novas mídias digitais e da produção de conteúdos audiovisuais na América Latina e Caribe.

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