Interatividade segue sem data certa para estrear

Após quase dez meses de sua implementação, o Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD) ainda não emplacou. Telespectadores que residem em três capitais (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) podem captar som e imagem digitais em seus televisores, desde que tenham o aparelho que faz a conversão do sinal. Mas, na visão de Luiz Maluf – diretor da Sun na América Latina -, de Nelson Wortsman – diretor da Brasscom -, e outros representantes do setor acreditam que só a interatividade dará força ao sistema. “A TV digital só vai conquistar o mercado de massa se agregar algo nov, algo que possa mudar a vida das pessoas – seja em lazer, serviços, comércio, etc.”, afirmou Wortsman.

Durante o evento "TV Digital: Uma nova oportunidade para as empresas de software" realizado nesta quarta-feira (24/09), em São Paulo, foi discutido o que as indústrias de software têm feito para dar impulso ao sistema. “Passamos da infância para a adolescência”, explicou Wortsman. A questão é que ainda não foi definida uma data específica para o início das transmissões com opções de interatividade. “Se não sair agora, vamos perder uma oportunidade ímpar de pegar uma tecnologia brasileira inovadora e leva-la para fora”, observou Salustiano Fagundes, presidente da HXD, empresa focada na criação de aplicações interativas para TV digital.

O impasse da interatividade passa pela regulamentação do Ginga, o middleware que possibilita o funcionamento das aplicações recebidas nos aparelhos. A Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) desenvolveu um middleware baseado na linguagem NCL-Lua, pronto para ser utilizado e com lançamento defendido por empresas interessadas – caso da HXD.

Mas o Fórum SBTVD (entidade criada pelo governo federal que reúne representantes das emissoras de radiodifusão, fabricantes, empresas de software e instituições acadêmicas para discussão do sistema), vai contra essa idéia. Roberto Franco, presidente da entidade, quer o lançamento somente após o Ginga baseado em linguagem Java for aprovado – questão que não foi resolvida antes porque alguns componentes são patenteados e foi necessário desenvolver uma nova plataforma livre de royalties. A Sun está por trás dessa plataforma e promete disponibiliza-la até o final do ano.

Salustiano, da HXD, diz que, se forem esperar todo o processo – entrega do Ginga especificado em Java, o desenvolvimento de aplicações e o início do uso -, a interatividade só chegará daqui a dois anos. Já Wortsman, da Brasscom, defende o lançamento do middleware com responsabilidade para que fabricantes não tenham de se adaptar às mudanças de hardware que possam ser necessárias futuramente, caso haja a integração com a linguagem Java. É a mesma posição de Franco, cuja entidade será responsável por definir um padrão de qualidade a ser seguido. “O Fórum vai disponibilizar o Ginga somente quando houver uma especificação que atenda a todas as demandas [de linguagem]”, ressaltou.

Chance de ouro – Wortsman disse que a implementação de um sistema interativo eficaz é a chance de ouro de o Brasil sair na frente do restante do mundo – assim como aconteceu no caso da automação bancária (há cerca de duas décadas), no modelo eletrônico adotado para as eleições ou no recolhimento de impostos pela Receita Federal. o desafio é criar uma ponte entre as linguagens Java e NCL. David Brito, presidente da Quality (empresa que, junto à Totvs, criou a joint-venture TQTVD para TV digital), compartilha da mesma opinião e diz que o Brasil está na dianteira mundial do desenvolvimento de middleware do tipo, tanto é que a empresa que comanda tem um projeto que integra as duas bases – o AstroTV.

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