Governo e entidades se manifestam sobre tortura a equipe do Dia

A revelação que profissionais do jornal O Dia foram torturados durante a apuração de uma reportagem na Favela do Batan, Rio de Janeiro, motivou a manifestação de entidades da classe, da Justiça e do Executivo. O Governo do Rio de Janeiro emitiu nota classificando o crime de intolerável, e determinou “rigor máximo” na investigação.

“Filho de jornalista, o também jornalista e governador Sérgio Cabral não apenas deseja, mas determinou que as investigações sejam rigorosas e tragam respostas o mais rapidamente possível – o que já é uma expectativa na Secretaria de Estado de Segurança Pública”, informa o comunicado.

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, afirmou que “basta de impunidade. Basta de cumplicidade. O Brasil precisa de justiça, não de justiceiros”, ao comentar a tortura.

“[O crime] mostra a que ponto chegou, naquela cidade, a quebra de valores e decoro no ambiente do próprio Estado. Por sua omissão, o Estado estimula a formação de grupos paramilitares, que pretendem combater o crime com métodos criminosos. (…) A presença de policiais – funcionários do Estado – no comando dessas ações indica que é urgente e inadiável uma reforma estrutural no aparelho de segurança pública do Rio de Janeiro. (…) Os moradores das favelas cariocas, a maioria absoluta trabalhadores honestos, são hoje reféns de bandidos, que disputam o poder, uns em nome do crime, outros em nome de seu combate”, critica a OAB.

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) disse que o episódio é de “inominável violência”, e cobrou atitudes do governo do Estado.

“Considera a ABI que o fato se reveste de extraordinária gravidade, sobretudo porque sua divulgação se faz na edição de O Dia com data de 1º de junho, que é celebrado por força de lei federal como o Dia da Imprensa. É contristador verificar, mais uma vez, que o exercício de sua relevante atividade profissional e missão social pelos jornalistas se faça ainda com pesados riscos e padecimentos, como os enfrentados e vividos por esses dois jornalistas e pelo motorista que  os acompanhava. É igualmente triste que esse episódio se torne público na véspera do dia do sexto ano da morte do jornalista Tim Lopes, repórter da Rede Globo torturado e morto por traficantes no dia 2 de junho de 2002, num sinal de que não se  modificaram as condições que conduziram à imolação desse inesquecível companheiro”, lembra a Associação.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) considerou inaceitável que existam as denominadas “áreas de exclusão”, sem a presença do Estado, e também lembrou a triste coincidência da divulgação do crime próximo do aniversário da morte de Tim Lopes.

“A exemplo dos traficantes, esses bandos criminosos chamados ‘milícias’ criam áreas de exclusão, nas quais impõem as suas próprias leis, valendo-se da intimidação e do assassinato. Além da barbárie a que submetem os moradores, o que já seria inaceitável, esse tipo de banditismo organizado põe em risco o Estado Democrático de Direito, em desafio aberto ao Executivo, ao Legislativo e ao Judiciário, os poderes da República, que deveriam regular a vida da sociedade”, alerta a Abraji.

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) também cobrou uma ação do Estado. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, além de organizar um ato de repúdio na segunda-feira (02/06), divulgou nota afirmando que o crime acaba com a ilusão de segurança criada por milícias em algumas regiões do Rio de Janeiro.

"A livre circulação da informação é o alicerce do Estado de Direito. A tortura dos jornalistas traumatiza a cidadania, já constrangida com a denúncia, pelo Ministério Público Federal, da quadrilha de policiais que loteava as delegacias para o crime organizado. E impõe ao poder público a priorização da garantia do direito de ir, vir e informar. Assim como a bomba do Riocentro, em 1981, desmontou a ditadura dos carrascos militares, a tortura dos jornalistas em Realengo destrói a ilusão de que as milícias possam representar alternativa ao narcotráfico nas áreas sem assistência do Estado", compara o sindicato.

0

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *