Breque na queda da telefonia fixa

Á exceção da Oi, Telefônica e Brasil Telecom registraram, no primeiro trimestre, um freio na redução das linhas telefônicas em serviço. Nos dois casos houve uma leve recuperação, contra a tendência contínua de queda dos trimestres anteriores, que se manteve na Oi. A razão, explicam executivos das concessionárias, vai ser encontrada na conjunção de três fatores: o desempenho geral da economia; o aumento do poder aquisitivo do chamado andar de baixo e a adequação dos planos alternativos voltados para a baixa renda; os planos da economia que garantem um tempo menor de conversação e impedem ligações de fixo para celular ou ligações de longa distância. Esses eventos só no cartão pré-pago. Isso, quando toda a comunicação não estiver dependente do plano pré-pago.

Cada vez mais, a receita da telefonia fixa das operadoras está vinculada aos planos alternativos. Na Telefônica, quase a metade. Na Oi, 35%. Na Brasil Telecom, outros 44,8%. Uma tendência natural, já que o usuário, não importa sua faixa de renda, quer um plano aderente ao seu perfil de uso e ao seu orçamento. Com a mudança da cobrança de pulsos para minutos, os planos alternativos se multiplicaram. “Oferecemos perto de dez planos e dezenas de pacotes. Isso permite ao nosso cliente ir calibrando sua demanda em relação ao plano”, diz Luis Antonio da Costa Silva, diretor de produtos e serviços da Brasil Telecom. A oferta aderente ao bolso do cliente diminuiu a aceleração da curva natural de redução da telefonia fixa, pressionada pela concorrência não só da telefonia móvel, mas do serviço de voz, seja sobre protocolo IP ou não, oferecido pelas operadoras de cabo. Enfim, o que está em jogo é a oferta do serviço de banda larga, que traz a voz como valor adicionado.

Mas como, por enquanto, quem pode pagar pelo serviço de banda larga é o cliente das classes A e B, as concessionárias tentam manter sua base instalada de telefonia fixa, e banda larga sobre tecnologia ADSL, também de olho nas classes C e D. E aí os planos alternativos para a baixa renda, os chamados planos da economia, estão fazendo diferença. Maurício Giusti, vice-presidente da Telefônica, observa que houve uma redução da queda das linhas em serviço no primeiro trimestre de 2008. “No segmento residencial, a queda se reduziu de 1,5% no último ano para 0,4%”, diz ele. E isso se deve, avalia, especialmente à ampliação dos clientes do plano da economia — são 600 mil, pouco mais de 10% do total de 5,5 milhões de usuários de planos alternativos. Na avaliação de Giusti, é graças à oferta mais adequada ao perfil de gasto do cliente e de produtos combinados, a venda de duos ou trios, que a telefonia fixa tem mantido uma boa performance num cenário que lhe é desfavorável. “Para continuar vendendo serviço de telefonia fixa, é preciso oferecer ao cliente banda larga e vídeo”, observa.

Leve recuperação

Pioneira na oferta de planos alternativos, inclusive para a baixa renda, o que lhe permitiu reduzir o ritmo do encolhimento do número de linhas fixas em serviço, a Telefônica não está mais sozinha nessa empreitada. Brasil Telecom e Oi têm acompanhado de perto essa estratégia. Com seus planos alternativos e sua linha economia, que recebeu o nome de Plano Controle, a Brasil Telecom conseguiu, segundo os dados de primeiro trimestre de 2008, segurar a curva de redução das linhas em serviço da telefonia fixa. Não houve perda pela primeira vez em muitos trimestres, embora o ganho seja marginal. Mas como a perda se deve, como reconhecem seus técnicos, não só a concorrentes, mas, especialmente, ao telefone celular, segurar o vazamento do dique é uma grande conquista.

Ao analisar os números, Costa Silva vai direto ao ponto. “Dos 113 mil clientes do plano Controle, que passaram a assinar o serviço no primeiro trimestre de 2008, 43% nunca tiveram telefone fixo”, informa. Ou seja, o aumento do poder aquisitivo das classes C e D está permitindo que quem tinha apenas um celular para, na maioria das vezes, receber chamada, possa, agora, se dar ao luxo de ter um telefone da família com controle de gastos (esse plano da Brasil Telecom é todo pré-pago). A oferta de planos adequados à capacidade de pagamento do cliente facilita a adesão. “É importante assinalar que não se trata de uma reversão de expectativa. Mas com o aumento do poder aquisitivo e planos mais adequados, a curva de queda da telefonia fixa, que é uma tendência mundial, vai ser mais lenta”, observa ele. Ao lado desse movimento, a Brasil Telecom, a exemplo da Telefônica, registra uma redução dos índices de inadimplência. “A responsabilidadenão é só do desempenho da economia, mas de termos produtos mais adequados à capacidade de pagamento do cliente”, pondera Maurício Giusti.

Já na Oi, o número de linhas fixas em serviço continuou em redução. A queda foi de 1,3% em relação ao trimestre anterior e de 2,1% nos últimos 12 meses (de 14,338 milhões para 14,037 milhões). A receita também caiu, em ritmo menor, graças aos planos alternativos, redução que vem sendo compensada, como nas demais concessionárias, pelo aumento dos ganhos com o acesso em banda larga, com a telefonia móvel e a oferta de serviços combinados.

Avanço do celular

Três são as razões apontadas pela Oi para ainda não ter conseguido estancar a redução do número de linhas, mesmo com a grande quantidade de planos alternativos comercializados. A primeira delas, afirma o diretor João de Deus, — e a de maior impacto — é que a competição com a telefonia celular é mais acirrada. “Enquanto em São Paulo há apenas três operadoras, em nossa região a competição é muito maior entre as quatro empresas de celular”, assinala. E, nessa briga de preços, a substituição da linha fixa pela móvel se dá de forma mais acelerada, justifica. Ele lembra, por exemplo, que a taxa de penetração do celular em estados como Pernambuco ou Rio de Janeiro já é maior do que em São Paulo.

Outra razão, argumenta, é que a Oi não podia oferecer os planos alternativos em vários municípios de sua área de concessão, medida que está sendo revertida este ano. Isso porque, na mudança da tarifação do pulso para minuto, as empresas tiveram a opção de, nas cidades por elas escolhidas, não migrarem para a nova tarifação. Em contrapartida, não poderiam bilhetar o tempo de uso, e só cobrar a assinatura básica.  A Oi havia resolvido fazer a tarifação em minutos em 96% dos 6.500 municípios de sua região. Nas demais cidades, a operadora não podia oferecer os planos alternativos, já que não bilhetava o consumo. Mas, segundo o executivo, até o final do ano, a empresa terá implantado o sistema de bilhetagem em minutos em todas as cidades de sua região, podendo, assim, oferecer novos planos tarifários.

Impacto da banda larga

Por fim, uma outra razão, esta de menor impacto, devese ao próprio crescimento da oferta de banda larga na região, fazendo com que os usuários que tinham duas linhas fixas em casa — uma para acessar a internet discada e outra para falar — , ao instalarem o seu ADSL, cancelavam a segunda linha. Esse fenômeno, reconhece João de Deus, deve ter se repetido nas demais operadoras, mas o impacto desse desligamento ainda ocorre na Oi porque a empresa ingressou tardiamente, com pelo menos um ano de atraso, no mercado de banda larga.

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