Debate analisa a importância da TV pública e as formas de financiamento

São Paulo – A importância da TV pública e suas formas de financiamento foram os temas que permearam o debate promovido hoje (17), em São Paulo, pelo jornal Folha de S. Paulo. Para os debatedores, o governo deve continuar investindo nas TVs públicas, mas esse financiamento precisa ser transparente e não pode ser único.

"Quanto mais plural for o financiamento, melhor. Tem que ter participação do governo, do Executivo, de entes governamentais para as quais a instituição possa prestar serviço, do mercado, na medida dos apoios institucionais e patrocínios, e também apoio do telespectador", disse o diretor-presidente da TV Cultura, o jornalista Paulo Markun.

Durante o debate, Markun chegou a defender que a forma ideal de financiamento seria a contribuição voluntária da sociedade, tal como funciona na TV pública nos Estados Unidos.

Também presente à mesa de debates, o ex-presidente da Radiobrás e atual conselheiro da TV Cultura Eugênio Bucci aposta na perspectiva de se trabalhar com as doações e contribuições voluntárias. Em sua opinião, isso teria como resultado uma boa programação e uma boa gestão. "Mas, fundamentalmente, as regras públicas devem assegurar o financiamento. Sou a favor do dinheiro público na comunicação pública, mas com fiscalização intensa e prestação de contas."

A presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a jornalista Tereza Cruvinel, acredita que o financiamento voluntário não funcionaria no atual momento do país. "Cobrar diretamente do cidadão seria ótimo, mas a nossa realidade não permite hoje imaginar que possamos cobrar dos brasileiros, com a nossa desigualdade e com a nossa carga tributária elevada, uma taxa de financiamento para a TV pública". Para ela, os canais públicos devem buscar receitas próprias de financiamento.

Os debatedores também discutiram sobre a importância da TV pública. "A TV pública é uma necessidade estrutural em qualquer democracia de qualquer país", disse Bucci.

"A TV pública não é para fazer um contraponto à TV comercial. Ela não é para fazer nada a não ser aprofundar a experiência democrática", destacou Tereza Cruvinel.

Para Markun, a TV Pública tem que fazer aquilo que as TVs comerciais não fazem. "Buscar inovação, experimentalismo, oferecer espaço para diversidade e para áreas específicas que não têm como se expressar por razão de mercado. E tem que ter, acima de tudo, o compromisso da pluralidade".

O presidente da TV Cultura também acredita que a busca pela audiência não deve ser prioridade na TV pública. "A busca da audiência não deve ser algo fundamental, essencial e neurótico, como é na TV comercial. Mas não se pode fazer TV para ninguém", afirmou Markun.

Na opinião de Bucci, a grande preocupação no debate sobre a TV pública deve ser a questão da autonomia. "A independência se garante com marcos legais que precisam ser muito claros, porque a TV pública não deve apenas ser independente. Ela deve transmitir independência, deve cuidar das aparências no sentido de mostrar todos os dias, reiteradamente, que ela não é subserviente e dependente do ponto de vista das suas decisões".

Segundo Bucci, para assegurar essa independência seria necessário que a direção da emissora pública não fosse nomeada pelo governo e que o conselho tivesse poderes para representar, de fato, a sociedade, e não o governo.

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