Lula não vê ameaça à liberdade de imprensa em ações da Universal

Questionado sobre as ações movidas por fiéis e pastores da Igreja Universal contra jornais e jornalistas que escreveram reportagens investigativas sobre o crescimento do patrimônio da igreja, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje não ver nisso uma ameaça à liberdade de imprensa. Os fiéis entraram comações na Justiça contra os jornais 'Extra', 'O Globo', 'A Tarde', e contra a Folha.

'A Igreja Universal utilizou o Poder Judiciário. Ela está utilizando um dos pilares da democracia para questionar o jornal', respondeu Lula ao ser questionado se as ações da Iurd contra jornais ejornalistas representavam uma ameaça contra a liberdade de imprensa.

Nos processos movidos contra a Folha, os fiéis se dizem ofendidos pelo teor de uma reportagem da jornalista Elvira Lobato, publicada em dezembro, que descreve as milionárias atividades do bispo Edir Macedo Para Lula, 'liberdade de imprensa pressupõe a imprensa escrever o que quiser (…). Mas pressupõe também que a pessoa se sentir atingida vá à Justiça para provar a sua inocência. Não pode ter liberdade de imprensa se apenas um lado achar que está certo. Então, liberdade de imprensa pressupõe uma mistura de liberdade e responsabilidade. As pessoas escrevem o que querem, depois ouvem o que não querem', disse o presidente.

Lula afirmou ainda que, no dia em que a 'Folha se sentir atingida pela Igreja Universal, ela vai processar a Igreja Universal'. 'E no dia que a Igreja Universal se sentir atingida pela Folha, ela vai processar a Folha. E, assim, a democracia vai se consolidando no Brasil.'

A Folha desta terça-feira (19) publica em sua primeira página um editorial sobre os processos movidos por fiéis da Iurd contra jornais e jornalistas.

O editorial diz que a Folha sempre repeliu o 'preconceito religioso'. Mas que a liberdade de expressão e o direito dos cidadãos à verdade' é que estão sob ataque, e não 'liberdade para esta ou aquela fé religiosa '.

Associações de jornais e de jornalistas A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) divulgou nota hoje condenando o que chamou de ação orquestrada pela Iurd (Igreja Universal do Reino de Deus) para intimidar veículos de imprensa e jornalistas que escrevem reportagens sobre o patrimônio da igreja com ações na Justiça Em nota, a Abraji diz que o 'comportamento da Iurd difere do legítimo direito de todo cidadão de buscar na Justiça a reparação de uma ofensa'. 'É um recado enviado a repórteres e empresas de comunicação, buscando enredá-los em uma teia de temor difuso, que pode alcançar a todos e qualquer um, a qualquer momento, bastando que alguém se atreva a fazer aquilo que um jornalista faz cotidianamente por dever de ofício: investigar, relatar e publicar.'

Ontem, a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e ANJ (Associação Nacional de Jornais) também divulgaram nota para criticar a tentativa da Iurd de intimidar jornalistas e veículos de comunicação.

Em nota, o vice-presidente da ANJ, Júlio César Mesquita, diz que 'está claro que todos esses pedidos de indenização, redigidos praticamente nos mesmos termos, partem de uma mesma origem e com um mesmo objetivo. É uma tentativa espúria de usar o Poder Judiciário contra a liberdade de imprensa, ameaçar o livre exercício do jornalismo e privar o cidadão do direito de ser informado.'

A Abraji, com base em levantamento da revista eletrônica Consultor Jurídico, diz haver no Brasil 3.133 processos contraprofissionais da mídia. 'O valor médio das indenizações requeridas em 2003 era de R$ 20 mil e no ano passado foi de R$ 80 mil', diz em nota.

'A ABI dirige-se aos magistrados responsáveis pelo julgamento dessas ações para alertá-los acerca dos danos que o deferimento do pleiteado pode causar à democracia no país, objeto de um processo de construção ainda não encerrado e que deixou ao longo da recente História do Brasil não poucas vítimas e não poucos mártires', diz nota da ABI.

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