Current TV: uma televisão participativa e contemporânea

Recentemente, assisti aos vídeos promocionais da Current TV, emissora gerenciada por Joel Hyatt e ideologicamente comandada pelo ex-candidato à presidência dos EUA e prêmio Nobel da Paz Al Gore. A empresa foi criada há dois anos e se tornou no ano passado o veículo mais jovem a vencer um Emmy (o principal prêmio da TV americana).

Fiquei muito bem impressionado com o foco, aparentemente acertado, da programação. Porque a Current é uma televisão contemporânea. Utiliza a internet para se alimentar e alimenta a internet com sua produção. Um terço do que exibe provém dos próprios internautas, em algo que eles chamam de VC2 (Viewer Created Content – "telespectador criou o conteúdo").

Fascinou-me, por exemplo, ver a contraposição de vídeos extraídos do site gerando um diálogo virtual de pessoas que nem sequer se conhecem pelo cyberespaço, apenas "freqüentam" a mesma mídia. Um rapaz posta um vídeo dizendo algo. Uma garota refuta com outro vídeo. Tudo online. E tudo isso vai parar na grade de programação participativa e interativa da emissora.

Funcionamento

A Current opera em duas mãos. Tem um site 2.0 e um canal de Broadcast tradicional, o qual o cliente acessa por meio de assinatura (DTH ou cabo) nos Estados Unidos e no Reino Unido. O plano, no entanto, é expandir o trabalho para todo o planeta.

Seu público é o que eles chamam de Young Adults (jovens adultos). Ou seja: pessoas entre 18 e 34 anos. Não é o mesmo público que a MTV ou a Play TV no Brasil, voltados para teenagers ou old teens (pessoas que esqueceram que a adolescência um dia acaba). Isso faz da Current um produto bastante raro no mercado de comunicação.

Além disso, eles desenvolveram estratégias para obtenção de publicidade menos invasivas que as tradicionais, inspirados pelos ads da internet (um mecanismo que aproxima a oferta e a demanda). Também optaram por se relacionar com as marcas por meio de patrocínios à programação. Como é interessante estar na Current, o mercado topou.

No fim do ano, por exemplo, o Radiohead, a banda que é sinônimo de inovação (principalmente depois de ter lançado seu último disco inteiro pela internet para que os fãs pudessem baixar suas músicas pelo preço que bem entendessem) fez uma apresentação exclusiva para a Current. O Robertão Carlos Especial deles é o Radiohead. Isso dá a dimensão de quem eles querem atrair para suas ondas digitais.

No Brasil, o projeto da FIZTV da Editora Abril propõe sistema semelhante. Não chega aos pés, mas caminha nesse sentido, de capturar conteúdos na web, produzidos pelos interatores, e levá-los ao broadcast.

Esse é um dos caminhos possíveis para a fusão internet-TV, mas na minha avaliação não é o que irá sobreviver no cenário de convergência total. De qualquer forma, a inovação passa por aí.

Um exemplo bem legal

Em um dos vídeos promocionais aos quais tive acesso, a Current exibe um trabalho como o exemplo mais bem acabado da interação entre a emissora e os interatores. É o clipe All Eyes on The Shins, produzido por Alex simmons e Douglas Caballero, durante o Austin City Limits Festival.

De fato, eles usaram muito do que a net pode oferecer para fazer um trabalho colaborativo.

Veja o filme aqui.

Depois que você assistiu ao filme, explico como eles fizeram isso:

1. Eles propuseram à banda The Shins que os fãs pudesses filmar uma das músicas de seu show. Os caras não só autorizaram a brincadeira como disseram que iam fazer campanha pela idéia.

2. Eles iniciaram, então, por meio de panfletagem durante o festival e distribuição de camisetas, a divulgar a idéia entre o público. Também fizeram uma campanha por meio do My Space, a rede social que é sinônimo de música nos dias de hoje.

3. O pedido ao público era bem simples: você, fã, use seu celular, câmera fotográfica, filmadora, o que for, para filmar a apresentação do The Shins. Depois, deposite seu filme no site da Current. A contrapartida? Participar da brincadeira.

4. Para pôr mais tempero no cozido, o The Shins ofereceu uma música inédita, Phantom Limb. Puseram no roda o primeiro single do novo álbum, que nem sequer fora lançado.

5. No dia marcado, na hora marcada, os músicos conclamaram os fãs a ligarem seus aparelhos e gravarem a apresentação. Quem quis, e pôde, fez isso.

Resultado: mais de 200 vídeos foram enviados à Current. Eles deram origem a um clipe editado por Simmons e Caballero. Pelo menos um frame de cada vídeo enviado pelo público foi utilizado na colagem feita pela emissora. Além disso, todos os trabalhos permanecem no site à disposição dos usuários.

A convocatória no corpo-a-corpo real e virtual mais a credibilidade do veículo forjaram ou não forjaram uma equação bem interessante? O que seria possível fazer com um método desses? Quais são as pontes para interligar TV e web de forma eficiente e atraente para o público de hoje em dia? Que experiências semelhantes a essa serão desenvolvidas no Brasil? O que é preciso para uma experiência dessa dar certo?

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