Indústria amazonense reage às críticas de Hélio Costa

A indústria eletrônica do Amazonas decidiu reagir às declarações do ministro das Comunicações, Hélio Costa. No último domingo (02/12), ao participar do programa "Canal Livre", da Rede Bandeirantes de Televisão, o ministro fez duras críticas à indústria de TVs, instalada no Pólo Industrial de Manaus.

"Eles querem vender TVs de plasma, de 42, 52 polegadas. Não querem que o povo use as TVs atuais – o Brasil vende cerca de 10 milhões de TVs/ano", declarou o ministro, quando indagado pelos jornalistas da Band sobre o por que do mercado apresentar preços muito caros de conversores de sinais de TV Digital.

Em nota oficial que será publicada na imprensa na próxima semana, a indústria amazonense se defende. O portal Convergência Digital teve acesso ao teor deste documento. Segue a íntegra do comunicado:

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Conversores para TV Digital (set-top boxes) – Esclarecimentos à sociedade

Ante as reiteradas declarações de autoridades públicas sobre preços do set-top box que possibilitará a recepção dos sinais da TV Digital pelas TVs analógicas existentes nos lares brasileiros, as entidades representativas do Pólo Industrial de Manaus (PIM) prestam os seguintes esclarecimentos:

I – No Pólo Industrial de Manaus – PIM já se produz esse equipamento em larga escala (5.000.000 de unidades/ano), voltado para TV a cabo e TV por satélite, com custo de fabricação em torno de US$ 50, atendendo satisfatoriamente o mercado interno e as exportações. Porém, deve-se salientar que os produtos atualmente fabricados no PIM são destinados a clientes específicos, não são vendidos isoladamente nas lojas, não necessitam de propaganda e marketing, não possuem logística de distribuição, não têm rede nacional de assistência técnica, nem equipe nacional de vendas, nem financiamento ao consumo, etc.

II – Da mesma forma, esses produtos não passam pela rede de varejo e não tem, portanto, em seu preço, um importante elo na cadeia de comercialização. Assim, partindo do custo acima referido, não seria exagerado dizer que o preço final ao consumidor do produto, se fosse tratado como produto típico de consumo (como é caso do conversor digital), estaria situado próximo a US$ 100,00. Esse seria o preço-parâmetro para uma tecnologia consolidada, menos sofisticada e utilizada mundialmente há décadas.

III –  O set-top box, para o televisor com recepção de sinal digital nas tecnologias CRT (tubo de imagem), LCD ou PLASMA, é um equipamento de mesma natureza mas com agregação de tecnologia de última geração desenvolvida especificamente para atender ao mercado brasileiro, em virtude de a opção governamental de ter um padrão nacional sofisticado.

IV –  O sistema de TV Digital terrestre existente no mundo, inclusive o sistema japonês que serviu de base ao adotado no País por indicação dos pesquisadores brasileiros e aceito pelo governo, optou por incorporar avanços tecnológicos que não existiam quando os demais sistemas foram desenvolvidos. Destaca-se, aí, principalmente, a tecnologia de compressão de dados H264 (erroneamente chamada de MPEG4), um avanço técnico expressivo sobre os demais sistemas, inclusive, os de cabo e satélite, que usam o MPEG2 ou sistemas semelhantes existentes há décadas.

V – A robustez de sinal e a mobilidade foram outras características exigidas. O número de canais a serem recebidos também foi aumentado em relação aos outros sistemas, iniciando a recepção ainda na faixa de VHF e aumentando o número de canais em UHF (inicia no canal 7 VHF e vai até o canal 69 UHF).

VI –  Por tal razão, o sintonizador e todo o conjunto de chips para demodulação, decodificação e tratamento de sinal tiveram de ser especificamente desenvolvidos, ou seja, foi preciso desenvolver produtos totalmente novos, com tecnologia pioneira. Além do hardware, todos os softwares específicos para as funções acima também tiveram de ser desenvolvidos. Ressalte-se ainda que esse desenvolvimento foi feito em prazo recorde, enquanto as especificações eram definidas.

VII – Apesar de a estimativa da demanda brasileira ser expressiva (em torno de 80 milhões de unidades), é insignificante se comparada às escalas de produção mundial de tecnologias existentes. Também é necessário lembrar que essa demanda potencial deve se efetivar em longo tempo (mínimo de 10 anos) e seu crescimento no curto e médio prazo ainda não pode ser estimado, pois não há um plano de introdução/divulgado, exceção feita a São Paulo e mais duas ou três capitais.  Logo, é preciso reconhecer que há um preço a pagar pelo pioneirismo que só será minimizado à medida que a escala da demanda nacional for aumentando. Não se trata, pois, de um produto de prateleira que se pode importar de qualquer lugar, a qualquer hora. Ele está sendo desenvolvido exclusivamente para nosso mercado. Além disso, o preço de mercado desses equipamentos não será o mesmo para todos os modelos e variarão de acordo com a diversidade de funções. Obviamente, aqueles com funcionalidades básicas terão preços menores.

VIII – Diferentemente do que dizem certas autoridades governamentais, que atribuem os preços elevados aos fabricantes de TVs. que estariam mais interessados em vender TVs de LCD e plasma já com as novas tecnologias embutidas, vale lembrar que os principais fabricantes de TVs já têm Conversores Digitais no mercado e que a maioria dos fabricantes de set-top boxes no PIM não são fabricantes de TVs. Esse ambiente de alta competitividade por certo vai induzir imediato repasse ao consumidor de qualquer possível redução nos custos. Assim, a despeito do que têm declarado essas autoridades governamentais sobre os preços que o mercado deveria praticar, chegando a recomendar que não sejam comprados os conversores neste momento, só com o crescimento da demanda é que os preços poderão e serão reduzidos. É a lei do mercado.

IX – Por fim, é oportuno e responsável que se esclareça às autoridades e à população que a opção por tecnologias modernas implica necessariamente custos mais elevados que as tecnologias consolidadas. Há um preço a ser pago quando o governo optou por uma tecnologia inovadora.

Manaus, 6 dezembro de 2007

Assinam a nota Oficial:

Antônio Silva – Presidente da FIEAM – Federação das Indústrias do Estado do Amazonas,

Maurício Loureiro – Presidente do CIEAM – Centro da Indústria do Estado do Amazonas

Lourival Kiçula – Presidente da ELETROS – Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos

Wilson Périco – Presidente do SINAEES – Sindicato da Indústria de Produtos Elétricos, Eletrônicos e Similares de Manaus

Ulisses Tapajós – Presidente SIMPLAST – Sindicato das Indústrias de Material Plástico de Manaus

Valdemir Santana – Presidente da CUT – Central Única dos Trabalhadores no Amazonas

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