TV Digital, começa o segundo tempo!

Neste domingo, 02 dezembro de 2007, o Presidente Lula lançou, oficialmente e na prática, o Brasil na era da TV Digital. Resultado de um árduo desafio iniciado com o Decreto 4.901 de 26 de novembro de 2003 que instituiu o Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), esse fato pode ser visto como um 4×3 de um primeiro tempo, a nosso favor. Poderia ter sido um 4×0? Talvez sim, mas o que importa mesmo é que o “time está em campo” num jogo que quase perdíamos por W.O. Afinal, setembro de 2004, o setembro negro da TV Digital, foi o auge de uma “peleja” só conhecida nos bastidores, quando lobbies internacionais e outros interesses contrariados com a ousadia nacional tentaram, sem sucesso, passar à sociedade a nociva idéia de que o SBTVD estava “reinventando a roda”. Segundo os algozes digitais de plantão à época, éramos técnica e politicamente incompetentes e estávamos “enrolando” o povo brasileiro. 

Não faltaram frases de efeito, estrategicamente encomendadas, tais como “estamos repetindo o erro do PAL-M”, ou ainda, “como o Brasil quer competir com apenas R$ 50 milhões (recursos previstos para o SBTVD) quando concorrentes internacionais aplicavam U$ bilhões?”. Naturalmente que essas viciadas retóricas quando não pecavam por de falta de contexto ou de conceito, pecavam por inverdades. O inoportuno artigo assinado pelo jornalista Celso Ming neste período, “TV de Policarpo Quaresma”, retrata a desleal disputa Golias multicor X um David verde amarelo.

Foi difícil “entrarmos em campo” nesta batalha digital, o que só viria a acontecer em meados de 2005, quando organizamos no Ministério das Comunicações uma mostra da competência brasileira na área, implementada por nossos 1500 cientistas e  técnicos envolvidos no SBTVD. 

Muito embora o 4×3 se traduza numa TV Digital que traz para poucos os benefícios da boa qualidade da imagem, ela tem alma brasileira, pois o software é nosso. Começaremos 2008 na expectativa de um placar mais elástico no segundo tempo, apostando na prometida interatividade, característica principal do modelo brasileiro, baseado em plataforma japonesa. Esta interatividade, que permitirá o acesso a diversos serviços digitais (educação a distância, tele-saúde, etc)  em especial o acesso à Internet, o que, em acontecendo, se traduziria numa efetiva revolução de inclusão digital do povo brasileiro, facilmente compreensível se considerarmos que mais de 95% dos lares brasileiros possui um aparelho de TV.

Por fim, há de se referenciar indispensáveis atores do período de preparação do jogo: Luiz Fernando (Puc-Rio), Guido Lemos (UFPB), Marcelo Zuffo (USP), Fernando Carvalho (UFC), “craques” sem os quais não teríamos nos classificado para as “oitavas de final”. Ricardo Benetton (CPQd), Augusto Gadelha (MCT), André Barbosa (Casa Civil) e Plínio Aguiar (Anatel), técnicos desta seleção que, dentre outros, nos ajudaram a enfrentar revezes e manter vivo o sonho de uma TV Digital Tupiniquim mais condizente com o Brasil de Gilberto Freire, Oscar Niemayer, César Lattes do que com a saga do Major Quaresma de Lima Barreto.

* Mauro Oliveira, Secretário Adjunto de C&T do Ceará, foi Secretário de Telecomunicações do Minicom 2004/2005.

* Tarcisio Pequeno, Presidente da FUNCAP, foi Secretário Regional da SBPC.

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