Retransmissoras e afiliadas da vice-líder migram para a Record

Quem telefona para a Rede Record de Televisão, invariavelmente ouve do outro lado da linha a seguinte mensagem: 'Rede Record, a caminho da liderança'. Não é bem assim. Até chegar aos calcanhares da TV Globo, atual líder de audiência, a Record tem que primeiro desbancar o SBT, a emissora de Silvio Santos, e depois, segundo o Ibope, trilhar um bom caminho pela frente.

Silvio Santos, por sua vez, tem de se preocupar também com a manutenção de sua rede de retransmissoras, sobre as quais a Record avança com apetite voraz.

Segundo uma fonte do mercado publicitário, o que mais tem contribuído para que as afiliadas troquem Silvio Santos por Edir Macedo são as já folclóricas mudanças que o apresentador faz na grade de programação de sua emissora. 'O fato dele não respeitar a grade de programação, com mudanças constantes no horário e até no dia dos programas não desagrada apenas os anunciantes. Cria problemas também para a rede de emissoras afiliadas, que retransmitem o sinal do SBT por todo o país. Além de perder audiência, as retransmissoras vendem publicidade local e não cumprem o contrato porque o programa não é exibido no dia e na hora vendida', diz o publicitário.

Segundo esta fonte, a emissora do bispo Edir Macedo tem feito um trabalho ágil para conquistar retransmissoras do SBT. O exemplo mais recente vem do Sul. Há duas semanas, a Rede Santa Catarina de Comunicação trocou a exibição do SBT pela programação da Record, encerrando uma parceria de 18 anos. E vem mais por aí. Nos corredores da Record os comentários dão conta de mais uma baixa, ou melhor três, desta vez de retransmissoras do Nordeste do país que também se preparam para trocar o programa humorístico Chaves, do SBT, por Milton Neves, que fala de esportes na Record.

As investidas da Record sobre as retransmissoras do SBT começaram em 1998 com a TV Cidade, de Fortaleza, e a TV Itapoan, de Salvador. Em 2003, a Record assinou contrato com a TV Pampa, para retransmitir sua programação para as cidades de Carazinho, Pelotas e Santa Maria – a de Porto Alegre já era afiliada da Record. Mas foi em 2006 que a Record intensificou sua investida. Em junho de 2006 assinou contrato com a TV Pajuçara, de Maceió, e com a TV Atalaia, de Aracaju. Em setembro deste ano fechou contrato também com A Crítica, de Manaus. Hoje, segundo a própria emissora, a Record tem 101 afiliadas e o SBT, de acordo com o site da emissora, 105.

Mudar a grade de programação é uma estratégia há muito utilizada pelo empresário Silvio Santos e, além da rede de retransmissoras causa problemas também para o mercado publicitário. No início deste ano uma agência de publicidade conseguiu convencer seu cliente a trocar os anúncios na Globo pelo patrocínio de um novo programa na emissora de Silvio Santos. 'Com o mesmo dinheiro na Globo seriam quatro semanas de exibição, contra quatro meses no SBT', lembra o publicitário. Depois de gastar tempo e saliva, convenceu o anunciante.

'Aí o pessoal do SBT me ligou dizendo que a estréia do programa seria adiada. Quase morri de vergonha perante o cliente. Quando o programa finalmente ia estrear, me ligaram dizendo que haveria novo adiamento. Eu não tinha mais o que fazer e pedi para cancelar nossa participação', relembra o publicitário. Segundo ele, o pânico instalou-se no departamento comercial da emissora de Silvio Santos e o programa estreou na segunda data prevista.

O SBT já nasceu na vice liderança e passou muito tempo sem nenhuma ameça a esta posição. Quando algum programa da concorrência avançava alguns pontos em audiência, o empresário contratava a principal estrela da atração. Foi assim com Ratinho (o apresentador Carlos Massa, que em 1998 trocou a Record pelo SBT). Foi assim com a apresentadora Adriane Galisteu, que trocou a Record pelo SBT em 2004. Ambos já passaram pelo dissabor de verem seus programas noturnos sendo exibidos à tarde por ordem de Silvio Santos.

O caso mais problemático é exatamente o de Adriane, que vem reclamando publicamente das inúmeras mudanças no horário de exibição de seu programa Charme. 'Já tentei falar pessoalmente, mas não tem jeito. O homem é dono do SBT, é teimoso e é do jeito que ele quer e acabou', disse Adriane, em entrevista a um programa de televisão em emissora concorrente. 'Hoje, com todo esse desgaste público, que artista ou jornalista trocaria sua emissora para trabalhar com Silvio Santos?' questiona um publicitário. Diz que depois de recentes mudanças no departamento comercial da emissora, as visitas de contatos publicitários do SBT escassearam. 'A impressão que se tem é que não sabembem para onde ir. Silvio Santos acredita que apresentar seus programas aos domingos, ou fazer experiência com o horário da programação, é suficiente para enfrentar a concorrência. Com o atual modelo de gestão, temo pelo futuro do SBT', diz o publicitário.

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