Abert quer novos testes com IBOC e tenta defender padrão

A Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) está convidando a Universidade Mackenzie para realizar testes independentes do padrão de rádio digital In Band on Channel (Iboc) durante os próximos dois meses, para dar maior credibilidade e comprovar a eficácia dessa tecnologia. A informação foi dada com exclusividade a esta coluna pelo presidente da entidade, Daniel Pimentel Slaviero. Até aqui os testes têm sido feitos apenas por uma dúzia de emissoras de AM, FM e ondas curtas, sem critérios homogêneos.

A Abert defende convictamente o padrão Iboc. Falando ao Estado, Daniel Slaviero responde a cada um dos problemas evidenciados nos testes ou apontados pelos críticos do padrão norte-americano, criado pela empresa Ibiquity. Eis, a seguir, uma síntese de sua defesa:

• O atraso de 8 segundos do sinal digital em relação ao analógico será progressivamente reduzido com o avanço tecnológico. Mas nunca será eliminado.

• A interferência do sinal digital em AM nas demais emissoras, especialmente à noite, já está sendo resolvida, com alguns recursos tecnológicos e com a redução da potência nos horários noturnos, como ocorre com as transmissões analógicas.

• Em sua opinião, a evolução tecnológica permitirá o desenvolvimento de receptores portáteis, hoje inviáveis por conta do excessivo consumo das baterias.

• A dificuldade de produção de receptores digitais a preços acessíveis pela indústria brasileira será resolvida pelo aumento da escala de produção, por incentivos e políticas especiais e pela própria evolução tecnológica.

• Com a adoção do padrão Iboc, a maioria das emissoras brasileiras irá, progressivamente, superando as dificuldades financeiras decorrentes do investimento em novos transmissores e estúdios, hoje variáveis de R$ 35 mil a R$ 140 mil, conforme a potência das rádios. É claro que as maiores emissoras começarão o processo em primeiro lugar, estimulando as demais a seguir o rumo do salto tecnológico.

Em síntese, Slaviero acredita que “todos os problemas surgidos nos testes de rádio digital ou apontados pelos técnicos já foram ou serão eliminados a curto ou médio prazo com a evolução da tecnologia”. A única limitação que, em sua avaliação, ainda deverá persistir, embora em menor grau, será o atraso de quase 8 segundos, entre o processamento do sinal digital e o analógico.

Por que não esperar que esses problemas sejam totalmente eliminados? “Porque temos urgência na adoção do padrão digital e não podemos esperar pela solução de pequenos e eventuais problemas que ainda existem” – explica Slaviero. Para a Abert, a questão é de sobrevivência do modelo de negócios do rádio brasileiro. “A digitalização – diz seu presidente – é a única solução inovadora capaz de elevar a qualidade e o alcance das transmissões de rádio e oferecer novas opções ao modelo de negócio das emissoras, diante dos desafios da convergência tecnológica e da entrada no mercado de competidores tão fortes quanto as empresas de telefonia”.

Slaviero acha que a situação do padrão Iboc nos Estados Unidos não é negativa. Pelo contrário, considera animador o fato de 12% das 15 mil emissoras norte-americanas já terem aderido à tecnologia digital, desde sua introdução em 2002. Embora a decisão do órgão regulador das comunicações dos Estados Unidos, a Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês), em favor do Iboc tenha sido adotada de 2002, “a introdução do padrão digital – diz Slaviero – só começou, a rigor, há dois anos.”

Por todas essas razões, a realização de testes pela Universidade Mackenzie, sob a responsabilidade do professor Gunnar Bedicks Jr. “deverá eliminar todas as dúvidas sobre a qualidade do padrão Iboc” – aposta Daniel Slaviero. A própria Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) poderá acompanhar e homologar esses testes.

A Abert acha também que as eventuais divergências ou diferenças de opinião entre a Casa Civil e o Ministério das Comunicações sobre o padrão Iboc de rádio digital são menores do que sugerem as notícias divulgadas nas duas últimas semanas. Por isso defende a decisão governamental em favor do padrão digital logo após os testes a serem realizados pela Universidade Mackenzie, sem ter que aguardar as conclusões de uma possível delegação brasileira aos Estados Unidos, como sugeriu André Barbosa Filho, assessor da ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil.

Vale lembrar que, depois de ter participado de audiência pública no Senado, dia 16 de outubro, Barbosa Filho, revelou sua preocupação com as possíveis conseqüências da adoção de um padrão de rádio digital no estágio que demonstram os testes feitos pelas emissoras.

Segundo o assessor, o ministro das Comunicações Hélio Costa está ciente das preocupações da Casa Civil e poderá aceitar a sugestão de uma delegação brasileira que visite os Estados Unidos, com o objetivo de ouvir representantes da FCC, das emissoras de rádio e das universidades. “A Casa Civil está preocupada em não tomar uma decisão de afogadilho", frisou.

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