Prefeito de São Paulo quer Windows em telecentros municipais

Há polêmica à solta nos telecentros de São Paulo. Sem muito alarde, há duas semanas, a Prefeitura e a Microsoft assinaram um protocolo de intenções que prevê a instalação do sistema operacional Windows Vista nos PCs dos 178 atuais pontos municipais de acesso à internet, além dos 122 que devem ser inaugurados até 2008. Até agora, os micros só usavam programas de código aberto, que não exigem o pagamento de licenças.

Pelo acordo, confirmado ao Link pela Prefeitura e pela Microsoft, o Windows Vista seria doado aos telecentros, sem custos. Entretanto, o município arcaria com a atualização dos equipamentos, já que o Vista exige PCs com configuração mais 'robusta'. Segundo estimativa do Link com dados da Prefeitura, seria preciso um investimento de R$ 717,5 mil, o mesmo que serviria para a compra de micros e servidores para 35 telecentros.

A polêmica começa aí. Segundo o sociólogo Sérgio Amadeu, responsável pela implementação dos telecentros na cidade, na gestão Marta Suplicy (PT), e um dos críticos do projeto, o valor seria melhor investido se colocado na ampliação dos telecentros ou na melhoria do serviço.

'Estão mexendo numa conquista, a independência, pois não é preciso pagar pelo software. No futuro, quando o Vista ficar obsoleto, o governo poderá ter de pagar pela atualização do Windows e, de novo, dos equipamentos', diz ele. 'Seria melhor gastar com treinamento de instrutores, para desenvolver atividades educativas.'

A principal justificativa da Prefeitura para o projeto é a inclusão de deficientes visuais. Segundo o coordenador de Inclusão Digital do município, Waldemar Ferreira Neto, os deficientes não se acostumam ao Linux. 'Não há softwares livres bons para eles.' Outro motivo, diz, é que, com o Linux, os jovens não se preparam para o mercado de trabalho. 'As empresas usam Windows. Vamos dar cursos.'

Segundo o coordenador da Prefeitura, o software livre não será abandonado. 'Vamos permitir ao usuário escolher se quer o Windows ou o Linux.' A Microsoft faz coro com a Prefeitura. 'Temos experiência na área de deficiência. E ter contato com os programas da Microsoft é importante para conseguir um emprego', diz o diretor de Investimentos Sociais da empresa, Rodolfo Fucher.

O acordo, segundo a Microsoft, prevê também a doação de licenças do pacote Office. Para a Prefeitura, entretanto, isso não está claro. 'O termo não diz isso explicitamente. Mas, se não for doado, cancelamos o projeto', diz Ferreira Neto.

Para poderem rodar o Vista, 60% dos servidores – que permitem aos 20 PCs de cadacentro funcionar – precisarão ser trocados por um modelo com 2 gigabytes (GB) de memória RAM. Hoje, a maioria tem 1 GB. O custo para o município: R$ 267,5 mil. Também será instalado um micro com Vista e com softwares para deficientes visuais em cada telecentro. O custo: R$ 450 mil. 'A verba jáestá prevista para 2008', diz Ferreira Neto.

Para Amadeu, as alegações da Prefeitura e da Microsoft não fazem sentido. 'A Prefeitura poderia contactar a comunidade de software livre para fazer programas para deficientes. Assim, poderia disponibilizá-los não em apenas um, mas em todos os micros de cada telecentro.'

Ele também não vê sentido nos cursos de Windows. 'Com o Windows, você é treinado a usar um só tipo de software. Com os programas livres, há contato com vários softwares e aprende-se a 'aprender' qualquer outro', diz. 'Além disso, o Vista é mais suscetível a vírus e, por ser mais pesado, deixará a rede lenta.' A Microsoft diz ter desenvolvido uma solução para proteger os micros de vírus.

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