Laptop diminui faltas de alunos e motiva professores

Iniciado há cinco meses, o Programa Um Computador por Aluno (UCA) conseguiu aumentar a freqüência dos estudantes às aulas e animar os educadores da Escola Estadual Luciana de Abreu, em Porto Alegre. “O computador envolve o aluno com o aprendizado, algo que o sistema tradicional não conseguia mais”, diz a vice-diretora Ruth Elaine Umgelter.

A escola é uma das cinco escolhidas pelo Ministério da Educação (MEC) para receber os laptops do programa piloto lançado pelo governo federal no início do ano. O projeto foi apresentado ao governo brasileiro em 2005 pelo pesquisador do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, Nicholas Negroponte, e despertou o interesse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em março, a escola começou a receber as 400 unidades do modelo XO doados pela ONG One Laptop per Child (OLPC), fundada pelo próprio pesquisador. O potencial de aprendizagem com as máquinas está sendo testado para que o governo possa decidir se a iniciativa deve ser ou não ampliada para todos os alunos do País.

Muitos dos alunos da escola de Porto Alegre não conheciam o mundo digital ou só haviam tido contato com computadores na casa de amigos ou em lan-houses. Segundo Ruth, os professores da escola estão mais estimulados por ver as crianças cada vez mais interessadas em participar das atividades escolares do que em ceder às tentações da rua, comos drogas e a marginalização.

Na nova metodologia educacional, o aluno propõe o tema a ser estudado e expõe numa página pessoal, acessível aos professores e colegas, o que sabe, o que quer saber e o que descobre em suas pesquisas. “O estudante estabelece o tema e nós corremos para adequar o conteúdo”, conta Ruth, referindo-se ao trabalho dos professores, que costumavam expor as lições e agora são obrigados a adaptá-las ao assunto estabelecido pelo aluno.

Como exemplo, a educadora cita o tema “borboletas”, a partir do qual os professores terão de passar noções de matemática, ciências, geografia, história e português, entre outras disciplinas da 4ª série. A avaliação é feita tanto pela leitura da página do aluno quanto por provas.

“Descobri que o laptop não serve só para brincar”, revela Tassiane Maciel da Rosa, de 10 anos, enquanto procura informações sobre a dengue e prevenção da doença na internet para abastecer um de seus projetos escolares.

O garoto Cristian Dias da Silva, de 10 anos, optou por pesquisar o corpo humano e tornou sua página uma das mais visitadas da escola. “Ficou mais interessante vir para a aula”, diz, ao lado de Nathália de Oliveira Casilene, da mesma idade, preocupada em salvar fotos de civilizações antigas.

O programa entregou a cada um dos 375 alunos da Luciana de Abreu um laptop do tamanho de um livro, peso de 1,5 quilo e memória de 512 MB. O equipamento pode ser levado para casa, mas é na sala de aula, onde há acesso sem fio à internet, que é mais usado e provocou uma revolução.

Iolanda Dias Perachi, de 11 anos, buscou informações sobre as estrelas. Avançou na astronomia, mas também na matemática, para comparar tamanhos, e na história, para saber que os navegadores de antigamente se orientavam pelo Cruzeiro do Sul.

Luiz Felipe Teixeira, de 10 anos, fez do tema “pedras” o caminho para a descoberta do valor econômico dos minerais, das atividades dos garimpeiros, de guerras e invasões ao longo da História, do uso de adornos por diferentes culturas. “Na internet ficou mais interessante. Na biblioteca era mais difícil, às vezes não tinha o livro.”

‘PROFESSORA DELETADA’

A professora Ivone Teresinha Luciano de Antoni brinca que se sentiu “deletada” quanto teve de mudar o método de ensino. Passado o susto, ela descobriu-se incluída numa rede de solidariedade, na qual, às vezes, assume o papel de buscar uma informação que não existe na hora, para trazê-la na aula seguinte e não deixar o aluno sem resposta. “Percebo que todos são autônomos para procurar soluções, mas também fraternos para compartilhar resultados.”

Ao analisar as mudanças, o coordenador de tecnologia do piloto de Porto Alegre do UCA, Juliano Bittencourt, diz que a perspectiva mudou. “Os professores dizem que antes o foco era mostrar o que o aluno não sabe, agora é partir do que ele sabe para conhecer mais”, afirma.

Além da Luciana de Abreu, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Ernani Silva Bruno, de São Paulo, também foi pioneira do UCA. Desde março, está equipada com o mesmo modelo XO. A implantação causou polêmica na escola paulistana, principalmente porque começou sem a autorização oficial da Prefeitura da capital. Até junho, os computadores estavam na escola, mas as crianças não podiam usá-los. Recentemente, o problema foi resolvido e o projeto está sendo tocado com os cerca de 200 computadores.

Outras escolas que participam do programa piloto no País são o Ciep Professora Rosa Conceição Guedes, de Piraí (RJ), o Colégio Estadual Dom Alano Marie Du Noday, de Palmas (TO), que ganharam o modelo Classmate, da Intel. O Centro de Ensino Fundamental Número Um do Planalto, em Brasília, recebeu equipamentos Mobilis, da Encore.

Os fabricantes prometem entregar os computadores a custos próximos de US$ 100 cada se as encomendas forem volumosas. Esse era o preço inicial estimado pelo MIT quando apresentou o projeto dos laptops.

O diretor de políticas de educação a distância do Ministério da Educação, Hélio Chaves Filho, diz que o UCA prevê a compra e distribuição, pelo governo, de 150 mil laptops a estudantes e professores de 300 escolas públicas entre 2008 e 2010, depois da avaliação do desempenho do equipamento e dos resultados educacionais dos pilotos. Ele adverte, no entanto, que ainda é cedo para falar em vantagens e desvantagens do sistema. Cada escola de ensino fundamental é assistida por uma universidade da região, encarregada de produzir o relatório que servirá de subsídio para o governo federal definir o formato do programa, no fim do ano.

Até lá os pesquisadores do Laboratório de Estudos Cognitivos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) vão avaliar o aprendizado, quantificar a freqüência às aulas e observar os cuidados com o equipamento, entre outros itens que vão compor o relatório. “Se pudesse, eu recomendaria que todas as escolas adotassem”, diz a vice-diretora.

Active Image O Estado de São Paulo.

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