Sem nova freqüência da UIT, digitalização de rádio em ondas curtas corre risco

A digitalização da radiodifusão com tecnologia francesa DRM, anunciada pelo ministro Hélio Costa como a mais indicada para as transmissões em Onda Curta (OC) no Brasil, pode ter futuro comprometido ou sofrer grande atraso se a União Internacional de Telecomunicações (UIT) não aprovar a destinação de mais radiofreqüência, para permitir a fase de transição denominada simulcast (transmissão simultânea de sinais digitais e analógicos). A decisão da UIT é aguardada para a Conferência de Radiocomunicação Mundial, que se realizará entre novembro e dezembro. O encontro acontece a cada quatro anos.

As 700 horas de testes já realizado pela DRM não foram feitos em simulcast e, apesar dos fabricantes assegurarem que podem fazê-lo, nunca comprovaram a possibilidade de transmissão simultânea. Os experimentos realizados pela DRM, em 2006, no Brasil, pela Radiobrás e a Universidade de Brasilia (UnB), só foram feitos com transmissão de sinal digital. Relatório da UIT, datado de maio, a que o Telecom Online teve acesso, afirma também que os testes com DRM na Itália só puderam ser feitos após o desligamento do sinal analógico, por falta de banda para transmissão simultânea do sinal digtal. 

Consultada, a Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert), afirmou que ainda espera da DRM um teste definitivo que comprove a possibilidade de simulcast.  "Até agora, eles não  comprovaram a  viabilidade  do simulcast", afirma Ronald Barbosa, da entidade. A destinação de nova faixa, pela UIT, é um pleito dos países europeus, onde a tecnologia DRM foi desenvolvida e é preferida. É possível que, como anunciado pela Voz da América, nos Estados Unidos , haja uma decisão de iniciar a trasmissão direta do sinal digital,  com interrupção total do analógico. Isso será feito em dois anos.

Para que as transmissões digitais decolem sem o sinal analógico seria necessário garantir o acesso do usuário ao aparelho digital, o que não acontece no Brasil. Sem uma faixa para a tecnologia DRM não haverá como dar ao usuário a garantia de que vai poder continuar ouvindo as transmissões analógicas, na faixa atual. Com o agravante de que inexiste venda comercial de aparelhos digitais para recepção de rádio no Brasil. Isso significará a ausência  total de transmissões em ondas curtas – o que poderá prejudicar o desenvolvimento da digitalização no País.

Os aparelhos analógicos – que já não são fabricados no País há cerca de dez anos, mas que ainda podem ser comprados no exterior -, sequer reconhecem as transmissões digitais. O Brasil vive, portanto, a possibilidade de sofrer um corte abrupto dos sinais em ondas curtas caso a UIT não aprove o pedido europeu e as transmissões digitais DRM simplesmente sobreponham-se às analógicas, sem transição.

simulcast é uma estratégia que permite um período de passagem entre o fim de uma tecnologia e a nova, permitindo a sobrevivência do negócio durante o prazo de convivência dos dois sinais até que o usuário tenha trocado o aparelho. Ou seja, não há descontinuidade da prestação do serviço. O desligamento do sinal analógico pode atropelar o processo de adaptação, pois afetará o financiamento das emissoras comerciais que invistirem na conversão tecnológica. Sem ouvinte, não ha anúncio; sem anúncio, não há rádio comercial digitalizada que sobreviva. Quase todas as grandes emissoras brasileiras fazem transmissão em ondas curtas

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