Jornalistas brasileiros atualizam seu Código de Ética

O Código de Ética dos Jornalistas do Brasil ganhou novos dispositivos compatíveis com os novos tempos tecnológicos, através de emendas aprovadas durante o Congresso Extraordinário realizado em Vitória nos dias 3, 4 e 5 últimos – ocasião em que foi dada posse a nova diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas, presidida pelo jornalista Sérgio Murilo.

As propostas aprovadas pelos 150 delegados presentes foram antes submetidas a um intenso debate, que teve como ponto de partida uma concorrida palestra feita por Javier Dario Restrepo, especialista em ética, ganhador do Prêmio Latino-americano de Ética Jornalística outorgado pelo Contro Latino-americano de Periodismo e Universidade Internacional da Flérica, em 1997. Javier é autor de vários livros e fundador da Comissión de Ética Del Circulo de Periodismo de Bogotá.

A antiga versão do código, em vigor desde de 1987, não contemplava temas como manipulação de imagens digitais, câmera oculta e assédio sexual e moral nas redações. Pelas novas regras, fica proibido divulgar informações com uso de identidade falsa e câmeras escondidas. "As exceções só valem em casos de interesse público e quando se esgotarem todas as formas de apuração tradicional", explica Aziz Filho, delegado eleito pelo Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro. O código também sugere que se evite a edição de imagem digital através de Photoshop. Se isso ocorrer, pede-se que a imagem venha acompanhado de um selo, ou crédito, avisando o leitor que a imagem foi manipulada. Terminada a plenária final do Congresso, quando foi assinada a "Carta de Vitória".

O jornalista goiano Luiz Spada, presidente do Conselho de Ética da entidade, foi o principal mentor do novo Código, submetido a aprovação dos delegados neste fim de semana. Ele explicou algumas mudanças importantes que nortearam os debates em Vitória: "O nosso código é muito bom, mas precisava se adaptar aos novos tempos. É preciso respeitar a privacidade das pessoas e acabar com o uso indiscriminado de câmera oculta na apuração de reportagens. As pessoas tem o direito de saber que estão sendo entrevistadas. Não precisa forçar a barra para fazer jornalismo. Outro ponto que queremos debater é a prática da manipulação digital de imagens, algo que ficou banalizado com o advento do Photoshop".

O conceito de assédio seja ele moral ou sexual, esteve em debate. "Essa é uma questão relativamente nova. Esse debate já existia antes, só que a cultura das redações era outra. As pessoas despertaram para isso. O mundo do trabalho mudou", diz Spada.

Um tema espinhoso levantou polêmica no evento da Fenaj: o limite entre o assessor de imprensa e o jornalista da redação. Em muitos países, como Portugal, por exemplo, o jornalista que começa a trabalhar como assessor de imprensa deve se desligar do sindicato dos jornalistas. Já no Brasil, as duas atividades são compatíveis. Tanto que os assessores de imprensa também são representados pela FENAJ. Mais que isso. Praticamente não existem restrições para assessores de imprensa que trabalham também em redações. "O assessor de imprensa não pode trabalhar como repórter na área que ele atende. Por exemplo: se o jornalista for assessor do Vasco da Gama não pode cobrir esporte", explica Spada.

Apesar do esforço da Fenaj para criar novos parâmetros éticos para o jornalismo, o novo código não tem o poder de cassar diplomas, como acontece com a medicina ou o direito. "As penas são de efeito moral. Nos casos mais graves, o máximo que podemos fazer é expulsar o jornalista dos quadros do sindicato", observou Spada.

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