Documentaristas de Roraima criam associação motivados pelo DOC TV

A primeira associação de documentaristas de Roraima foi criada, segundo o jornalista Thiago Chaves Briglia, após a participação do estado no programa DOC TV. Briglia é o diretor de Monte Roraima – Magia e Aventura na Terra de Makunaima, exibido pela rede pública de TV.

“O DOC, além de mexer com a hegemonia do eixo Rio-São Paulo, veio para estimular reflexões sobre a produção audiovisual em Roraima, que ainda é muito independente, restrita ao local”, pontua. Roraima concorreu com dois documentários; de São Paulo foram inscritos 159 trabalhos.

Segundo Briglia, as produtoras do estado ainda carecem de infra-estrutura, problema que se refletiu no seu documentário. “Não conseguimos utilizar os melhores equipamentos possíveis, porque as produtoras precisam se equipar melhor.”

A falta de equipamento, entretanto, não prejudicou a concepção de Monte Roraima – Magia e Aventura na Terra de Makunaima, que, inicialmente, conta a história do mito indígena então popularizado em Macunaíma de Mário de Andrade.

Na língua dos índios macuxi, o documentário inicia o longo percurso ancestral que envolve o mito do Makunaima e a formação do Monte Roraima – com cerca de 2 bilhões de anos e na fronteira do Brasil com a Venezuela e a Guiana Francesa. Para os macuxi, Makunaima é filho de uma rara noite de encontro do sol e da lua. Da luz do eclipse, refletida nas águas do grande e misterioso lago, nasce o deus Makunaima. Essa é uma das perspectivas do documentário, que também recolheu depoimentos dos índios ingarikó e taurepang.

“O mito tem várias versões e está vivo nas manifestações indígenas”, comenta Briglia. No vídeo, uma das passagens mais bem retratadas é o timbó, ritual da pesca dos Ingarikó. Eles extraem raízes de árvores, que são molhadas nas águas dos rios e servidas como isca aos peixes. Esse bagaço amortece os animais, que são alvos fáceis da pesca. Os Ingarikó acreditam que o ensinamento foi deixado por Makunaima.

“Para algumas etnias, ele foi Deus e para outras um guerreiro, mais próximo da representação humana.” Nesse sentido, surgem as contradições de Makunaima. Esse antepassado deixa rastros de sua malandragem em algumas culturas e alimenta brincadeiras nas aldeias. Alguns indígenas atribuem a capacidade de invencionice à influência de Makunaima. E declaram: “quase um doido”. Não é à toa que Mario de Andrade se inspirou nas contradições desse indígena lendário e ampliou a sagacidade da preguiça desse índio à principal característica do mito literário.

O documentário de Briglia traz, inclusive, registros históricos do etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg, quando esteve entre os índios taurepang (pemón para os venezuelanos) e Arekuna, em 1911. Mário de Andrade teve contato com obra do alemão, Vom Roroima Zum Orinoco, e assim orientou parte da pesquisa de Macunaíma. A idéia de Briglia foi situar Macunaíma de Mario de Andrade como uma das histórias, e não a principal sobre Makunaima. O documentário não se restringe à apresentação e à discussão do mito.

O mito é parte da narrativa do Monte Roraima, e, por isso, o documentário traz depoimentos de guias e de turistas sobre a natureza e a beleza da região. “Acho que o turismo precisa dessa fundamentação da cultura, no caso, a história oral dos indígenas”, explica Briglia. Contudo, a leitura turística, que finaliza o vídeo, quebra o ritmo do documentário e expõe o indígena como parte do exotismo da região.

 

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