YouTube volta, mas sem vídeo de Cicarelli

Durou apenas três dias o bloqueio ao site de vídeos YouTube, o mais acessado no mundo todo. No início da tarde de ontem, o desembargador Ênio Santarelli Zuliani, do Tribunal de Justiça de São Paulo, mandou que as operadoras telefônicas desbloqueassem o acesso ao site até que o mérito da questão seja analisado por três desembargadores. O pedido de bloqueio foi feito por advogados da modelo e apresentadora Daniela Cicarelli e do namorado, Tato Malzoni, flagrados fazendo sexo numa praia da Espanha. Desde que foi concedida a primeira decisão judicial, houve uma confusão em torno do despacho. Segundoo TJ, inicialmente era para bloquear o vídeo com imagens picantes da modelo. No entanto, por um erro de interpretação do juiz Lincon Antônio Andrade de Moura, que redigiu o ofício encaminhado às operadoras, constava no documento a ordem de bloquear o site. Com o novo despacho, determinado o desbloqueio, a Brasil Telecom e Telefónica, que juntas atendem mais de 50% dos usuários brasileiros, liberaram o acesso ao YouTube ontem no início da tarde. As demais empresas, como a Telemar e Vésper, ainda nem haviam efetuado o bloqueio.

A trapalhada do juiz despertou a ira de internautas (leiaabaixo). Apesar da liberação, o novo despacho do desembargador deixa claro que pode haver novo bloqueio. 'Não está excluída a imposição de medidas drásticas, como bloqueio preventivo, de trinta dias ou mais, até que o YouTube providencie a instalação de software com poder para moderar asimagens cuja divulgação foi proibida', diz nota de Zuliani. Mas o controle de sites como o YouTube, em que os internautas postam cerca de 35 mil vídeos por dia, é muito difícil.

Segundo o advogado Renato Opice Blum, especialista em direito na internet, seria mais fácil banir o portal inteiropor conta das restrições técnicas. As empresas terão de informar à Justiça eventuais dificuldades para restringir o vídeo. Sistema de busca A dificuldade de fiscalização, sobretudo no YouTube, que é um site interativo, ocorre porque o vídeo de Cicarelli pode ser inserido na página com osmais variados termos, que não mencionem o nome da modelo ou o local em que foram gravadas as cenas picantes.

Esse artifício vem sendo usado para driblar os filtros, que buscam palavras-chaves para barrar o acesso ao conteúdo. Nas lan houses (estabelecimentos que permitem acesso público à internet) de Brasília, o banimento do YouTube causou indignação e prejuízo. Numa loja que funciona no Pátio Brasil, nos três dias em que o site de vídeo não pôde ser acessado, os internautas desapareceram. 'Muita gente entrava, acessava o computador e saía imediatamente', conta o proprietárioda casa, Felipe Porto. Ele tem duas lan houses com 26 computadores. 'Muita gente ainda reclamou comigo achando que a lan tem alguma coisa a ver com isso', conta Porto.

Em um cybercafé do Sudoeste, os internautas perguntavam se era possível o acesso ao YouTube antes de entrar. Para explicar aos internautas o que estava acontecendo com o portal de vídeos, a dona do estabelecimento, Iáscara Souto, afixou recortes de jornais para os usuários lerem. Para o advogado Pedro Morais, da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a decisão judicial caracteriza censura prévia porqueo bloqueio impediu acesso dos internautas a informações públicas. 'No YouTube não há só vídeos picantes', diz. Ele afirma que Cicarelli tem todo o direito de pedir que seu vídeo seja retirado do ar. 'Mas bloquear o site caracteriza arbitrariedade', atesta.

 

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