No último final de semana de outubro, nos dias 26 e 27, movimentos feministas e de mulheres encontraram-se em São Paulo na “Reunião de Mulheres pela Liberdade de Expressão e Por Mecanismos Democráticos da Regulação dos Meios de Comunicação” para organizar e fortalecer a atuação na Campanha “Para Expressar a Liberdade”, lançada em agosto pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e diversas organizações da sociedade civil. A atividade foi realizada pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com o Coletivo Intervozes, Geledés e SOS Corpo.
De acordo com a integrante do Coletivo Intervozes Iara Moura as discussões foram fruto de um acúmulo anterior, pois os movimentos feministas e de mulheres já haviam realizado dois momentos parecidos com este em anos anteriores, dos quais saíram documentos e resoluções importantes para a luta pelo direito à comunicação no Brasil. “Partindo desse acúmulo, do histórico que foi apresentado inicialmente pela companheira Bia Barbosa (Intervozes) e pela apresentação da campanha pela Rosane Bertotti (coordenadora geral do FNDC) e Renata Mieli (secretaria executiva do FNDC), elaboramos estratégias para que as mulheres colaborem efetivamente com a campanha Para Expressar a Liberdade”, explica Iara.
Ela conta ainda que, como encaminhamentos estratégicos da reunião, foram criados três grandes grupos, com objetivos bem claros (formulação, comunicação e articulação) para contribuir com a campanha Para Expressar a Liberdade. “O de comunicação vai pensar em pautas e materiais para a campanha (como vídeos e textos) que processem especificamente a pauta das mulheres na comunicação. O de formulação, que está sendo puxado principalmente pelo grupo Flores de Dan, da Bahia, está propondo para julho do ano que vem um grande seminário sobre mulher e mídia e o de articulação saiu com a grande tarefa de articular os diversos outros grupos de mulheres e feministas para trazer para dentro da campanha”, relata Iara.
“Construir uma agenda conjunta era o nosso grande objetivo com este encontro, e isto foi feito. É fundamental colocar, dentro das discussões permanentes das mulheres, a questão da comunicação, porque a conquista dos direitos das mulheres passa também pela efetivação do direito à comunicação. Saímos deste encontro fortalecidas para construir essa agenda concreta”, completa a integrante do Intervozes.
Democratização da comunicação e a vida das mulheres
Em texto produzido para o encontro, a feminista Paula Andrade, da organização pernambucana SOS Corpo, coloca a importância de fortalecer a atuação do movimento de mulheres e demais movimentos sociais pelo direito humano à comunicação. Para ela, esta seria “uma contribuição fundamental para enfrentarmos o atual cenário de uma generalização destrutiva sobre a política, resgatando o sentido da democratização do poder, inclusive a partir do campo da comunicação”.
Ela ressalta que afirmar a comunicação como direito humano avança para além do conceito de democratização da mídia, ampliando o sentido de liberdade de expressão. “Significa reconhecer que é direito da sociedade participar da produção de sentido (e das disputas que essa participação favorece). Participar tendo autonomia para, discursivamente, se inscrever nas arenas públicas sem a mediação e instrumentalização dos grandes meios de comunicação, mas levando-os em conta.”
Paula também destaca que o que se passa no entorno da comunicação é crucial na formação das relações de poder. “Por isso, não basta monitorar os discursos presentes. É preciso observar o que não contam os meios de comunicação social e apontar as ausências: de alternativas, mensagens e opiniões, sobretudo das mulheres e, entre todas, das mulheres negras e indígenas, entendendo a ideia de participar como condição para efetiva democratização institucional, informacional, econômica e cultural.”