Em resposta ao editorial da Folha, publicado no último dia 17, em que classificou o regime militar vigente no Brasil entre 1965 e 1984 como uma “ditabranda”, um grupo de intelectuais lançou, no último sábado (21), um manifesto e abaixo-assinado em “repúdio à arbitrária e inverídica revisão histórica” [veja aqui] .
“Ao denominar ‘ditabranda’ (…) a direção editorial do jornal insulta e avilta a memória dos muitos brasileiros e brasileiras que lutaram pela redemocratização do país. (…) O estelionato semântico manifesto pelo neologismo ditabranda é, a rigor, uma fraudulenta revisão histórica forjada por uma minoria que se beneficiou da suspensão das liberdades e direitos democráticos no pós-1964”, diz o manifesto.
O documento também critica a posição da Folha que chamou de “cínica e mentirosa” a indignação dos professores Maria Victoria de Mesquita Benevides e Fábio Konder Comparato. Os dois enviaram cartas à redação, que foram publicadas no “Painel do Leitor” do dia 20. A resposta da redação aos dois foi criticada até pelo Ombudsman do jornal, Carlos Eduardo Lins da Silva, que, normalmente, não avalia as opiniões publicadas.
“Um editorial com referência ao regime militar brasileiro provocou cartas publicadas no ‘Painel do Leitor’. Resposta da Redação a duas delas na sexta fogem do padrão de cordialidade que julgo essencial o jornal manter com seus leitores”, afirmou o ombudsman em sua coluna no último domingo.
Entre os intelectuais que assinam o manifesto estão nomes de destaque, como o do professor aposentado da USP Antônio Cândido; dos professores da USP Dalmo de Abreu Dallari e Emir Sader; e do diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, Michel Löwy. Até o momento, a petição online conta com 3.116 assinaturas.
As vozes contrárias ao editorial encontraram apoio no editor de Brasil da Folha, Fernando de Barros e Silva. Em artigo publicado na última terça-feira (24), sob o título de “Ditadura, por favor”, o jornalista afirma que a posição do jornal em classificar o regime militar como “ditabranda” é “mais do que um erro, um sintoma de regressão”.
“Algumas matam mais, outras menos, mas toda ditadura é igualmente repugnante. Devemos agora contar cadáveres para medir níveis de afabilidade ou criar algum ranking entre regimes bárbaros?”, questiona Barros e Silva.
A direção da Folha não se manifestou.