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A demissão na TV Brasil e o jornalismo preguiçoso

O jornalismo mais preguiçoso que existe é o chamado jornalismo declaratório. O repórter não precisa nem levantar da cadeira; recebe um telefonema de alguém, que diz o que quer, geralmente sobre outro alguém. O repórter anota tudo, e em seguida, liga para o alvo do primeiro telefonema, dizendo que alguém está fazendo uma denúncia contra ele, e que precisa ouvir o que o segundo tem a dizer sobre isso. Pronto. Como o repórter "ouviu os dois lados da história", o dever dele está cumprido. Ele, então, aperta o "send" e manda o texto para o jornal.

Mas… e se o que o primeiro telefonema relatou for uma deslavada mentira? Uma história bem inventada, ardilosa, nascida de um coração partido? Arquitetada por um marido traído, namorado dispensado ou jornalista demitido?

Fica o dito e o contradito, palavra contra palavra. A verdade, o que aconteceu mesmo, é um mero detalhe. A mentira também. Mas, muitas vezes, um detalhe que achincalha reputações, mancha trabalho árduo. De um dia para o outro, a mentira vira verdade. Dois dias depois, vira editorial, embasa opiniões de outras pessoas. Até de colunistas muito sabidos, mas pouco conhecidos no mercado que eles insistem em comentar.

A série de reportagens envolvendo a TV Brasil, que começou na Folha de S. Paulo (justamente no Dia do Jornalista, 7 de abril) e espalhou-se sem reflexão por outros veículos, é exemplo típico de jornalismo declaratório – o mais preguiçoso que existe. A manchete deixa claro: "Jornalista acusa Planalto de interferir na TV Brasil". A fonte é um jornalista que se diz "sob pressão insuportável" acaba de sair da própria TV. Uau! É abre de página!

Quem é o jornalista? Luiz Lobo, o âncora, o editor-chefe. Deve ter pedido demissão, imolando-se pela causa do bom jornalismo. Não. Foi demitido. Sob alegação de que queria mandar sem estar presente. Detalhe, portanto. Chegava no fim da tarde e queria mudar os textos de um telejornal que começa a ser feito de manhã. Está na internet que ele é CEO e "founder" de uma produtora de vídeo nos Estados Unidos. Tudo isso deve dar muito trabalho. Há registro nas atas de reunião de pauta: entre 16 de janeiro e 04 de abril, dia em que foi demitido, o editor-chefe compareceu a sete (07) encontros, realizados às 11 da manhã. Neste período foram exatas 50 reuniões. Pouco mais de 10% de presença reprova qualquer um.

E se havia tanta "interferência do Planalto", "pressão insuportável", por que o jornalista demitido não pediu demissão antes? Por que a redação não saiu toda junto com ele, como, em carta enviada à direção da empresa, ele tinha dito que iria acontecer?

Mais detalhes: a "vítima" alega que foi pressionanda por uma "interventora do Planalto". O repórter que ouve isso, então, faz o quê? Comprova as acusações, certo? Se houve pressão em favor do governo, é só ver as reportagens e como elas saíram. Os VTs estão no You Tube. Então dá pra verificar se a acusação é séria sem sair da cadeira. Ótimo, até para o jornalismo preguiçoso.

Mas que está nas matérias é só outro detalhe. Oposição falando que é dossiê, governo dizendo que é base de dados. O que faz a TV Brasil? Mostra as duas versões, sem tomar uma delas como definitiva. Não se apropria dos termos que denotam acreditar num ou noutro lado. Fraca a interventora, não? Lê todos os textos e não publica a versão do governo. E permite os dois lados darem suas versões…

E a história da CPMF? A pauta surgiu de uma entrevista do presidente do Conselho Nacional de Saúde na Rádio Nacional, na qual ele alertava: com aquele orçamento, depois do corte motivado pela queda da CPMF, o dinheiro acabaria antes que o ano. Pauta aprovada na reunião – neste dia, na presença do editor-chefe. No ar, a reportagem mostrou filas, gente chorando, hospitais aos pedaços. Dizia que o dinheiro acabaria em setembro, mas não citava a CPMF. Ora: matérias precisam responder, sempre, os tais "quem, que, como, onde, quando e por que". Faltava o último item. Logo, havia uma falha nela.

O que chegou ao telespectador foi uma reportagem com as mazelas da saúde sem falar no corte da CPMF. Virou prova de "censura" e "jornalismo chapa branca". Errado. Se foi ao ar (e foi), não houve censura. E não foi chapa branca; foi chapa preta. E como a chapa da TV Pública não tem cor, os responsáveis foram advertidos. Quem aprovou o VT não foi a "interventora". Foi o editor-chefe. Mas isso é só mais um detalhe.

A "interventora" tem mais de 15 anos de experiência em redações de TV em Brasília. É, sim, casada com um assessor do Planalto. Mas o que é que isso prova? James Carvile, famoso conselheiro de Bill Clinton (o que cunhou a frase "é a economia, estúpido") é casado com Mary Matalin, consultora política do partido republicano, adversário de Clinton. Casamento não é problema para gente que tem ética. Geralmente é para quem não tem.

Se há interferência, ela precisa aparecer em algum lugar. Além, claro, da cabeça do jornalista demitido e da manchete dos jornais.

O jornalista demitido alega que não tinha liberdade de sequer escrever manchetes. Pois bem: os veículos que publicaram a história se importariam de contar ao leitor como são escritas as suas próprias manchetes? Alguém faz isso sozinho? Ou passa por uma série de pessoas, num processo de revisão editorial? É assim em qualquer redação, por questão de controle de qualidade. Jornalismo é atividade conjunta, ainda mais numa emissora pública. Mais até num veículo em formação, no qual turnos de 12 ou 14 horas por dia, para as chefias, têm sido comuns. Menos para o editor-chefe.

A melhor resposta a qualquer acusação de partidarismo ou interferência na TV Brasil vai ao ar todos os dias, às oito da manhã e às nove da noite, nas duas edições do Repórter Brasil, nas emissoras públicas de 21 estados brasileiros. Também está nos noticiário difundido por mais de 500 emissoras de rádio, da Rede Nacional de Rádio. E no conteúdo da Agência Brasil, republicado por incontáveis jornais e na sua própria página na internet. Todos são veículos EBC. Não temos vergonha do jornalismo que praticamos. Não temos constrangimento. Nem preguiça.

* Eduardo Castro é gerente executivo de jornalismo da EBC – Empresa Brasil de Comunicação.

Precipitado foi o lançamento da TV Brasil

Segundo a milenar sabedoria chinesa, “toda a jornada começa com um primeiro passo”. Nada como um bom clichê. E me permito acrescentar: “a não ser quando os primeiros passos são dados na direção contrária”. Ou seja, nem todos os primeiros passos de uma jornada nos levam necessariamente onde desejamos chegar. E nem todas as críticas deveriam ser consideradas precipitadas ou irrelevantes, simplesmente, por serem…as primeiras.

Esta semana, mais uma vez, fui acusado de muitas coisas. Não é novidade. Já estou acostumado. Vida de crítico é assim mesmo. Tinha resolvido não responder a mais essas questões. Ninguém suporta mais esse velho debate entre as promessas das TVs públicas e a realidade das TVs comerciais no Brasil. No fundo, é tudo a mesma velha TV. E o meio, conforme conhecemos, tende a desaparecer nos próximos anos.

Por outro lado, após mais de meio século assistindo, fazendo (ênfase no fazendo), pesquisando, ensinando e sempre “adorando” televisão, acredito que conquistei o direito de criticar o meio. Feliz ou infelizmente, passei a maior parte, algumas da melhoras horas da minha vida na frente e dentro da telinha. Quando digo que uma programação de TV é muito, muito ruim, devo ter alguma razão. 

Deveria merecer pelo menos alguma consideração. Ainda mais quando critico uma rede de TV que é lançada com o grandioso, talvez pretensioso nome de… TV Brasil. Mas, como bem dizia o meu velho pai, pretensão e água benta nunca são demais.

Mas apesar das críticas, aproveito para recomendar um bom exemplo de respeito pela opinião alheia. Em matéria para o Observatório do Direito à Comunicação com o significativo título de “Críticas à programação da TV Brasil são precipitadas, diz presidente do Conselho” e divulgada nos sites do Fórum Nacional em Defesa da Comunicação e Observatório da Imprensa, fui citado e acusado de fazer criticas consideradas “precipitadas” à TV Brasil. Afinal, a nova rede está no ar há menos de dois meses. Incrível. Tudo isso? 

Mas, tudo bem. Afinal, quando as críticas à TV Brasil estarão liberadas pelo presidente do Conselho consultivo da TV Brasil? Quanto tempo será necessário para podermos fazer uma avaliação “precisa” da nova rede? Temos televisão, comercial e pública, no Brasil há mais de 50 anos. Por que devemos acreditar que essa TV será diferente das “outras” TVs brasileiras? Qual é a diferença? Perguntar, também pode ser considerado precipitado, mas não custa nada.

Afinal, quando as críticas à TV Brasil não serão mais consideradas “precipitadas”?  

Depois das eleições?

Esse debate é muito significativo. Principalmente, quando a principal crítica ao lançamento da TV Brasil é essencialmente o fato de ter sido lançada pelo governo com medida provisória e sem qualquer consulta ao principal interessado: o público. Por que uma rede de TV pública logo agora? Assim como a escolha do sistema de TV digital brasileiro, essa também não teria sido mais uma idéia precipitada do governo? Perguntar não custa. 

Então, vamos tentar entender. Colocar uma rede de TV pública no ar, sem maiores pesquisas, consultas à população, importação de equipamentos para praças e outros detalhes não é precipitação. Medida provisória para lançar rede de TV do governo não é precipitação. É necessidade de estratégica “política”. Planejamento de altíssimo nível. É clamor do público.

Outra explicação “técnica” seria, “TV é assim mesmo”. Ou seja, para aqueles que sempre trabalharam nas TVs comerciais é assim mesmo que deve ser. Não há diferença. Afinal, “é desse jeito que nós fazemos as coisas nas TVs onde trabalhamos, é assim que também fazemos aqui em Brasília”. Ou, “depois damos um jeitinho de melhorar com a TV no ar e os salários em dia”. Depois organizamos de forma igualmente precipitada “aqueles” concursos públicos que todos nós conhecemos.

Ah, isso em Brasília não é precipitação. Somente as críticas a uma rede de TV com programação velha e despesas pagas pelo contribuinte é que são precipitadas. Essa também deve ser a lógica do pensamento único.

Fim da TV

Colocar no ar uma nova rede de televisão com promessas tão ambiciosas de maneira tão precária e amadora é antes de tudo queimar uma idéia importante. É um passo errado em uma longa jornada a lugar nenhum. Não adianta depois convocar os simpatizantes, os funcionários da TV e os membros do partido para passeatas em Brasília. O público continua ignorando a existência da TV Voz do Brasil. O futuro pertence à Internet.

Televisão é um meio de comunicação de massa centralizador, produto de uma época de guerra fria, muito útil para a proliferação de pensamentos totalitários. Não é à toa que está em decadência. Fica aqui a sugestão: Por que não gastar essa fortuna da TV Brasil em pequenas televisões digitais regionais e comunitárias transmitidas pela Internet?

Hoje, montar uma nova rede de televisão é como tentar reinventar o telégrafo ou a máquina de escrever. Pode ser que dê certo. Mas também pode ser um tremendo desperdício de tempo e recursos. Ainda mais quando esses recursos são públicos, ou seja, são nossos.

Reafirmo que a verdadeira nova televisão, a TV digital na Internet está sendo criada nas pequenas WebTVs e nos sites de participação popular na produção de conteúdos como o YouTube nos EUA ou a AllTV e Fiz TV, aqui mesmo no Brasil.

BBC brasileira?

Ainda no artigo do Observatório, o presidente do conselho acrescenta:

“Concordo que ainda falta muito para chegar no nível de qualidade desejado, mas é preciso ter calma, não dá pra ser a BBC ainda. O importante agora é compreender que seu caráter é público, não estatal e nem privado”, diz Belluzzo.

Impressionante. Nesta altura da história da TV, montar uma nova rede, ainda mais nos moldes, valha-me Deus, da BBC em um país como o Brasil? Somos países completamente diferentes com povos e histórias diversas. A BBC é exemplo de qualidade para o mundo em um país de tradição colonialista. Os objetivos “reais” da BBC, assim como os objetivos do governo britânico é nos fazer acreditar que o que é bom para a Grã- Bretanha, também é bom para o Brasil e o mundo. A BBC é boa para os britânicos. É insuportável para os americanos. Seria impossível no Brasil.

Muito bem. E já que estamos tentando imitar a BBC, que tal fazer uma pesquisa ou uma votação para saber se os telespectadores brasileiros, assim como os telespectadores britânicos, estariam dispostos a pagar uma taxa anual ou mais impostos para sustentar essa nova TV pública? Perguntar não custa. Afinal, nada seria mais fácil, relevante e democrático. Porém, os simpatizantes do pensamento único sabem tudo que o brasileiro quer e precisa.

Mais promessas
Os responsáveis pelo TV Brasil deveriam primeiro apresentar uma programação pelo menos “razoável”. Não esse festival de programas requentados que está no ar. Menos! Da produção da Voz do Brasil para as promessas de uma BBC brasileira é preciso muito mais do que tempo ou boa vontade dos críticos ou do público.

“A TV Brasil está começando devagar e esperamos que sua qualificação técnica ocorra progressivamente. Nesse sentido, acho que está indo razoavelmente bem. Qual TV comercial tem uma fiscalização tão cuidadosa?”

É preciso muitos anos de investimentos no combate à miséria, na melhoria da saúde e,  principalmente, maiores investimentos em educação, esta sim, pública e de qualidade.

Ainda no artigo citado, os responsáveis pela TV Brasil refutam a idéia de que o telejornal tenha um tom demasiadamente institucionalista e que se assemelhe a Voz do Brasil, e garantem que, apesar das questões técnicas e do pouco tempo no ar, o telejornal está indo muito bem:

“O Repórter Brasil já está sendo transmitido em 18 estados brasileiros, e a recepção das TVs estaduais tem sido muito boa. Queremos fazer um jornal verdadeiramente nacional, as praças locais estão contribuindo bastante, apesar das dificuldades técnicas”.

Truques da mídia
E para não invalidar a polêmica entre o público versus privado e para efeitos comparativos, podemos fazer a mesma pesquisa em relação à necessidade ou prioridade para a segurança, a saúde e a educação e comparar os resultados.

“Em relação ao formato do telejornal, o modelo adotado é defendido pois acredita-se que ele se aproxima cada vez mais do cidadão. “Acho que estamos conseguindo fazer um telejornal para o cidadão, incorporando entrevistas e debates de forma plural e fazendo uma coisa equilibrada. Governo e oposição estiveram presentes”, afirma.”

Onde estão as pesquisas que comprovam a qualidade do telejornal da TV Brasil? Como foram avaliados e medidos os tempos, os formatos e a linguagem das matérias apresentadas no telejornal único, o Repórter Brasil, que comprovam esse equilíbrio na cobertura do governo e da oposição?

TV é coisa séria. Não há mais lugar para achismos duvidosos de sábios das redações. Ainda mais sábios formados em redações de TVs… comerciais. Eles ou elas, sem dúvida, sabem tudo sobre os “truques” do jornalismo de TV.

Mas, para quem não sabe, aproveito para recomendar a leitura de A Mídia e seus Truques, do Prof. Nilton Hernandes, Ed. Contexto. Escrevi um longo artigo sobre essa pesquisa tão importante e relevante para a compreensão dos truques dos nosso telejornais (ver matéria no C-se de 16/01/2007 – Os truques dos telejornais). Como bem sabemos, há muitas maneiras ou truques para que um telejornal pareça equilibrado. Pelo menos, para o grande público. Mas isso ninguém precisa saber, não é?

Quem vai pagar?
E, por último, em mais um trecho do artigo, as palavras que comprovam a pressa – ou seria a precipitação – no lançamento da TV do Brasil pelos seus responsáveis: 

“Em São Paulo, por exemplo, nosso alcance é mínimo, mas já encomendamos um novo transmissor analógico mais potente, além do digital. Em outros lugares chegamos por cabo. Não sabemos ainda qual o nosso real alcance, mas existem investimentos”.

Compra de transmissor analógico em plena época de TV digital para cobrir São Paulo? Isso não denota um certo interesse político partidário nas próximas eleições paulistas? Perdão. Perguntar não custa. Só queria entender. Tantos investimentos na escolha apressada e implantação “precipitada” de um sistema brasileiro de TV digital, o nosso sistema nipo-brasileiro, a versão digital do famigerado padrão Pal-M para TV a cores, e a TV digital despende seus recursos tão “limitados” na compra de máquinas de escrever. Perdão. Quero dizer, transmissores analógicos de televisão.

Por último, uma dica para os eleitos que dirigem os rumos da TV Brasil: É preciso humildade, sabedoria e tolerância para reconhecer os erros, voltar, recomeçar uma longa jornada. Uma televisão pública independente e de qualidade de verdade demanda mais do muitos recursos, boa vontade e aversão a críticas, sejam elas precipitadas ou não. Uma televisão pública de verdade exige a participação do… público. Aguardo ansioso pelo processo e pela votação. Afinal, quem está disposto a pagar uma taxa anual para termos uma TV pública brasileira independente e de qualidade?

TV Brasil: a Radiobrás conseguiu piorar a TVE

Em poucas palavras, após um mês no ar, já é possível dizer que a TV Brasil é muito, muito ruim! Pior do que as piores previsões. E o público que não é bobo, ignora solenemente a sua dispendiosa existência. Seus responsáveis conseguiram o impossível: pioraram o que já era ruim, a velha e combalida TVE do Rio de Janeiro.

Em termos de jornalismo, a TV Brasil tem a cara de um dos piores fenômenos da comunicação brasileira: e internacional: A Voz do Brasil da Radiobrás.

Mas há sempre os críticos otimistas, comprometidos ou engajados nos projetos do governo, que tentam diminuir a frustração. Afinal, nem tudo dá certo de cara. Vide o nosso país ou os projetos do governo. Os críticos otimistas buscam explicações no passado para justificar a falta de planejamento, a falta de pesquisas e a pressa para impor velhas idéias ou preconceitos sobre como deveria ser uma televisão. Uma televisão, muitas vezes, para quem, na verdade, não gosta de televisão.

TV Vale Tudo

Afinal, dizem eles, nem tudo começa bem. Os exemplos vão das novelas do passado aos governos do presente. De Roque Santeiro às atuais promessas de uma TV pública de verdade, a novela “Vale tudo” é o melhor argumento para explicar e garantir uma mídia mais amistosa e alguns bons empregos. 

Nos últimos dias, pude assistir à programação da TV Brasil. Estão matando uma boa idéia, uma boa proposta com o que há de pior na TV. Em plena era da Internet e opção midiática cada vez maior para um público cada vez mais exigente, a programação da TV Brasil é tudo que uma TV não deveria ser. É muito, muito chata, velha e previsível. A TV Brasil é uma antiTV. As comparações com a pior rede de TV brasileira de todos os tempos, a famigerada CNT, são inevitáveis. O problema é que nós estamos bancando esse desastre. 

A programação da TV Brasil reflete a pressa e a improvisação. Não há uma estratégia de comunicação, nada faz sentido e o público é ignorado. Uma televisão de burocratas para simpatizantes. Para quem assiste televisão desde os anos 50, a TV Brasil é um total retrocesso na linguagem do meio. Digital ou analógica, comprova as piores previsões do fim da TV nos próximos anos.

Velhos programas com velhos apresentadores defendendo idéias ainda mais velhas. Nada, absolutamente, nada de novo, experimental ou ousado. É a televisão do previsível, do seguro, uma televisão para converter os convertidos e divulgar as propostas mirabolantes do governo.

Jornalismo Secos e Molhados

E o pior é o telejornal, um tal de Repórter Brasil. Uma seleção de matérias insossas, chamadas de “positivas” para garantir de forma “equilibrada” os interesses dos ministérios do governo. Um telejornal de boas notícias sobre um país que não existe. Um jornalismo de elogios com mais cara de Voz do Brasil é impossível.

Tem matérias sobre os “avanços” no turismo, na saúde, nos transportes, na segurança em quase tudo que deveríamos ter, mas não temos. É um telejornal de “faz de conta” que vai tudo bem. Nenhuma polêmica, nenhuma denúncia, nenhuma investigação, pois afinal a proposta é fazer um jornalismo “positivo”, ou seja, irreal!

Bem já dizia o velho Millôr, “imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”. Pelo jeito, a TV Brasil optou pelo telejornal de secos e molhados. 

E no ar, ficam as perguntas que não querem calar: será que o Congresso vai aprovar a medida provisória que criou essa tal de TV Brasil? E no próximo governo, qual será a cara dessa TV Brasil? Mais estatal, pública, educativa ou simplesmente… mais partidária?

* Antonio Brasil é jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey.