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Alta da audiência na web não traz retorno financeiro

O Facebook está bombando na Turquia e na Indonésia. A audiência do YouTube quase dobrou na Índia e no Brasil. Essas notícias podem parecer boas, mas estão entre os principais motivos pelos quais essas e outras empresas da web com grande audiência não conseguem ter lucro. Pode chamar de paradoxo.  Empresas da web que dependem de publicidade têm as mais vibrantes taxas de crescimento nos países em desenvolvimento. Mas esses são também os países onde é mais caro operar, uma vez que é preciso ter mais servidores para lidar com a banda limitada. Além disso, nas nações em desenvolvimento, é pouco provável que publicidade online se transforme em receita.

Essa contradição se tornou o principal obstáculo para sites de troca de fotos, redes sociais e distribuição de vídeos. Ela também está ameaçando o idealismo dos empreendedores da web, que esperavam unir o mundo em uma vila online global, mas começam a descobrir que, economicamente, essa visão não funciona.  Ano passado o Veoh, um site de compartilhamento de vídeo, decidiu bloquear usuários de África, Ásia, América Latina e Leste Europeu, culpando as tímidas possibilidades de fazer dinheiro e o alto custo nesses locais.

— Eu acredito em comunicações livres e abertas — disse Dmitry Shapiro, CEO da empresa — Mas essas pessoas estão famintas por conteúdo. Elas sentam e assistem, assistem, assistem.

O problema é que estão comendo banda, mas é muito difícil conseguir algum retorno disso. Empresas de internet que surgiram na era Web 2.0, de 2004 até 2007, geralmente seguem um caminho parecido: construa uma enorme audiência global e deixe a publicidade pagar as contas. Mas muitas caíram na real diante da complexidade da economia global. Existem 1,6 bilhão de pessoas no mundo com acesso à internet, mas menos da metade tem renda suficiente para interessar aos anunciantes.

— Esse é um problema que toda empresa de internet enfrenta — diz Michelangelo Volpi, do Joost. — Sempre que você tem muito material gerado pelo usuário, sua banda será utilizada em Ásia, Oriente Médio, América Latina, onde a banda é cara e as taxas de retorno de anúncios são ridiculamente baixas. (Se as empresas) realmente quisessem fazer dinheiro, elas fechariam seus sites em todos esses países. Muitas empresas estão estudando formas de aumentar a receita ou cortar custo em países em desenvolvimento.

O MySpace — com 130 milhões de membros — está testando o Profile Lite, uma versão mais leve do site para países em desenvolvimento.
A empresa pode tornálo a opção primária na Índia, onde tem 760 mil usuários, mas as pessoas teriam a opção de mudar para a página mais completa.  Talvez nenhuma empresa esteja mais afundada nesse paradoxo do que o YouTube.

Um analista do Credit Suisse, Spencer Wang, recentemente estimou que o site pode perder US$ 470 milhões em 2009, em parte por causa do alto custo de exibir bilhões de vídeos todo mês. A Google, dona do YouTube, discorda, mas não revela a situação financeira do site.
Tom Pickett, diretor do YouTube, disse que a empresa ainda se mantém fiel à missão de levar vídeos online a todo o planeta. Mas Pickett também revela que não está fora de cogitação a hipótese de restringir a qualidade dos vídeos em alguns países como forma de cortar custos.
O Facebook também considera adotar restrições semelhantes.

A rede social está num momento particu larmente difícil, com 70% dos seus usuários fora dos EUA e muitas regiões que não contribuem para a receita do site. Ao mesmo tempo, a empresa enfrenta a perspectiva de armazenar 850 milhões de fotos e oito milhões de vídeos novos todo mês. O Facebook afirma que ainda favorece o crescimento em vez do lucro, mas tenta aumentar suas receitas contratando equipes de publicidade em países como Grã-Bretanha, Austrália e França.

Em outras partes do mundo, a Microsoft vende anúncios no site e o Facebook oferece ferramentas para anunciantes. Mas essas propagandas são muito menos lucrativas que aquelas vendidas nos EUA e na Europa. Como resultado, há grande especulação sobre a situação financeira da empresa, e discute-se se o Facebook vai precisa buscar novas rodadas de investimento.

No mês passado, a companhia disse que estava no caminho para ter um ano lucrativo. Mas, ao mesmo tempo, Gideon Yu, seu experiente diretor financeiro deixou o Facebook, por considerar as projeções otimistas demais. Empreendores da web como Shapiro, da Veoh, ainda lutam contra a decisão de restringir o acesso de sites a certas partes do mundo.

— O meu lado que quer mudar o mundo diz: “isso é injusto, não deveria ser assim”.

Por outro lado, pela visão empresarial, fornecer vídeos para o mundo inteiro simplesmente não é sustentável hoje em dia — lamenta.

Banda larga cresce e problemas se multiplicam

O crescimento da banda larga no País veio acompanhado do aumento no número de reclamações sobre o serviço no Procon. Com a oferta de planos com velocidades maiores, agora os usuários reclamam que não conseguem atingir a velocidade máxima vendida pelas operadoras. A queixa se soma à instabilidade no serviço, evidenciada durante a semana passada, quando clientes do Speedy, serviço de banda larga da Telefônica, tiveram problemas de conexão à internet no Estado de São Paulo.

A operadora creditou a instabilidade a ataques de hackers, que teriam superlotado os servidores DNS (Domain Name Server) utilizados para a navegação na internet. Segundo a empresa, de segunda a quarta-feira foram registradas cinco interrupções que duraram de 10 minutos a quase quatro horas.

A instabilidade e lentidão de acesso não se restringem a uma operadora. Segundo Carlos Coscarelli, assessor chefe da Fundação Procon-SP, as queixas sobre problemas com banda larga cresceram mais que a média das reclamações ao órgão de defesa, que foi de 8%. "Quem acabou de sair da conexão discada acha a banda larga uma maravilha, até aparecer um problema como esse (do Speedy). E aí ela percebe que problemas de lentidão são mais frequentes do que imaginava."

De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o número de clientes do serviço de banda larga saltou de 124 mil, em 2000, para 11,4 milhões no ano passado. Segundo a consultoria Teleco, 5,19% da população brasileira tem acesso à internet banda larga. "A tendência é que esse número continue subindo num ritmo forte", diz Hubert Filho, diretor da Teleco.

"Esse crescimento de usuários e de tecnologia não é acompanhado pelo crescimento na qualidade dos serviços", diz a advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Estela Guerrini. Ela diz que o maior questionamento é sobre a velocidade de conexão oferecida pelas operadoras. "A pessoa contrata um plano de 3 ou 10 megabits por segundo (Mbps), por exemplo, e raramente consegue navegar nessa velocidade."

Segundo a Anatel, as operadoras garantem em contrato um mínimo de 10% da velocidade nos horários de alto tráfego. "Vender um serviço e garantir apenas 10% dele é um absurdo. Essas cláusulas são completamente abusivas", diz Estela. A advogada afirma que, apesar de essa deficiência do serviço estar em contrato, o consumidor pode e deve reclamar em caso de queda na velocidade de conexão.

A coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste), Maria Inês Dolci, aconselha que todos os consumidores com problemas façam suas reclamações às empresas, aos órgãos de defesa e à Anatel. "Talvez, assim, a regulamentação do serviço ocorra mais rapidamente." Isso porque o serviço de internet banda larga ainda não foi regulado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). "Não fossem os órgãos de defesa, o consumidor não teria como se defender dos abusos."

A Anatel diz que o setor segue "sem a mínima intervenção do Estado", como forma de estimular a expansão da cobertura do serviço. A entidade informa que já iniciou estudos para criar uma regulamentação para a área, por causa da grande evolução do serviço. Segundo a agência, a banda larga deve seguir os mesmos passos da TV por assinatura, que passou a ser regulamentada a partir da metade de 2006, depois de ter atingido cobertura nacional.

As velocidades de conexão oferecidas no País ainda estão aquém das de outros países. "O brasileiro conectado utiliza, em geral, conexão de 1 Mbps", diz Hubert Filho, da Teleco. Na Europa são comuns conexões de 20 Mbps, e no Japão, até de 100 Mbps. Para o diretor de Estratégia e Tecnologia do Ajato, serviço de banda larga da TVA, Virgílio Amaral, a oferta de velocidades mais altas no Brasil depende de demanda. "Se você não tem um portal que oferece conteúdo para essas velocidades, os usuários não vão poder perceber a diferença."

Ele diz que ataques como os observados no Speedy são frequentes e respondem por boa parte da lentidão e instabilidade nas redes. "Você não tem ideia da quantidade de gente querendo invadir o sistema, são pessoas do mundo todo, da China, Coreia, Japão, Europa". Para se proteger, o Ajato investe em firewalls, sistemas que fazem a proteção do serviço 24 horas. Sobre a velocidade, destaca que a empresa garante 40% da velocidade do plano.

Já a Telefônica disse, por e-mail, que a velocidade contratada no plano se refere a uma capacidade de banda oferecida ao usuário: "Ocorre que o desempenho obtido a partir dessa capacidade – a velocidade atingida pelo internauta – depende de vários fatores, como o site acessado, o provedor utilizado e todos os trechos da rede mundial de computadores." A operadora compara a internet a uma autoestrada, que, embora tenha capacidade para altas velocidades, tem lentidão em dias de trânsito congestionado.