Arquivo da tag: Miriam Aquino – TeleSíntese

TV digital: a Caixa aposta na interatividade

A Caixa Econômica Federal vê na TV digital um importante veículo para a prestação de serviços sociais e bancários. Por isso, pretende estar presente nessa nova mídia  desde a primeira transmissã, prometida para dezembro. Conforme a vice-presidente de Tecnologia, Clarice Coppetti, o ideal é que a interatividade esteja presente  já no primeiro conversor a ser fabricado. Mas, qualquer que seja a decisão do governo, o banco irá oferecer todos os serviços que puder pelos canais dessa nova TV.   

Por que a Caixa Econômica Federal está na linha de frente da TV digital?
Clarice Coppetti – A Caixa, além de ser um dos maiores bancos do país e atuar com um portfólio completo no segmento da indústria financeira, é também um grande operador de políticas públicas, das políticas sociais do governo federal. Além disso, lidamos com alguns segmentos de serviços e produtos que são da sociedade brasileira, como é o caso do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que não é um fundo público, mas atende a uma grande parcela de trabalhadores. Esse diferencial da Caixa Econômica Federal, esse relacionamento dela com a sociedade, fez com que nós começássemos a pensar na TV digital não só como alternativa para a prestação de serviços financeiros – como um “internet banking” ou um “ TV banking”. A TV digital não é só isso. O potencial desse canal, na nossa visão, é muito superior.

De que maneira?
Começamos a desenvolver o projeto não apenas por uma questão estratégica para o banco, mas como um dever de um banco público com a sociedade brasileira.

Por que estão apostando nessa nova mídia?
Hoje, 8% ou 9% da população brasileira tem acesso à TV fechada, por satélite ou por cabo. Há, também, uma parcela da população com acesso à internet  banda larga. Mas a grande maioria, mesmo com todos os programas de acesso ao computador do governo, como o Computador para Todos, ainda está distante da rede mundial. Na nossa visão, quem mais vai precisar da TV digital para a interatividade – ou seja, com canal de retorno, com a possibilidade da realização de serviços – é a população de menor renda.

E essa população, em sua grande maioria, tem um relacionamento com a Caixa. Seja através dos programas sociais do governo federal, seja através de sua conta bancária simplificada – nós bancarizamos 5 milhões de pessoas, desde 2003. Atendemos ao Bolsa Família, temos 170 milhões de contas ativas do FGTS (pois muitos trabalhadores têm mais de uma conta); temos os programas do PIS, da habitação de baixa renda e contamos com uma carteira enorme de créditos habitacionais. É uma gama de serviços que faz com que nós vejamos a TV digital como um veículo que pode atingir alguns milhões de clientes e usuários desses serviços.

A TV digital será, então, um canal da e-Caixa?
Estamos vendo uma possibilidade efetiva  de facilitar o acesso dessa população a esses serviços, com comodidade e segurança. Essa percepção fez com que iniciássemos uma discussão com todas as emissoras e a  indústria. Nós demos o seguinte recado: a Caixa é um grande banco, com um volume enorme de clientes, e nós precisamos que a TV digital, quando iniciar a sua transmissão no país, já tenha, pelo menos,  um planejamento para a interatividade. Pois a interatividade foi o grande diferencial na definição do modelo, e o governo buscou-a como uma possibilidade real de inclusão.

Ainda não há muita indefinição?
A Caixa, apesar das indefinições – pois é uma coisa nova para todo mundo, e a gente não sabe como esse mercado vai se comportar- está tentando contribuir para esse debate. Não queremos que a sociedade brasileira pague duas vezes, como foi o caso da telefonia celular, que começou analógica e dois, três anos depois, todo mundo  teve que trocar o aparelho, pagar de novo, para migrar para o sistema digital. Não dá para a sociedade pagar duas vezes.

Essa possível dupla cobrança, você está se referindo ao set top box?
Sim, se o conversor sai, inicialmente, sem nenhuma possibilidade de interatividade – o que acho que já está descartado – e, depois, vendem outro setop box com interatividade, acho que seria penalizar a sociedade.

Para que essa interatividade se efetive, é necessário o canal de retorno?
Sim, ele é necessário. Hoje, sei que há uma indefinição, toda a indústria está tateando sobre isso. E quando falo da indústria, me refiro não apenas aos fabricantes, mas às emissoras e demais agentes. Mas, para nós, ela é importante. Já estamos desenvolvendo aplicações próprias, independentemente do canal de retorno que venhamos a ter, para que os nossos serviços sejam acessados.

Nem que comecemos com um projeto piloto muito específico, de algum programa social, ou na parte de loterias, com a interatividade local. Hoje, a grande procura no site da Caixa é o resultado das loterias. Poderemos vir a oferecer esse serviço na TV digital, se ela for apenas local. Quem jogou não precisará ir à casa lotérica ou acessar o nosso site para saber o resultado. Mas poderemos também oferecer serviços muito mais completos, se a interatividade for total.

Nós estamos conversando com os fabricantes, com os que estão desenvolvendo o Ginga, para tratar desse tema. O nosso papel é esse. Nós promovemos um seminário sobre TV digital no mês passado, e depois dele, vários fabricantes nos procuraram.

Para se disseminar o set top box, obviamente se esbarra na renda da população. A Caixa vai subsidiar esse conversor?
A Caixa tem uma série de modalidades de créditos própria. Mas nós podemos fazer acordos com a rede de varejo, a exemplo do que fizemos com o Computador para Todos.  A população brasileira compra os bens eletrônicos nas redes de varejo, e hoje essas grandes redes têm as suas próprias financeiras. 

Quanto vai custar essa caixinha?
O fundamental é que esse setop box não alcance um valor que deixe de fora a população que mais vai precisar dele. Essa tem sido a nossa batalha.

Quando conversam com os fabricantes, que preços eles mencionam?
Todos os preços: desde R$ 700,00, um conversor já customizado, com interatividade, até R$ 150,00. Esses valores, para se encaixarem no salário-mínimo, são significativos, pois essa pessoa, que já assiste à sua novela e ao seu futebol, poderá não ver sentido em gastar esse dinheiro.

Os serviços que a Caixa irá prestar estarão vinculados aos canais públicos de TV digital?
A Caixa atuará como usuária dos canais de TV pública. Obviamente faremos conteúdos específicos para esses canais, pois temos interesse, mas a produção desses canais se dá em outra esfera de governo.

Pergunto isso porque a impressão é que as TVs comerciais não querem fazer interatividade.
Não sei se não querem. Ou se o modelo de negócios delas ainda não está definido. Não acredito que não queiram. A população brasileira tem uma relação diferenciada com a TV, pois ela é objeto da nossa relação cotidiana. Acredito que a interatividade dará também atratividade para os canais de TV digital.

Não sei bem como está essa discussão, mas em nosso seminário percebemos que todas as emissoras começaram a ser mexer, a procurar as especificações do Ginga, para a construção do midleware.

Como tocar esse projeto, se as emissoras comerciais não se empolgarem com ele?
As TVs vivem de anúncios. E a interatividade, mesmo para os bancos comerciais, é uma boa solução. Sabemos que alguns bancos privados já começaram a se mexer nessa direção. No Congresso de Tecnologia Bancária do ano passado, ninguém falava em TV digital. Neste ano, já havia um nicho de TV digital, e todo mundo queria saber o que era. O anunciante vai querer esse filão e o governo tem interesse em que haja inclusão na TV digital.

O ideal, para vocês, é que a caixinha já saia com o canal de retorno?
Que haja definições sobre esse canal de retorno. Há um grupo estudando esse assunto. Há inúmeras possibilidades, como USB, ou um chip GPRS dentro  do setop box, ou mesmo as opções tradicionais, como ADSL. O ideal, para nós, é que na própria caixinha houvesse o canal de retorno para que a população não precisasse usar o telefone, já que a conta está alta.

Quais são os investimentos que vocês estão fazendo?

Clarice – Temos que customizar os novos serviços para a TV digital. Há várias questões que estão sendo discutidas,  como, por exemplo, a produção de setop boxes para relacionamento, para nichos de clientes. Hoje, através do FGTS, temos 3 milhões de empresas que se relacionam com a Caixa. Podemos criar um programa, com os setop boxes, para fidelizar esses clientes, por que não? Há um leque de opções enorme. E, para precificar tudo isso, precisamos bater o martelo. Mas a Caixa tem orçamento para isso. Os investimentos em tecnologia para 2007 e 2008 giram em torno de R$ 400 milhões/ano. 

E como vai ser o relacionamento do banco com as emissoras? Vocês vão comprar espaço publicitário para promover essa interatividade?
A área de marketing da Caixa está cuidando disso. Ela vai definir esse modelo. Estamos todos correndo, porque vamos lançar alguns serviços em dezembro, quando os primeiros sinais digitais começarão a ser transmitidos. Mas vamos fazer uma experiência com os canais fechados, até para ver como essa questão funciona.

Active Image publicação autorizada.