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Democratização no semi-árido baiano

Estigmatizada pelos meios de comunicação, a região Sisaleira da Bahia é, com freqüência, apresentada como um local onde nada há além de seca e aridez. Para desconstruir essa imagem, o Movimento de Organização Comunitária (MOC), por meio de seus programas de apoio, leva a questão da democratização da comunicação à população do núcleo do sisal e a seus vizinhos, totalizando mais de 80 municípios.

Com 35 mil quilômetros quadrados, 22 municípios e uma população estimada em 800 mil habitantes, os moradores da região do sisal estão geralmente à margem da grande mídia. Ou, quando refletidos, são quase sempre expostos da mesma forma: pobres, retirantes e sofredores.

A fim de mudar essa imagem e, com isso, influenciar na condição da população local, o MOC tem buscado contribuir para um desenvolvimento integral, participativo e economicamente sustentável para o povo do semi-árido.

Localizada em Feira de Santana, a instituição – que acaba de completar 40 anos – tem como principal ferramenta de transformação o seu Programa de Comunicação. Segmentado nas áreas de assessoria, fortalecimento da comunicação comunitária e “educomunicação do campo”, o projeto nasceu oficialmente em 2004, com o propósito de transformar a democratização da comunicação em realidade.

O projeto Educomunicação capacita professores para que eles possam ensinar seus alunos a produzir e fazer uma leitura crítica da mídia. “Estamos trabalhando com a perspectiva de aproximar os educadores das emissoras comunitárias, para que estes possam reafirmar seu caráter social e enraizar-se ainda mais, além de oportunizar espaços de divulgação das produções de mídia e notícias nas escolas”, explica Klaus Minihuber, jornalista e historiador austríaco, coordenador do Programa de Comunicação do MOC. Um ponto principal do projeto, destaca Minihuber, é trabalhar a formação da população para que a comunicação seja vista como um direito, para que tenham acesso à produção e à gestão de meios e veículos.

O estímulo à produção local de mídia é uma linha importante apoiada pela instituição. “Muitos municípios do interior baiano não têm sequer um único meio de comunicação próprio, o que gera processos de alienação e impedem processos de mobilização social mais fortes”, pondera o jornalista.

Outro ponto de atuação refere-se às rádios comunitárias, que são, na avaliação do jornalista, as principais estimuladoras das vozes não agraciadas pelos grandes conglomerados de mídia. No núcleo do sisal, essa realidade não é diferente. Por isso, o MOC apóia a Associação de Rádio e TV Comunitárias do Território Sisaleiro (Abraço-Sisal). “Nossa proposta de democratização da comunicação passa principalmente pelo fortalecimento do movimento de radiodifusão comunitária”, expõe Klaus.

A tomada de consciência sobre a importância da comunicação como mecanismo de socialização da região representou um momento especial na vida de Camila Oliveira, de 21 anos, comunicadora e secretária executiva da Agência Mandacaru de Comunicação e Cultura, do MOC. Camila há tempos já vinha desenvolvendo atividades na área de comunicação no grupo de jovens da Igreja Católica e no Movimento de Mulheres local. No entanto, foi através do Projeto Jovens Comunicadores que obteve reconhecimento profissional. “Ele contribuiu para meu crescimento pessoal, social e profissional, e isso provocou uma mudança extrema na minha vida. O projeto ofereceu a oportunidade de dar visibilidade ao que a gente fazia”, explicou ela.

A Agência Mandacaru é fruto do Projeto Jovens Comunicadores, iniciado em 2001 e extinto em 2004. O Programa de Comunicação do MOC ainda produz uma série de produtos institucionais e regionais de comunicação: o Boletim Informativo MOC, o site institucional, o programa de rádio Encontro com as Comunidades, o jornal Giramundo e outras peças de divulgação.

A proposta agora é, diante de certa abertura do governo estadual e da possibilidade de haver uma Conferência das Comunicações no ano que vem, mobilizar a sociedade civil da região Sisaleira para “mostrar que a comunicação comunitária, como ela é exercida na região, pode ser a realização do direito dessa sociedade a uma comunicação pública”, espera Minihuber.