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Pesquisa analisa cobertura dos meios de comunicação sobre o MST

"Um negativismo quase panfletário”. A consideração de Mônica Mourão, pesquisadora e integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, refere-se à cobertura realizada pela mídia sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O assunto é tema do relatório Vozes Silenciadas – A cobertura da mídia sobre o MST durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, lançado nesta quarta-feira (24) na Tenda Cultural do Acampamento Nacional da Via Campesina, em Brasília (DF).

Ao todo, a pesquisa analisou 301 reportagens que citaram o Movimento entre 10 de fevereiro e 17 de julho de 2010, período em que ocorreram as investigações da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o MST. As reportagens foram publicadas nos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo; nas revistas Veja, Época e Carta Capital; e nos telejornais Jornal Nacional, da Rede Globo, e Jornal da Record, da Rede Record.

De acordo com a responsável pela pesquisa, a CPMI foi abordada em apenas 2,6% das matérias analisadas. A maior parte das publicações em que o Movimento foi citado estava relacionada às eleições (97) e, como nos demais assuntos, apresentava carga negativa. "Nas eleições, o MST não entrou como ator social para discutir políticas agrárias, mas de forma negativa pelos candidatos”, comenta.

Nas matérias sobre o Abril Vermelho, segundo colocado nos assuntos que a mídia citou o MST durante o período analisado, o Movimento também não escapou do olhar negativo. "Destaque para o uso de termos pejorativos para se referir ao Movimento [ou as ações dele], como brutalidade, algazarra, atos de vandalismo”, observa.

A violência também foi um ponto de destaque nas reportagens. Segundo Mônica, das matérias que citaram a violência, 42,5% colocaram o MST como autor de atos violentos, enquanto apenas 2% apresentaram o Movimento como vítima. "Ou seja, há uma disparidade grande. Não há uma tentativa de balancear”, comenta.

Para a pesquisadora, o relatório mostra que a "imprensa em geral tem um discurso panfletário em relação ao MST”. De modo geral, ela afirma que não observou nas matérias elementos "que se espera de um bom jornalismo”, como ouvir os dois lados em questão, abordar as causas do movimento, contextualizar as ações, e apresentar as causas e consequências dos fatos.

Direito à comunicação

Para Mônica Mourão, a pesquisa revela que o debate ainda precisa ir mais além e discutir o direito à comunicação. "Ainda precisa de uma pluralidade de vozes. O direito humano à comunicação está sendo violado. Há pouco contraponto”, comenta.

O relatório Vozes Silenciadas – A cobertura da mídia sobre o MST durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito é uma realização do Intervozes com o apoio da Fundação Friedrich Ebert e da Federação dos Trabalhadores em Radiodifusão e Televisão (Fitert).

 

Trabalhadores do campo e da cidade avaliam comunicação contra-hegemônica na blogosfera

A abordagem estigmatizada da mídia corporativa sobre as ações do movimento sindical, que crescem na medida em que o país se desenvolve economicamente, e do movimento social, com destaque negativo para as ações organizadas em torno da luta por reforma agrária, alerta a classe trabalhadora para a urgência do avanço na consolidação de formas de comunicação próprias, que encontram cada vez mais espaço e respaldo na blogosfera.

A oficina autogestionada que uniu os debates sobre sindicalismo na era da internet e perspectivas de comunicação no âmbito da reforma agrária, realizada no último sábado (18/6), durante o 2o Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, em Brasília, apontou a necessidade de produção de conteúdo e da apropriação de novas ferramentas de comunicação frente à cobertura hegemônica da mídia convencional sobre as agendas das organizações.

Guilherme Delgado, pesquisador aposentado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e colunista do informativo digital Correio da Cidadania, apresentou aos participantes aspectos da questão agrária no país e relacionou a marginalização da atuação dos movimentos sociais de luta por reforma agrária na mídia à opção dos governos recentes pelo modelo do agronegócio, caracterizado pela tríade concentração fundiária, foco em cadeias agroindustriais  e produção de matérias-primas voltadas à exportação. Para ele, o modelo do agronegócio não é uma ação singular, mas integra o pacto de economia política que envolve a primarização do comércio exterior “com total adesão e aderência” da política financeira do Estado brasileiro.

“A reforma agrária está à margem da agenda política, embora a questão agrária tenha se agravado nos últimos anos por conta de exacerbada prioridade ao agronegócio. Verifico que alguns temas que estão bombando na agenda política nacional, como o Código Florestal, muitas vezes são abordados sem explicação mais adensada por parte da mídia”, aponta.  “Há vários elementos novos na questão agrária, mas infelizmente esse conjunto de novos conflitos não está devidamente assimilado no mundo da representação política e nos meios de comunicação”.

Na avaliação do jornalista e blogueiro Rodrigo Vianna, que também participou da atividade, o movimento sindical vem avançando na utilização de novas ferramentas de comunicação.  Ele destacou o incentivo que os sindicatos têm dado às iniciativas de comunicação contra-hegemônicas, principalmente na internet. “Como os sindicatos não se veem representados pela mídia tradicional, começam  a investir em parcerias desse tipo. Este encontro, por exemplo, tem bastante apoio de organizações de trabalhadores”.

O distanciamento entre os profissionais de comunicação da grande mídia e o movimento sindical pode originar o ocultamento e o enviesamento das lutas, avalia Vianna. “O jornalista é um dos profissionais com menor índice de sindicalização no Brasil, fruto da influência do discurso liberal dos anos 90. A estigmatização é enorme, e talvez só não seja maior do que a feita em relação aos movimentos de luta pela reforma agrária”. Ao tocar nesse ponto, Vianna comentou ainda como se dá a orientação editorial na chamada “grande imprensa” quando os assuntos estão relacionados aos movimentos de luta pela terra. “As organizações de comunicação usam o termo invasão de terra, em lugar de ocupação, como forma de criminalizar. Eles também obrigam o jornalista a substituir o termo ‘liderança’ do movimento, tido como positivo, pelo termo ‘chefe’ do movimento, em tom pejorativo”, exemplificou.

Agrotóxicos: “Extrapolamos o limite do imaginável”

Atores considerados essenciais ao cenário que prioriza o modelo de expansão da produtividade comandada pelo agronegócio, os agrotóxicos crescem no país e já não preocupam apenas os agricultores que lidam diretamente com esses venenos. “Já é um problema que impacta todas as classes sociais e os consumidores nas cidades”, ressaltou Letícia Silva, gerente de normatização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A especialista falou da influência do mercado sobre as políticas de Estado de controle de agrotóxicos. “As empresas pressionaram para impedir publicação de normas técnicas, por exemplo. A Anvisa conseguiu concluir a reavaliação de seis substâncias com cinco ações judiciais. A lentidão é enorme”, avalia.

Uma das razões, segundo a especialista, está no poder econômico alcançado por esses grupos. Nada menos do que “90% do mercado mundial de agrotóxicos, em todo o mundo, são controlados por 13 grandes empresas”, que utilizam toda sorte de expediente político para pressionar a desregulamentação do setor.

O Brasil é, atualmente, o país que mais consome agrotóxicos no mundo. “Com as proibições de algumas substâncias na China, União Europeia e EUA, vimos as curvas de importação de agrotóxicos para o Brasil aumentaram vertiginosamente. A sociedade precisa se apropriar do tema. Além da questão agrária e fundiária, o tema extrapolou o debate no campo. O leite materno está sendo contaminado. Extrapolamos os limites do imaginável”, acrescentou. Segundo Letícia, entre 2000 e 2010, a produção agrícola brasileira cresceu 20%, enquanto o uso de agrotóxicos, no mesmo período, subiu mais de 100%.

Sindicatos ampliam visibilidade na rede

Marcos Verlaine, jornalista do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), acredita que a internet tem conseguido erodir o monopólio da palavra dos jornais que disputam a opinião da população brasileira. Para ele, o uso da rede por parte do movimento sindical possibilita maior visibilidade à sua atuação.  “Pelo baixo custo, é mais abrangente e mais capilar. Ampliamos o público e olhamos para essa atuação com perspectiva alvissareira”, afirmou.

Segundo Verlaine, o movimento sindical tem avançado nas lutas relacionadas a temas importantes como salário mínimo e terceirização, e a amplificação desses debates no conjunto da sociedade deve ter prioridade na estratégia das lutas. “A deturpação da mídia é cotidiana em relação ao movimento sindical. A mediação do sindicato foi fundamental para a greve dos metalúrgicos de Curitiba, por exemplo, e tratada com preconceito pelos veículos convencionais”. A ampliação do volume de informação gerada com o aumento de fontes de notícias, acredita Verlaine, também oferece mais subsídios para a tomada de decisões. “Sem imprensa, não conseguimos organizar o trabalhador”.

Desafios

Ao final das exposições, os participantes apontaram limites do formato da oficina – que, ao unir os dois temas, diminuiu o tempo para debate – e avaliaram os cenários do movimento sindical e da luta por reforma agrária na era digital a partir de seus espaços de atuação.

Para o mediador do debate, Igor Felippe dos Santos, do setor de Comunicação do MST e da Rede de Comunicadores pela Reforma Agrária, na atual conjuntura política e econômica, o tema da comunicação ganha centralidade tanto para o mundo do trabalho quanto na questão agrária. Ele citou as crises ambiental e alimentar, que pressionam a disputa pela terra em todo o planeta, e a necessidade de problematizar essa questão junto à sociedade, por meio de processos alternativos de comunicação. No Brasil de hoje, segundo Igor, o crescimento econômico deslocou o eixo de luta social para o campo das relações de trabalho, onde o papel dos sindicatos “ganha mais importância estratégica no enfrentamento direto do capital financeiro”.

Como tornar o conteúdo das informações divulgadas pelos sindicatos mais palatável aos jovens trabalhadores, para além da mera utilização das redes sociais? Como aglutinar e potencializar iniciativas no âmbito da luta por reforma agrária, como a Rede de Comunicadores pela Reforma Agrária e o blog, para mostrar que a democratização da terra dá certo?

*Colaborou Pedro Ferreira

 

 

Jornalistas reúnem-se para combater hegemonia conservadora

Encontro realizado em São Paulo reuniu mais de quarenta pessoas, entre jornalistas, professores e ativistas na área da comunicação. Em debate, a luta contra a hegemonia conservadora na construção e disseminação da informação. Nova reunião deverá ser realizada no Rio de Janeiro.

SÃO PAULO – Das 10 horas da manhã às 18h30 aproximadamente, estiveram reunidos na sala Minas Gerais do Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo, 42 jornalistas, professores ou simplesmente pessoas atuantes na área das comunicações, de alguma forma ligados todos e todas ao campo da chamada “imprensa ou mídia alternativas”. A qualificação “alternativa” é contestada por muitos, e essa contestação apareceu na própria reunião. Houve reivindicação de que ao invés de “imprensa alternativa” se falasse de uma “imprensa de esquerda”.

Como não houve deliberação neste sentido (aliás, não houve propriamente “deliberação” na reunião, embora haja pontos consensuais que apontam para futuras ações comuns), este relatório continuará a usar os termos “imprensa ou mídia alternativas”, por serem eles que presidiram o espírito da convocação. E por “alternativa” entendia-se uma imprensa ou mídia de resistência ao esforço da mídia que se auto-proclama “grande imprensa” (outro termo contestado seguidamente) por impor uma hegemonia conservadora na construção e disseminação da informação no Brasil (na América Latina e no restante do mundo), hegemonia esta que se identifica hoje com o pensamento neo-liberal consagrado no Consenso de Washington.

Todas as falas ressaltaram a importância histórica do encontro, que reunia numa mesma sala dezenas de periódicos, páginas de internet, iniciativas no campo do rádio e da tv (muitos poucos, conforme várias observações) e dezenas de comunicadores, alguns envolvidos na “guerra da informação” no Brasil há quatro ou cinco décadas. Foram relembradas experiências valiosas, como as da cadeia de jornais “Última Hora”, as da imprensa alternativa de oposição ao regime de 1964 (quando, inclusive, aquele termo surgiu, como alternativa ao termo, também comum, de “imprensa nanica”), mas a preocupação de todas e todos era muito mais com o presente e com o futuro.

Ressaltou-se a ausência de gente “mais jovem”, pois com poucas exceções, todos os presentes passavam dos trinta anos de idade, sendo que a maioria ficava na casa dos quarenta e na dos cinqüenta.

A importância dada à realização da reunião vinha da constatação de que ali estávamos em tão grande número, buscando formas comuns de ação e de consenso, mas reconhecendo e celebrando também a nossa diversidade e multiplicidade e, aliás, partindo delas. Isso poderia abrir uma nova tradição nesse tipo de reunião, pois a tradição vigente rezava que quando se reunia tanta gente era para promover algum tipo de “racha” iminente.

Houve falas no sentido de que essa tradição dos “rachas” provinha da “partidarização” anterior desse tipo de imprensa (num tempo, nunca é bom esquecer, em que os partidos eram proibidos, exceto os criados pela ditadura de 64) para que, não raras vezes, convergiam experiências e militâncias condenadas à clandestinidade.

Todas as falas tocaram no tema da “Formação” como algo essencial a ser permanentemente discutido e rediscutido, indo além do tratamento de uma “imprensa corporativa” como alvo de mercado a ser perseguido pelos alunos, em favor da discussão de uma “cultura de resistência”. Propôs-se também a valorização da formação fora das universidades, em seminários e outras iniciativas semelhantes feitas, por exemplo, nas periferias das grandes cidades, sindicatos, associações, etc.

Insistiu-se na necessidade da criação de pontos, portais e/ou materiais de referência de um jornalismo alternativo ou de esquerda. Tal objetivo visava lutar contra o esquecimento em várias frentes. Por exemplo, citou-se que num curso de jornalismo os estudantes não conheciam mais quem era ou fora Leonel Brizola. Falou-se muito da existência de “não-fatos”, aqueles que são sistematicamente esquecidos, postos de lado ou simplesmente censurados por orientação ideológica. Lembrou-se de que na “grande imprensa” passou a ser tão ou mais importante do que pautar o que deve ser exposto, pautar o que deve ser oculto ou só mencionado em último caso.

Foi consenso também a ampliação constante dos campos de conexão, sinergia e integração entre os projetos (incluindo mais sistematicamente as experiências de rádios, rádios comunitárias e tevês) alternativos ou de esquerda, estabelecendo redes mediante uma lógica colaborativa e não centralizadora.

Todas as falas ressaltaram a necessidade de se manter a perspectiva da diversidade, de estimula-la, de valorizar as diferenças, não só porque essa era a condição da existência da reunião, mas porque esse é um conceito fundamental diante da cada vez maior indiferenciação da “grande imprensa”, que, no Brasil, possui um epicentro cada vez mais atuante no grande conglomerado formado pela tevê, em particular a rede Globo. A tevê, mais o rádio, e também a internet, são responsáveis pela consolidação do noticiário do dia. Numa função secundária, esse noticiário é comentado à noite, em programas de tevê. E numa função terciária, a imprensa escrita organiza um “relatório comentado” no dia seguinte dirigido aos agentes “formadores da opinião”, em geral conservadora, do país.

“Valorizar as diferenças” como elemento decisivo da informação democraticamente construída não significa valorizar ou submeter-se à dispersão. Deve-se estimular a colaboração concreta entre os projetos, sob a forma de links, pautas comuns, encontros parciais ou novos encontros desse tipo ou grupo, ampliando seu espectro para todas as regiões do país e também da América Latina.

Ressaltou-se muito a questão do espaço latino-americanos, não só como área onde se busquem novos parceiros, mas como tema central da luta pela informação democrática. Houve várias menções à cobertura parcial na “grande imprensa”, com vistas à demonização ou desqualificação dos presidentes Correa e Chávez, e a absolvição velada de Uribe, ainda que se condenasse em quase todos os veículos a invasão de um território soberano, que foi o do Equador. Embora condenada, a agressão de Uribe era invariavelmente apresentada como “defesa”, diante de uma Farc já demonizada desde sempre.

A América Latina é tema complicado para a “grande imprensa”, uma vez que a maioria dos seus comentaristas a têm desqualificado sistematicamente como espaço político. Houve comentários na reunião de que neste sentido a “grande imprensa” não é só de direita, mas também guarda um espírito colonizado, provinciano e anacrônico diante das novas realidades da geopolítica mundial, e que esse espírito se estende, por exemplo, à articulação política do PSDB e do DEM, cujo retorno ao governo federal poderia representar um enorme retrocesso estratégico na política externa brasileira. De resto, destaco, como relator, que esta foi a única referência diretamente partidária feita na reunião.

Outro tema largamente abordado foi a questão da sustentabilidade e da viabilização econômica dos projetos, destacando-se a necessidade de se reivindicar uma reorientação das políticas públicas para a área das comunicações, no sentido de diversificar sua abrangência, seu alcance e a natureza dos projetos subsidiados mediante patrocínio, publicidade ou financiamento através de agências estatais (como o BNDES), rompendo o quase monopólio dos chamados “critérios de mercado”.

Discutiu-se a necessidade de levar essa e outras reivindicações, como a de colocar os Correios de alguma forma à disposição da imprensa alternativa, pessoalmente ou mediante comissão às autoridades públicas envolvidas. Dever-se-ia reivindicar também que as sinopses públicas, como as da Radiobrás, que são inclusive distribuídas internacionalmente por embaixadas brasileiras, abram espaço para veículos alternativos. Essa discussão se deu na moldura de destacar o papel relevante do Estado numa política de democratização das comunicações.

Esse papel é destacado mediante a consideração de que existe uma “guerra da informação”, e que essa guerra é assimétrica, pois de um lado há um quase cartel da informação, formado por grandes corporações que tocam afinadas entre si apesar da eventual concorrência por espaços de mercado, e uma miríade de iniciativas pequenas e dispersas, que necessitam de espaços de aglutinação para preservarem, inclusive, a própria especificidade.

Na visão dos participantes o centro da disputa entre os diferentes tipos de mídia se dá na disputa pela agenda social, cultural, política que se propõe (ou se impõe) à sociedade e às agências de políticas públicas em todos os campos. Um exemplo significativo dessa luta se deu nas eleições de 2006: derrotada na sua campanha contra a reeleição de Lula, a “grande mídia” continuou na refrega tentando impor, através de seus veículos, a pauta de seu candidato preferencial (ou emergencial…). Conseguiram, pelo menos inicialmente, pois dentro do próprio governo e dos partidos de sua aglutinação permanece hegemônica a visão que privilegia essa mídia como espaço de referência.

Essa luta prossegue hoje porque, uma vez que iniciativas como as do PAC promoveram um deslocamento de referências, existe a tentativa correlata de ignora-las ou distorce-las, em favor da pauta de herança neo-liberal que continua animando aquela mídia. Como essa pauta está em crise, graças ao fracasso das políticas neoliberais na América Latina e no mundo (até na Europa e nos Estados Unidos isso começa a aparecer de modo dramático), um esforço considerável do pensamento conservador expresso na “grande mídia” é o de esconder esse fracasso, apresentando-o continuamente como resultado, quando o apresenta, da aplicação apenas parcial ou descuidada da Receita, quero dizer, do Consenso de Washington.

Insistiu-se na ampliação da pauta dos projetos “alternativos”, que, junto com os “não-fatos” ocultados pela “grande mídia”, devem discutir mais e melhor o próprio tema das comunicações e outros conexos. Entre esses temas está o atual da TV pública, reivindicando que ela também propicie um espaço de aglutinação e divulgação da mídia alternativa. Sugeriu-se que nessa ampliação de pautas se dê especial atenção a temas que implicam conflitos como os colocados entre o jornalista Luis Nassif e a revista Veja; ou a Igreja Universal e a Globo e a Folha de S. Paulo; ou o governo do Paraná e a mídia conservadora, que o mantém sob uma espécie de cerco e assédio constantes; ou às lutas das rádios comunitárias, freqüentemente cerceadas em sua liberdade de existência, e com uma situação precária de subsistência, o que, aliás, compartilha como situação com toda a “mídia alternativa”.

O encontro encaminhou-se para a conclusão discutindo diferentes temas ligados à idéia da sua continuidade. Discutiu-se longamente sobre a conveniência e a oportunidade de se lançar uma carta como conclusão dele, sobre se essa carta deveria ter a forma de uma carta à Presidência da República, de uma carta à sociedade, ou de uma carta aberta dirigida ao Presidente. Também sobre se ela deveria apresentar reivindicações ou apontar um diagnóstico ou análise, uma agenda de discussão ao invés de demandas diretas. Houve várias manifestações a favor da idéia da agenda, mas houve também a apresentação à mesa de propostas de cartas com reivindicações gerais e específicas. Ao final, neste sentido, prevaleceu a idéia de uma comissão, formada por mim, Flávio Aguiar, por Mauro Santayana, Renato Rovai e Bernardo Kucinski, que formalize uma proposta de carta e a envie aos demais para amadurecimento da discussão, sem perder de vista à idéia de que não deva haver demora nisso.

Em princípio, fixou-se a necessidade de uma nova reunião desse grupo, provavelmente ampliada, no futuro próximo. A reunião seria realizada no Rio de Janeiro, na UFRJ, e nomeou-se uma “Comissão Executiva” para tratar de seu encaminhamento e da natureza dessa ampliação, se, por exemplo, já incluiria jornalistas de outros países, e também da data de realização. Houve sugestões de que ela fosse realizada em abril, o que foi considerado prematuro por alguns; que ela acontecesse no começo de maio, o que se viu como mais viável, ou até mesmo junho.

Também se discutiu uma intensificação das conexões entre essa “mídia alternativa” e as universidades, seja como frente de disputa de mercado, seja como abertura para a formação de uma consciência mais crítica e aberta não só entre os estudantes mas também entre os educadores e os jornalistas. Essa visão se deu no âmbito da idéia de que se é verdade que o poder da “grande mídia” permanece muito grande, as frinchas em sua buscada hegemonia são hoje mais visíveis, não só pela existência de novas tecnologias que facilitam outras iniciativas nas comunicações, mas pela consciência crescente de que o problema central do jornalismo não é tecnológico, mas ético, e fica mais e mais evidente o fracasso ético das grandes corporações em desenhar uma perspectiva democrática para as comunicações e a sociedade.

Houve várias manifestações em torno da idéia de que os conflitos sociais centrais permanecem sendo os de classe, e que o que opõe essa “grande mídia” e a “mídia alternativa” é a questão da transformação social e de suas implicações, ainda que hoje se tenha maior consciência de que essa também é uma questão a ser encarada com pluralidade e diversidade no campo “alternativo” ou “de esquerda”.

Nada mais havendo a discutir no momento, encerrou-se a reunião com uma foto comemorativa e a indicação deste relator para elaborar o presente relato.

* Flávio Aguiar é editor chefe da Agência Carta Maior

Andi entrega prêmio ‘Jornalista Amigo da Criança’ a 20 profissionais

A Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) realiza, na próxima quinta-feira (12/07), cerimônia para entrega do diploma 'Jornalistas Amigos da Criança' aos 20 jornalistas premiados este ano. O evento, que será realizado na sede da instituição, ocorre na véspera do aniversário de 17anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Segundo a assessoria da Agência, o prêmio, criado há 10 anos, é uma forma de reconhecimento ao trabalho de jornalistas comprometidos com os temas da área social, principalmente aqueles relacionados à infância e adolescência.A escolha dos profissionais, ainda de acordo com a assessoria, não se baseou em uma reportagem, mas na produção contínua de matérias que contribuem para a discussão de políticas públicas dirigidas à população infanto-juvenil.

Na ocasião, também ocorre palestra sobre a responsabilidade do profissional da imprensa na cobertura de temas sociais, a ser ministrada pelo jornalista Rui Nogueira, chefe de redação da sucursal de Brasília do jornal O Estado de S.Paulo. No período da tarde, está prevista a oficina 'Orçamento Público de Políticas Públicas para a Infância e Adolescência', que será conduzida pelo economista Gil Castelo Branco.

Em dez anos de existência, o projeto 'Jornalista Amigo da Criança' já premiou 326 profissionais de imprensa, atuantes em redações de jornais, revistas, sites, emissoras de rádio e tevê, além de ONGs e outras organizações do Terceiro Setor. Entre os premiados figuram nomes como Clóvis Rossi, Gilberto Dimenstein e Zuenir Ventura.

Confira abaixo a lista dos homenageados:

Adalberto Marcondes – diretor de Redação da Revista Digital Envolverde (São Paulo)
Edisvânio Nascimento – radialista da Rádio Santa Luz FM, na região sisaleira da Bahia
Jefson Dourado – gerente de jornalismo da TV Acre
Érika Klingl – repórter especial do jornal Correio Braziliense (Distrito Federal)
Aline Nunes – repórter especial do jornal A Tribuna (Espírito Santo)
Cláudia Feliz – repórter do jornal A Gazeta (Espírito Santo)
Jacqueline Lopes – repórter do jornal O Estado do Mato Grosso do Sul
Fátima Sousa – pauteira do jornal O Norte (Paraíba)
Bianka Carvalho – repórter da Rede Globo Nordeste (Pernambuco)
José Carlos Fernandes – repórter da Gazeta do Povo (Paraná)
Maria Eudiene Martins – apresentadora da Rádio Tropical FM 94,1 (Roraima)
Luciano Abreu – repórter da TV Roraima
Waleska Borges – repórter do jornal O Globo (Rio de Janeiro)
Sheyla Azevedo – repórter do jornal Diário de Natal (Rio Grande do Norte)
Rosina Duarte – jornalista da Alice – Agência Livre para a Infância, Cidadania e Educação (Rio Grande do Sul)
Marta Gleich – diretora de Jornalismo On Line dos jornais do Grupo RBS (Rio Grande do Sul)
Renata Cafardo – repórter do jornal O Estado de S. Paulo (São Paulo)
Alceu Luis Castilho – editor da Agência Repórter Social (São Paulo)
SérgioGomes – diretor da agência Oboré – Projetos Especiais em Comunicação e Artes (São Paulo)