O GT “Economia Política e Políticas de Comunicação” da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós) realizou, nos dias 14 e 15 de junho, em Curitiba, quatro sessões de debate com doze dos mais importantes pesquisadores brasileiros e estrangeiros na área.
O evento foi marcado por reflexões críticas no campo da EPC e reuniu textos de diversas abordagens e objetos, contribuindo para o fortalecimento da Pós-Graduação em Comunicação e o intercâmbio construtivo entre as instituições acadêmicas. Os trabalhos apresentados demonstraram a crescente qualificação dos pesquisadores, que, divergindo ou não em suas linhas de pensamento, conseguem criar conexões temáticas ao conhecimento da comunicação e tentam encontrar soluções para questões atuais.
A primeira sessão de debate contou com a participação dos professores César Bolaño, Valério Brittos e Adilson Cabral, que apresentaram artigos sobre a TV digital no Brasil. Na segunda fase, cuja temática norteou-se no “audiovisual e relações”, Laurindo Leal Filho falou sobre a televisão pública; Luiz Artur Ferrareto tratou da abordagem histórica do rádio e Dóris Haussen discorreu sobre a política nos filmes brasileiros e a relação com a economia, a cultura e a identidade nacional.
Na manhã do dia 15, durante a 3ª etapa de discussões, o professor Alain Herscovici fez uma análise dos sistemas de troca dos arquivos musicais, a partir da idéia de economia “imaterial”, novas formas de concorrência e lógicas sociais não mercantis. William Dias Braga apresentou, baseado na Economia Política da Incerteza, um artigo sobre o valor trabalho nas sociedades contemporâneas e Margarethe Born Steinberger engrandeceu o debate com a relação entre cognição social e valor da informação de domínio público em uma economia das representações interculturais.
“Tecnologia e sociedade” foi o tema da última sessão do GT. Na oportunidade, Luciane Lucas e Tânia Hoff falaram sobre resistência e emancipação social, avaliando a cidadania como condição participante na construção da produção simbólica. Já Eduardo Vizer traçou as etapas da cultura tecnológica e da criação de valor.
O GT de Economia Política da Compós é coordenado por Valério Brittos e foi criado em 25 de abril deste ano, justamente por se tratar de um campo teórico-conceitual multidisciplinar essencial à análise e compreensão da questão social e suas potencialidades de emancipação. O grupo está associado ao estudo e pesquisa das Políticas de Comunicação, entendidas como o conjunto de princípios, disposições constitucionais, leis, regulamentos e instituições estatais, públicas e privadas que compõem o ambiente normativo da televisão, cinema, rádio, internet, publicidade, produção editorial, indústria fonográfica, artes e espetáculos.
Segundo o professor Brittos, a instalação de um GT de Economia Política na Compós é muito importante, pois se trata de um espaço definido no âmbito da pós-graduação em comunicação no Brasil. “O próprio processo de criação já demonstra a inserção deste enfoque nos mestrados e doutorados, reunindo pesquisadores de programas de pós-graduação (além de professores de outros setores) e recebendo o voto do Conselho da Compós. Isto consagra todo um lugar ao pensamento crítico, voltado a discutir a comunicação na sua relação com a política, a economia e os movimentos sociais, trabalhando a questão do poder. Entendo que representa a definição de um lócus para as ciências críticas, debatendo estruturas e dinâmicas, ao lado de tantos outros GTs igualmente importantes”, explica.
Economia Política da Comunicação tem seu início no Brasil marcado como nos anos 80 do século passado e desde então tem avançado muito. Ainda que na década de 90 já houvesse massa crítica para a criação do GT, não existia uma presença mais significativa nos programas de pós-graduação em comunicação, que são a circunscrição principal da Compós. De acordo com o coordenador, o avanço da discussão em torno da Economia Política da Comunicação, das políticas de comunicação e de outros marcos críticos no âmbito dos programas de pós-graduação tem simbolizado uma maior qualificação, já que são produzidas teses e dissertações, construindo coletivamente o conhecimento.
Valério Brittos disse ainda que o encontro do GT foi necessário porque há um grande contingente de pesquisadores de Economia Política da Comunicação realizando um trabalho de alta qualidade. “O resultado foi um debate denso, sério, construtivo e solidário, que contribuiu muito para todos nós, enriquecendo a pesquisa de cada um. A participação da comunidade acadêmica foi intensa, debatendo os textos, durante as sessões do GT, e anteriormente, durante o processo de envio de trabalhos, encaminhando seus artigos, o que qualificou a seleção”, avalia.