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Relator da CPMI retira acusações contra jornalistas e Gurgel

Para tentar viabilizar a aprovação do relatório final da CPMI do Cachoeira, o deputado Odair Cunha (PT-MG) excluiu as acusações contra jornalistas e contra o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Ainda assim, não há acordo que os demais membros apoiarão a nova versão, apresentada nesta quarta (28). Após pedido de vistas coletivo, a CPMI se reunirá no dia 5/12 para votar o documento. Até lá, as negociações continuam.

O relatório original pedia o indiciamento de cinco jornalistas que, conforme o relator, integraram a quadrilha de Carlinhos Cachoeira, promovendo seus negócios ilícitos, prejudicando a imagem dos desafetos dos criminosos e, em vários casos, recebendo dinheiro sujo para isso. “A quadrilha usou sim os meios de comunicação. Pagou jornalistas, plantou notícias. Mas esta não é a questão central deste relatório”, justificou o relator da CPMI do Cachoeira, Odair Cunha, em coletiva à imprensa.

Entre os jornalistas que escaparam do pedido de iniciamento está o diretor da sucursal da Veja em Brasília, Policarpo Junior. Segundo o relatório original, o jornalista colaborou com os interesses da organização criminosa promovendo suas atividades ilícitas, eliminando ou inviabilizando a concorrência e desconstruindo imagens e biografias de adversários comuns da máfia e da publicação. Também eram acusados os jornalistas Wagner Relâmpago, Patrícia Moraes, João Unes e Carlos Antônio Nogueira, que comprovadamente receberam dinheiro do crime para atender às demandas comunicacionais da quadrilha.

O pedido de investigação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que seria encaminhado ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), também foi abortado. Gurgel era acusado de “prevaricar”, ao suspender as investigações da Operação Vegas da Polícia Federal (PF), que apontava sérios indícios das ligações entre a organização criminosa e parlamentares federais. Para Cunha, garantir a investigação de Gurgel também não era o objetivo principal da comissão. “São questões importantes, mas o ponto central de nosso relatório é o núcleo da organização criminosa comandada por Cachoeira”, afirmou.

O relator manteve o pedido de indiciamento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), do ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) e do deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO). E, ainda, o do dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, e o do ex-diretor da Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu. Garantiu que não irá excluir nenhum deles, tão pouco alterar questões estruturais do relatório. “O que podemos é fazer ajustes pontuais”, ressaltou.

‘Liberdade de imprensa não se confunde com comportamento criminoso’

O deputado Protógenes Queiróz (PCdoB-SP) faz várias críticas ao relatório final da CPMI do Cachoeira, apresentado pelo relator Odair Cunha (PT-MG). Defende o aprofundamento das investigações sobre a empreiteira Delta e avalia que não há elementos que comprometam o procurador-geral da República. Mas não tem dúvidas de que a CPMI acertou ao pedir o indiciamento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e de cinco jornalistas.

Com 15 anos de experiência como delegado da Polícia Federal (PF), o deputado Protógenes Queiróz (PCdoB-SP) tem várias críticas ao relatório final da CPMI do Cachoeira, apresentado originalmente pelo relator, deputador Odair Cunha (PT-MG), na semana passada. “De todo, não é ruim. Mas faltou dar foco ao esquema que sustentava a organização criminosa. É necessário quebrar o sigilo das 15 empresas laranjas da quadrilha e o do presidente da empreiteira Delta. Carlinhos Cachoeira é ponta menor neste esquema”, afirma.

Apesar da prorrogação da CPMI para o aprofundamento das investigações sobre a Delta ser uma pauta da oposição ao governo, o deputado acredita que ela é crucial para que a comissão cumpra papel relevante. “Desde o início, eu venho me manifestando no sentido de que o grande problema estava fora do cárceres, onde já estavam presos Cachoeira e seus comparsas. O que interessa ao Brasil é saber como se dá o financiamento das campanhas políticas, e isso passa por mais investigações sobre a Delta”, justifica.

Queiróz também não concorda que o relatório solicite ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) investigação sobre o comportamento do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Ele é colocado sob suspeita de prevaricar, ao suspender as investigações da Operação Vegas da PF, quando já havia indícios suficientes da participação de parlamentares federais na organização criminosa. Em especial o do ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO).

“Este pedido é precipitado. Não há elementos suficientes. Não há materialidade da prova de que a paralisação das investigações favoreceram a organização criminosa. Até porque as investigações foram retomadas posteriormente com a Operação Monte Carlo. O próprio capítulo do relatório que trata sobre o assunto ficou bastante confuso”, destaca.

De acordo com sua experiência na PF, o deputado avalia que o prosseguimento de investigações de esquemas complexos de corrupção, muitas vezes, esbarram na falta de estrutura da própria Polícia e do Ministério Público, sem que isso signifique, necessariamente, prevaricação das autoridades envolvidas. “Quando eu investigava o esquema do Daniel Dantas [do Banco Oportunity], enfrentei este mesmo problema. No momento mais importante da operação, no final do ano, ela precisou ser paralisada. A pouca estrutura desses órgãos ocasiona a não continuidade de investigações importantes”, exemplifica.

Concordâncias

As divergências do delegado licenciado com o teor do relatório, entretanto, param por aí. Segundo ele, o indiciamento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), está corretíssimo, já que os indícios da ligação dele com o esquema criminoso são abundantes. Ele afirma também que as investigações já realizadas não sustentam um possível pedido de indiciamento dos governadores do Distrito Federal, Agnelo Queirós (PT), e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), como cobra a oposição. “Pode ser que a continuidade das investigações revelem novos indícios, mas com o que foi apurado até agora, não há como”, atesta.

Sobre o pedido de indiciamento dos cinco jornalistas apontados pelo relatório final como responsáveis por colaborar com os propósitos criminosos da organização, incluindo aí o diretor da sucursal da veja em Brasília, Policarpo Junior, Queiróz é taxativo. “Há elementos mais do que suficientes. Há jornalistas que receberam dinheiro do crime. No caso do Policarpo, há sucessivas ligações entre ele e Cachoeira e seus comparsas. Há todo o comportamento dele em promover o interesse da quadrilha de desviar dinheiro público. Isso não era o comportamento de um jornalista, mas o de um membro de uma organização criminosa”, enfatiza.

O delegado criticou também a postura corporativa da imprensa de se unir para tentar blindar esses profissionais. “Ao condenar o indiciamento desses jornalistas, a imprensa brasileira está seguindo um caminho perigoso de defesa da prática do crime. Liberdade de imprensa e liberdade de expressão não se confundem com comportamento criminoso”, afirmou.