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Ministério Público coíbe abusos em programas na Bahia

A baixa qualidade de programas conhecidos como “policialescos” vem provocando uma batalha judicial no estado da Bahia. Cenas abusivas e inadequadas ao horário previsto pela classificação indicativa veiculadas pelo programa “Na Mira”, exibido pela TV Aratu, afiliada do SBT no estado, foram o estopim para que o Ministério Público da Bahia entrasse na justiça com uma ação pedindo que o programa fosse retirado do ar. 

A Ação Civil Pública foi ajuizada no último dia 7 pelos promotores de justiça Almiro Sena, da Vara da Cidadania, e Isabel Adelaide Moura, da vara Criminal. Para justificar o pleito de interrupção da transmissão da atração, os promotores alegaram desrespeito aos direitos e garantias fundamentais da pessoa humana.

A ação foi motivada por reivindicações de organizações sociais de Salvador, a partir de uma denúncia feita pelo movimento negro da cidade. As entidades acusaram o programa de violação de direitos humanos e de tratar de forma violenta, desrespeitosa e constrangedora a população negra da capital baiana.

“O problema deste programa não é o de eventualmente ter ultrapassado, nesse ou naquele ponto, os limites do direito humano fundamental da liberdade de ‘expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença’. O problema é muito maior, pois o ‘Na Mira’ viola de forma sistemática, reiterada e ostensiva uma série de outros direitos fundamentais igualmente importantes”, afirmam autores da ação em matéria divulgada na página eletrônica do MPE da Bahia.

Eles acusam o programa de ir contra a Constituição Federal e, de forma sensacionalista, promover a condenação antecipada de pessoas. “Dessa exposição pública, decorre absurda violação da Constituição Federal no que concerne ao princípio que assinala que ‘ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória’”, salientam.

Ainda segundo a matéria, “ao realizar a execração pública, inclusive com xingamentos de pessoas suspeitas, processadas ou condenadas pela prática de algum crime, o programa fomenta a discriminação desses e de todos que se encontrem em situação semelhante, mormente a população afro-descendente moradora de bairros periféricos, por ser essa a que é, quase exclusivamente, mostrada diariamente.”

Adequação

Uma semana após a ação ter sido impetrada pelos promotores, no dia 15 de abril, o juiz Manuel Bahia acolheu a solicitação e determinou a retirada temporária do ar do programa. O magistrado declarou que o 'Na Mira' era exibido em horário impróprio, com cenas de violência e imagens chocantes e desrespeitosas para com a dignidade humana. Contudo, antes mesmo de serem formalmente citados, relata o promotor Almiro Sena, os diretores da TV Aratu procuraram o Ministério Público e pediram a oportunidade de assinarem um Termo de Ajuste de Conduta (TAC).

O termo assinado entre o MP e a TV Aratu garantiu a permanência do programa no ar, porém com as devidas adequações ao horário e aos princípios e exigências constantes na Constituição e na legislação brasileira. O acordo prevê ainda multa de R$ 5 mil reais por dia caso a emissora torne a exibir cenas inadequadas durante o programa. Almiro Sena informa ainda que, desde a assinatura do TAC, o programa demonstrou uma mudança positiva. “Entendemos que o problema está resolvido”, avalia.

O MP tenta articular o mesmo acordo junto à TV Itapoan, afiliada da Rede Record, para proibir os abusos do programa ‘Se Liga Bocão’. Para discutir o assunto, os promotores convocaram os diretores da emissora para uma reunião na próxima semana.

Decisão judicial favorável

Segundo o promotor Almiro Sena, os diretores da TV Aratu e da TV Itapoan já haviam participado, no dia 12 de fevereiro, de uma reunião na sede do Ministério Público para tratar dos excessos na programação exibida em horários inadequados pelas emissoras, especialmente os programas ‘Na Mira’ e ‘Se liga Bocão’, da TV Itapoan.

O diálogo, conta Senna, resultou em uma visível melhor do programa ‘Se liga Bocão’. Já o ‘Na Mira’ manteve os abusos e violações até a celebração do TAC. Antes disso, contudo, os responsáveis pelo programa chegaram a criar um quadro para criticar os ‘homens de capa preta’, em uma evidente referência pejorativa ao Ministério Público da Bahia.

Entidades apóiam

Em nota, entidades baianas declararam apoio à ação do Ministério Público e da Justiça. “A ação dos promotores de justiça Almiro Senna e Isabel de Adelaide Moura e a decisão do juiz Manuel Bahia convergem com as mobilizações nacionais em prol da regulação das concessões de rádio e TV e pela Conferência Nacional de Comunicação. O direito de explorar a frequência e transmitir conteúdo de radiodifusão é concedido pelo Estado sob tutela da representação popular. Cabe ao Estado zelar pela liberdade de expressão das outorgas de radiodifusão desde que não entrem em confronto com os direitos humanos”, diz o texto.

Para Daniella Rocha, coordenadora da ONG Cipó, este é um fato inédito para a sociedade baiana que marca uma luta nova, mas muito importante. “A moção que entidades da sociedade civil da Bahia lançaram é de apoio, aplauso e vigília ao Ministério Público e à Justiça. Estamos nos colocando como vigilantes desse TAC. Vamos fazer o controle público desta ação e cuidar para que as violações não voltem a ocorrer”, afirma.

Big Brother lidera ranking; programa da Band fica em segundo

A coordenação da campanha "Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania" divulgou hoje, dia 3, o 13º Ranking da Baixaria na TV. Foram analisados os programas televisivos que receberam o maior número de reclamações de telespectadores, por telefone e pela internet. O programa campeão de denúncias foi o Big Brother Brasil 7, da Rede Globo. As reclamações vão desde a exposição de pessoas ao ridículo, discriminação, vocabulário inadequado e apelo sexual. O programa Pra Valer, da Rede Bandeirantes, ocupou o segundo lugar.

A maioria das reclamações foi motivada pela incitação à discriminação religiosa e à violência contra animais. Em terceiro lugar ficou a novela Pé na Jaca, da Rede Globo, por exibir uma grande quantidade de cenas de sexo e incitar a violência física contra mulheres e crianças. Ocupando o quarto lugar, ficou o programa A Tarde é Sua, da Rede TV. Os depoimentos recebidos e analisados pela campanha mostram que o programa banaliza os valores morais e vulgariza as relações humanas. Em quinto lugar, ficou a novela Paraíso Tropical, da Rede Globo, por suas várias cenas de sexo e violência.

A campanha foi lançada em novembro de 2002 e já registrou 31.875 denúncias, sendo que de janeiro a agosto deste ano foram contabilizadas aproximadamente 2 mil reclamações de telespectadores insatisfeitos com a qualidade e com a falta de ética da programação televisiva, além do desrespeito aos direitos humanos. As denúncias foram analisadas pelo Comitê de Acompanhamento da Programação, formado por representantes das mais de 60 entidades que assessoram a Comissão de Direitos Humanos e Minorias na campanha.

Para um dos coordenadores da campanha, o professor Edgard Rebouças, da Universidade Federal de Pernambuco, o ranking da baixaria na TV é apenas um dos instrumentos que a sociedade tem para exercer seu efetivo papel de acompanhamento da mídia. "É sempre bom lembrar que as emissoras de rádio e televisão são concessões públicas, sendo que boa parte delas passará por processo de renovação em 2007. Dessa forma, não basta usar o controle remoto para buscar ética e qualidade na programação, é preciso que os cidadãos utilizem seu direito de controle social. E o primeiro passo para isso é denunciar o que incomoda, pelo 0800 619 619", destaca Rebouças