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Morre o jornalista Joel Silveira

O jornalista Joel Silveira morreu de causas naturais na manhã desta quarta-feira, dia 15, em sua casa em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Com mais de 60 anos de carreira e cerca de 40 livros publicados, o sergipano foi pracinha e correspondente na Segunda Guerra Mundial pela divisão da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Trabalhou em diversos jornais do País, como os do grupo Diários Associados, a Última Hora, o Estadão e o Correio da Manhã e a revista Manchete.

Portador da carteira nº 4077 da ABI, Joel associou-se à Casa do Jornalista em 1952, quando era Diretor do Diário de Notícias, referendado por Rubem Braga. Ficou conhecido por ser um dos precursores do jornalismo literário e da cobertura de guerra no País. Na primeira metade do século passado, ganhou o apelido de 'Víbora', por conta da reportagem 'Eram assim os grã-finos em São Paulo', que foi publicada na revista Diretrizes e desagradou profundamente àelite paulistana. Recheado de críticas ao comportamento daquela burguesia emergente, o texto consagrou o jovem repórter, que deixara seu estado natal para se estabelecer definitivamente no Rio de Janeiro.

Como repórter dos Diários Associados, Joel cobriu os mais importantes episódios da História do Brasil no século XX e teve a oportunidade de conhecer praticamente todos os presidentes do período anterior ao golpe militar de 1964. Enfrentou Getúlio Vargas no Palácio do Catete, conviveu na Câmara com o então Deputado Juscelino Kubitschek e foi companheiro de copo de Jânio Quadros. Como correspondente, cobriu a II Guerra Mundial ao lado dos jornalistas Rubem Braga, do Diário Carioca, e Egydio Squeff, do Globo. Boa parte de suas reportagens está registrada nos arquivos dos jornais e em dezenas de livros lançados ao longo da carreira.

Poucos meses antes do suicídio de Getúlio, e com a desculpa de conseguir um emprego, Joel mentiu ao então Chefe da Casa Civil, Lourival Fontes, para conseguir uma entrevista com o Presidente, que não queria atender a imprensa. Por se tratar de um pedido de trabalho, Getúlio recebeu o repórter e disse: “Oi,doutor Silveira, que prazer.” Ele esclareceu que não era doutor, pois só estudara até o segundo ano de Direito, mas o Presidente retrucou: “Não, doutor é quem é douto em alguma coisa e o senhor é douto em jornalismo.” Eles riram e Silveira conseguiu a entrevista.

Convivência Joel teve profunda admiração por Jânio Quadros. Conviveu intimamente com ele; viajaram e beberam juntos. No livro “Viagem com o Presidente eleito”, o jornalista conta os dias que passaram num navio, logo depois da eleição. Com JK, teve convivência fraterna: dividiram até uma namorada, a Osmarina, que fora secretária do então Deputado e que um dia Joel levou em casa, tarde da noite, a pedido de Juscelino. Anos depois, já Presidente, ele perguntou: “Como vai a nossa Osmarina?” “Nossa não, senhor Presidente. Minha”, respondeu o jornalista.

Esquerdista, Joel era fãdo sindicalista Lula, mas crítico do Presidente. E não acreditava que o petista pudesse se reeleger em 2006. Nos últimos anos de vida, perdeu a visão e acompanhava o noticiário por meio da leitura diária dos jornais feita por sua filha, Elizabeth.

Com toda uma vida dedicada ao jornalismo, Joel ganhou diversos prêmios, como o Machado de Assis de Conjunto da Obra, o mais importante concedido pela Academia Brasileira de Letras, e também o Líbero Badaró, o Esso Especial, o Jabuti e o Golfinho de Ouro.

De acordo com informações da família, o corpo chegará ao Memorial do Carmo, no Caju, às 14h desta quinta-feira, dia 16, e será cremado às 15h.