Arquivo da tag: TV pública

Conselho Curador da EBC rejeita planejamento para 2011

A análise do planejamento da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) para 2011 pelo Conselho Curador da empresa teve um desfecho surpreendente. Pela primeira vez nos três anos de existência da EBC, o Conselho Curador se recusou a deliberar sobre o Plano de Trabalho para os Canais Públicos da estatal, entendendo que o documento não é claro sobre os planos da empresa. Na prática, o silêncio das câmaras setoriais que compõem o conselho significa a rejeição da proposta apresentada pela diretoria técnica da empresa. A decisão de não deliberar foi unânime. Segundo Tereza Cruvinel, presidente da EBC, novas informações serão encaminhadas ao conselho para sanar as dúvidas que tenham ficado.

Uma das grandes falhas apontadas pelas câmaras sequer têm relação com a operação esperada da EBC neste ano, mas toca em um ponto crucial em relação aos princípios que norteiam a constituição da estatal: a transparência. Boa parte dos membros do conselho ficou incomodada com a ausência de um balanço sobre os resultados obtidos na gestão 2010 da empresa. O documento enviado pela diretoria não faz uma avaliação específica sobre as metas estipuladas para o ano passado, omitindo-se sobre o cumprimento dos objetivos ou não. O texto concentra-se nos novos desafios da EBC, restritos aos assuntos envolvendo "programação e serviços conexos oferecidos pelos canais públicos", considerados os temas "afetos" ao conselho na visão da diretoria.

A restrição do documento a apenas alguns temas envolvendo a operação da EBC, escolhidos pela diretoria, é motivo de discórdia dentro do conselho curador desde a criação da empresa pública. Na visão de alguns conselheiros, a estatal nem sempre tem garantido a participação do conselho em debates considerados relevantes, como é o caso da contratação de empresa para atuar como operador do futuro sistema público de televisão, e de fato existe uma área de sombra sobre se temas gerenciais deveriam ou não ser debatidos pelo colegiado.

Mas, com relação ao planejamento das atividades de 2011, a maior crítica é bastante objetiva: a ausência de um cronograma específico para o cumprimento das metas propostas pela direção da empresa. O único prazo citado no documento é o tempo de vigência do mandato da atual presidente Tereza Cruvinel, que expira em outubro deste ano. Assim, por uma questão prática, a diretoria se compromete a atingir os objetivos descritos durante a gestão da presidente. Os prazos internos para a execução de cada uma das metas, no entanto, não existem. E, o próprio comando da EBC faz um mea culpa logo no início do documento sobre este aspecto.

Segundo o relatório da diretoria da EBC, o "alto grau de imprevisibilidade" da operação de comunicação é o motivo da inexistência de uma previsão temporal sobre quando serão executadas as mudanças propostas na programação da EBC. "A gestão de canais de comunicação é regida por alto grau de imprevisibilidade, que se eleva no setor público em função dos regramentos jurídicos. Assim, evitaremos apresentar aqui um cronograma de mudanças na grade ou de estréias, embora tais movimentos devam acontecer, mediante conhecimento prévio do Conselho Curador", afirma a diretoria da estatal na apresentação do planejamento.

O Conselho Curador entende que a operação no ramo das comunicações é bastante imprevisível, mas a experiência das grandes empresas desse ramo mostra que há um esforço contínuo em tentar reduzir essas incertezas e que a fixação de um prazo continua sendo possível apesar das características peculiares desse mercado. Por isso, os conselheiros entenderam que o documento precisa ser reformulado, expondo um mínimo do plano concreto de trabalho que a EBC pretende adotar. O próprio documento indica que a estatal está produzindo um planejamento mais robusto, embora não esteja previsto o encaminhamento desta nova versão ao Conselho Curador.

Demanda atendidas

Procurada por esta reportagem, a presidente da EBC esclareceu que pretende atender as demandas do Conselho Curador, especialmente com relação aos prazos. Tereza Cruvinel, presidente da estatal, explicou que as informações solicitadas já estão sendo compiladas para a formulação do Relatório de Gestão e do Plano de Metas 2011, documentos que inicialmente seriam encaminhados apenas para os conselhos de administração e fiscal da EBC. "Nós temos todas as informações e só não colocamos (no Plano de Trabalho) porque não achamos pertinente no momento. Mas, se o Conselho Curador acha que é importante, nós encaminharemos. Eles mandam, nós cumprimos", afirmou Tereza.

Esses dois outros documentos devem ser finalizados até março deste ano, quando ocorrem as próximas reuniões dos conselhos. A EBC tem trabalhado para enviá-los aos conselheiros até o dia 14 de março, dez dias antes das reuniões agendadas para o mês, dando tempo para que os detalhes sejam analisados antes da deliberação. Com relação aos custos dos projetos, Tereza insistiu que essas informações, em princípio, não são relevantes para o debate no Conselho Curador. Na visão da presidente, a análise exaustiva feita desses dados pelos conselhos de administração e fiscal é mais do que suficiente para dar transparência à atuação da estatal. Esses dados são encaminhados e avaliados, inclusive, pelo Tribunal de Contas da União.

Tereza esclareceu ainda que a diretoria da EBC fez um balanço das atividades realizadas em 2010 para o Conselho Curador em setembro do ano passado, a pedido dos conselheiros. E, depois disso, não houve mais nenhuma solicitação de informações sobre o resultado das ações planejadas. "Se eles queriam uma segunda prestação de contas, deveriam ter pedido. Nós nunca nos recusamos a apresentar qualquer informação."

Saia justa

A rejeição da proposta anual da EBC ocorreu em uma ocasião delicada: durante a posse dos ministros Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), Helena Chagas (Comunicação Social) e Anna de Hollanda (Cultura) no Conselho de Administração da empresa. Apesar do clima ruim, conselheiros ouvidos por este noticiário fizeram questão de dizer que o posicionamento adotado na última terça-feira não representa qualquer tipo de desabono com relação à diretoria.

Tereza Cruvinel também entende que o episódio não gera efeitos nocivos à EBC, por estar centrado apenas em uma questão de procedimento administrativo. "O que seria negativo para a empresa é se houvesse algum questionamento sobre o conteúdo. Isso seria grave", ponderou a presidente. "Mas ninguém jamais apontou até hoje um conteúdo inadequado em nossa programação", complementou.

Para Tereza, o episódio revela a necessidade de deixar mais claro qual é o escopo de atuação do conselho curador da EBC. A lei de criação da empresa não entra em detalhes sobre até onde os conselheiros devem deliberar sobre a gestão da estatal. E esse perfil legal é compreendido pelos conselheiros como uma intenção do legislador de dar a mais ampla liberdade ao grupo. Mas, pelo que se pode perceber, o entendimento da diretoria não é o mesmo, tornando praticamente inevitável que conflitos dessa natureza continuem ocorrendo.

TVE formaliza acordo TV Brasil

A Fundação Cultural Piratini Rádio e Televisão e a Empresa Brasil de Comunicação (TV Brasil) firmaram oficialmente termo de autorização para a transmissão de sinais, sons e imagens pela emissora gaúcha, em encontro nesta quarta-feira, 9. Com a parceria, a programação local será mantida, ampliada e poderá ser veiculada nacionalmente pela TV Brasil. Conforme o presidente da Fundação Cultural Piratini, Pedro Osório, existe a possibilidade de o programa infantil Pandorga ser transmitido para outros estados.

O acordo foi acertado pelo representante da EBC, Luís Henrique dos Anjos, e por Pedro Osório. Na mesma oportunidade, foi assinado um convênio para o uso compartilhado do prédio-sede da TVE, na Capital gaúcha. Até março, EBC deve instalar um escritório de representação, conforme acordo, nas dependências da Fundação Cultural Piratini.

O prédio hoje ocupado pela Fundação Cultural Piratini foi comprado pela EBC, no final de 2009, para instalar sua gerência regional, o que só o faz agora, em 2011. A emissora do governo do Estado chegou a receber um prazo para deixar o local. Em janeiro de 2010, porém, a então governadora Yeda Crusius recebeu da presidente da EBC, Teresa Curvinel, um ofício com a oferta para que a TVE permanecesse no local. Somente agora, o acordo foi formalizado.

Alguns programas da TV Cultura continuam a ser transmitidos, pois integram a grade de programação da TV Brasil. A alteração já feita é a substituição do noticiário da TV Cultura pelo programa Repórter Brasil. Atualmente, os programas locais ocupam 4,5 horas de duração da programação diária da emissora. O objetivo, segundo Pedro Osório, é chegar a 7,5 horas de programação local. As mudanças na grade de programação da TV Cultura, em função da recente demissão de 150 funcionários, não alteram a grande da TVE. O sinal da TV Brasil está sendo transmitido pela TVE desde o início deste mês.

Falta de profissionais e problemas técnicos emperram crescimento da EBC

Em outubro de 2007, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a Medida Provisória 398, que criou a Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Resultado da junção de outras estruturas (Radiobrás e ACERP-TVE, do Rio de Janeiro) a empresa pode ser considerada a principal medida de seu governo no sentido de fortalecer um sistema público e nacional de comunicação e caminhar para a efetivação do Artigo 223 da Constituição Federal, que prevê a complementaridade dos sistemas público, privado e estatal na mídia brasileira.

Nesses três anos, os veículos da EBC vêm tentando se consolidar como uma alternativa às programações dos meios de comunicação privados. Às vezes exibindo conteúdos que dificilmente interessam aos comerciais e às vezes disputando a atenção do público com temas e pautas que também estão na ordem do dia da mídia comercial. Carrega ao mesmo tempo a função de gerenciar os canais públicos e também os oficiais, como a TV NBR (do Executivo) e a Voz do Brasil (produzido pelos Três Poderes e distribuído pela EBC, também responsável por produzir a parte do Poder Executivo no programa).

Fato é que ao mesmo tempo em que a empresa tem buscado cumprir sua missão e agradar cada vez mais cidadãos, ela tem se ocupado nesse começo de vida com muitos problemas técnicos e administrativos. A qualidade do sinal das transmissões de suas rádios e de seu carro-chefe, a TV Brasil, por exemplo, ainda é motivo de muitas reclamações dos usuários. E, pior que isso, muitos sequer têm acesso aos canais.

A TV Brasil pode ser sintonizada pelas antenas parabólicas, pelas operadoras do cabo (somente a Sky oferece para todo o país) e em sete cidades em canal aberto (Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo, São Luis, Arraial do Cabo, Macaé e Campos dos Goytacazes). Segundo a EBC, somados todos esses meios, a emissora está disponível para cerca de 120 milhões de brasileiros.

Não é possível saber a audiência dos programas da TV Brasil porque, de acordo com a direção da empresa, o contrato com a empresa que faz a medição – no caso, o Ibope – impede que eles sejam divulgados. E quando não impede, limita seu uso. No entanto, uma pesquisa realizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom/PR) em 2010, em todo o território, revela que 36,8% das pessoas já ouviram falar da TV e apenas 17,8% afirmaram que costumam assisti-la.

Para o diretor de Serviços da EBC, José Roberto Garcez, é preciso relativizar esses números levando em conta fatores como o pouco tempo de existência da empresa e a história da comunicação no país, que privilegiou os veículos comerciais. “Considerando o contexto, acho que podemos exibir esse número com orgulho”, defende.

No entanto, nem a direção da empresa nem os defensores do sistema público de comunicação escondem o desejo de ver a emissora com índices mais elevados de alcance e audiência. “Não há serviço público sem universalização do sinal”, pensa a pesquisadora e integrante do Coletivo Intervozes Mariana Martins.

Uma forma de ampliar a abrangência dos conteúdos da TV Brasil é formando uma rede com as emissoras do campo público locais. Hoje, 22 estados participam da rede, que ocupa 10 horas do tempo diário de cada uma. Desse tempo, 4 horas são de conteúdos das próprias associadas, 4 horas de produção da TV Brasil e 2 horas (no mínimo) de programas infantis, independente de onde sejam feitos.

Mas esse modelo deve ser alterado em breve com a construção de um operador de rede digital. Enquanto isso não acontece, não devem ser feitas grandes mudanças para aumentar a abrangência da TV. “O sistema analógico está condenado”, lembrou a presidente da EBC, Tereza Cruvinel, em audiência pública realizada no fim de 2010, em Belo Horizonte. O governo trabalha para que todo sistema analógico de televisão deixe de existir em 2016 no Brasil.

Sinal

Além da limitação de abrangência, outro problema que tem requisitado esforços da direção da empresa é a qualidade do sinal, que também influencia no índice de audiência da emissora. “Talvez o desafio mais difícil”, afirma Garcez. Chuviscos e falta de sincronização entre som e imagem são alguns dos transtornos que chegam aos usuários.

Esses problemas de sinal acontecem na estrutura do Rio de Janeiro, segundo Garcez. É lá que é feita a distribuição para o satélite. Ocorre que alguns equipamentos, como o controle mestre e cabos, da ACERP-TVE são muito antigos e prejudicam a qualidade da transmissão. As câmeras e as ilhas de edição são modernas.

“Para mudar tem que ter outras instalações. Tem que refazer os estúdios”, explica José Garcez. O diretor garante que esse trabalho de manutenção e troca de equipamentos já começou a ser feito, mas só deve ser concluído no final deste ano. Algumas rádios também estão em processo de troca de seus transmissores. A Nacional da Amazônia funciona com o mesmo transmissor desde sua fundação, há 33 anos. A compra de um novo já está sendo operada.

Recursos humanos

Mas a consolidação e crescimento da EBC não passam apenas por questões técnicas. Outro desafio a ser superado é a falta de profissionais em quase todas as áreas e veículos da empresa. Para a presidente do Conselho Curador, Ima Vieira, ao lado da distribuição de conteúdos, esse é o principal problema da EBC.

Essa falta de pessoal é claramente notada no jornalismo da empresa. Segundo a primeira-secretária do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, Juliana Cézar Nunes, a produção de materiais por uma mesma pessoa para vários veículos tem sido comum na empresa. Mais para suprir a falta de profissionais do que por uma decisão editorial.

"Alguns repórteres fazem matéria para a TV NBR e Voz do Brasil ou Agência Brasil e rádios”, relata Juliana. Segundo ela, há uma falta de planejamento para essa produção multimídia. “Não há regras claras para a atividade, nem capacitação e nem verba. Isso acaba prejudicando o produto final e esgotando os profissionais”, sintetiza. Os trabalhadores já pediram um adicional para o exercício da atividade, mas a empresa negou.

O que a direção do Sindicato dos Jornalistas do DF tem cobrado para resolver o problema é a realização o mais breve possível do concurso previsto para substituição de temporários (cerca de 180), que têm seus contratos cancelados em 30 de julho, e também para ampliação do quadro de funcionários. A empresa tem cerca de 1.100 concursados, segundo a assessoria de imprensa da EBC.

 

Como o prazo é curto, há notícias que o edital deve ser divulgado no Diário Oficial da União até o fim de fevereiro. A previsão é que sejam abertas de 300 a 400 vagas. As vagas são para nível médio (áreas técnicas) e superior (jornalistas, advogados, economistas, arquitetos). No caso dos jornalistas, serão contratados editores e repórteres. Os dois com o mesmo salário base.

Avaliação

Mesmo com todos esses desafios estruturais, a avaliação de muitos que defendem um sistema público de comunicação forte no país é que a EBC já causou uma mudança para melhor no cenário nacional. “O Brasil não tinha história de debate sobre papel da TV pública. Hoje essa questão está na sociedade”, considera o professor, jornalista e ouvidor-geral da EBC, Laurindo Leal Filho.

O professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília Murilo César Ramos avalia que ainda é difícil dizer se a TV Brasil proporcionou um grande impacto no sistema de mídia brasileiro pelo pouco tempo de vida do canal. “No geral, a experiência é muito positiva”, diz ele, que também é membro do Conselho Curador da EBC.

O que eles esperam é que esse processo de fortalecimento da EBC não volte atrás. Para isso é necessário que a empresa seja cada vez mais independente do governo e do mercado. É o que também pensa Mariana Martins, do Intervozes. “O que se espera é que de fato haja uma continuidade desse sistema com gradual ampliação. Que a participação popular não retroceda, que os investimentos públicos não retrocedam. Ela (EBC) ainda é um embrião. Que passe a existir de fato como um sistema público”, pede Mariana.

 

* Atualizada em 28 de janeiro, às 18h25.

Telespectadores consideram TV Brasil uma alternativa às emissoras comerciais

Mesmo com índices de audiência ainda baixos se comparados com as emissoras comerciais abertas, a TV Brasil, carro-chefe da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), tem se mostrado uma alternativa cultural e informativa para muitas pessoas. Ela é a televisão nacional que mais exibe filmes brasileiros, produções independentes e tem uma elogiada programação infantil.

É a única que mantém um programa de crítica de mídia (Observatório da Imprensa) e tem uma janela direta para os telespectadores, por meio do quadro Outro Olhar, em que qualquer cidadão pode ter seu vídeo exibido em horário nobre pelo telejornal da emissora. Também talvez seja um dos únicos canais que privilegia o continente africano, com produções que falam da África e um correspondente de jornalismo na região.

"Quem assiste percebe que ali há um certo oásis na TV”, diz o jornalista e ouvidor-geral da EBC, Laurindo Leal Lalo Filho. Segundo Lalo, as maiores audiências e elogios da TV Brasil vêm dos conteúdos que o telespectador não encontra em outras emissoras. É o caso da programação infantil, que tem os índices de audiência mais elevados da TV. E seguindo a mesma lógica, de ser complementar, que fez com que a empresa começasse a transmitir jogos do campeonato brasileiro da série C este ano.

Jornalismo

Como ainda não é um órgão totalmente autônomo do governo federal, desde o nascimento a EBC tem sofrido críticas de alguns setores sobre sua possível falta de isenção em relação ao Executivo. Mas, concretamente, esses casos não têm chegado à Ouvidoria da empresa. O ouvidor-geral Laurindo Leal afirma que a questão do jornalismo governista não aparece nas reclamações dos telespectadores. “Passamos o período eleitoral sem grandes problemas”, relata.

O maior volume de reclamações que chegam aos ouvidos de Lalo não é referente ao que acontece no país. “O mais problemático é a cobertura internacional. Ela repete muitas vezes as posições das agências internacionais. No jornalismo é a grande reclamação”, sentencia.

No entanto, mesmo que não se transformem em reclamações formais, não é difícil assistir a matérias nos jornais da TV Brasil que têm enfoque quase idêntico aos feitos nos telejornais comerciais. Talvez isso aconteça pela dificuldade dos profissionais da empresa em diferenciar o jornalismo da emissora das televisões estatais e privadas.

É por esse motivo que o Conselho Curador aprovou em junho de 2010 um parecer cobrando que seja produzido um novo manual de jornalismo – em substituição ao Manual da Radiobrás – para guiar todos seus veículos. O prazo para confecção do material se encerra em 15 de junho deste ano. Para auxiliar nessa reflexão, o Conselho Curador também pretende realizar um seminário internacional sobre jornalismo público neste semestre.

O Conselho Curador, que é o órgão que representa a sociedade na EBC, também tem começado a olhar com mais cuidado a programação da TV, fazendo análises mais densas sobre as qualidades e falhas dos conteúdos exibidos. No ano passado, os conselheiros se dividiram em grupos temáticos para tornar a avaliação dos programas mais precisa. Além disso, o Conselho tem contratado acadêmicos para contribuir nesse processo com pesquisas.

Os 15 representantes da sociedade no Conselho são dos poucos que têm acesso aos índices de audiência da TV Brasil, já que a direção da empresa não divulga esses números. Segundo a presidente do Conselho, Ima Vieira, é possível verificar que a audiência cresceu nos últimos três anos, mas ainda é necessário atingir muito mais gente do que se atinge atualmente. “Não podemos desprezar esse indicador, pois embora nossa missão não seja fazer comunicação para todos ao mesmo tempo, não podemos produzir conteúdo para ninguém ver”, avalia Ima.

Participação social

O trabalho do Conselho vai além de monitorar os veículos da EBC. Sua atuação perpassa todos outros setores da empresa e sua existência é um principais elementos que distinguem uma TV pública das privadas e estatais. Para o ouvidor Laurindo Leal, a dinâmica do Conselho tem evoluído. “Hoje ele atua. Tem câmaras setoriais, se reune para discutir temáticas, produz documentos, solicita informações”, elogia Lalo.

De fato, quando foi criado, em 2007, o Conselho era mais fechado. Nem as atas das reuniões eram públicas. Além disso, a primeira gestão, presidida pelo economista Luiz Gonzaga Beluzzo, teve 19 dos seus 22 membros indicados pelo presidente da República. Outros dois pelo Congresso e um pelos trabalhadores da EBC.

Em 2009, quando o mandato de alguns conselheiros se encerrou, o processo de escolha foi um pouco diferente. Foram abertas indicações feitas pela sociedade para que o presidente Lula definisse os nomes. Mesmo assim, essas indicações ainda passaram pelo filtro do Conselho e pela escolha do presidente.

Se depender da posição da presidente do órgão, é possível que a próxima eleição de conselheiros seja ainda mais aberta à sociedade. “Acredito que é possível discutir mecanismos que garantam uma participação mais direta da sociedade na escolha e nomeação dos próximos conselheiros”, opinou Ima Vieira.

Para Ima, o Conselho também deve permear mais as decisões da EBC. Ela também defende que os responsáveis pelas diretorias diretamente ligadas ao conteúdo deveriam ser aprovados ou no mínimo referendados pelo órgão, já que é ele o responsável por zelar pela área finalística da empresa.

Além de garantir a autonomia e a independência do Conselho Curador existem outras maneiras de aumentar a incidência da população nos rumos da EBC. Uma delas é a realização de audiências públicas. Outra é o fortalecimento da Ouvidoria da empresa que, além do ouvidor-geral, conta com três ouvidores-adjuntos: um para a Agência Brasil, um para as oito rádios da EBC e outro para a TV Brasil.

Na Agência Brasil existe um canal em que o leitor pode postar seu comentário. Da mesma forma existe um programa que debate as reclamações e sugestões dos ouvintes das rádios. Apenas a TV ainda não conta com um espaço público para a Ouvidoria. A promessa desse programa é antiga e, segundo Lalo, ele só ainda não foi ao ar por falta de condições operacionais. “Já tem até material gravado. Estamos dependendo de acertos finais”, garantiu. Ele terá 15 minutos de duração e será exibido semanalmente.

 

Programa de enxugamento da TV Cultura prevê terceirização de produção e cortes

O presidente da Fundação Padre Anchieta, João Sayad, instalou um programa de enxugamento de atividades que não se relacionam à missão da TV e rádio Cultura, geridas pela entidade. Entre as medidas, segundo a Folha.com, estão a não renovação de contratos com a TV Justiça e a TV Assembleia e a terceirização da produção de programas da TV Cultura.

Atualmente, a Fundação está sob ameaça de acumular uma dívida trabalhista de RS$ 160 milhões – referente ao valor de ações de ex-funcionários que estão pleiteando na Justiça indenização. Com o enxugamento, a meta é de que apenas 30% da programação – como as atrações "Roda Viva", "Vitrine" e os programas infantis – seja produzido pela equipe da Cultura. Além disso, com a não renovação dos contratos com a TV Justiça e a TV Assembleia, cerca de 285 funcionários poderão ser demitidos.

Segundo a Folha.com, a decisão está alinhada à opinião do secretário de Cultura de São Paulo, Andrea Matarazzo. A Cultura fará editais ainda este ano para comprar programas de produtoras independentes, e pretende usar recursos públicos, como o Fundo Setorial Audiovisual (FSA), e ampliar patrocínios de empresas por meio de incentivo fiscal.

O presidente da mantenedora da TV Cultura declarou que as medidas têm por objetivo concentrar o "reduzido talento administrativo na telinha e no rádio". Ao ser questionado sobre o fim dos contratos com a TV Justiça e a TV Assembleia, Sayad justificou dizendo que "o foco da TV é o seu público", e que as operações para colocar as duas emissoras no ar consomem a energia da equipe de produção e impõem encargos trabalhistas.

"Essas outras atividades, que imaginávamos dar uma margem [financeira], nos causam grandes problemas administrativos e trabalhistas", afirmou. Além disso, o aumento do passivo trabalhista, que pode chegar a R$ 160 milhões caso a emissora perca ações na Justiça, representa quase o dobro dos R$ 84 milhões repassados pelo estado de São Paulo à Fundação.

Sobre as demissões de funcionários, Sayad declarou que eles não ficarão desempregados, e que possivelmente serão incorporados às novas equipes que produzirão para a TV Assembleia e a TV Justiça. O presidente da gestora da TV Cultura contratou uma empresa de consultoria para regularizar a situação jurídica dos empregados, que entre algumas medidas estão a criação de um comitê para avaliação de contas e, até mesmo, mudanças na iluminação.

"Estamos reprogramando a imagem fotográfica", explicou. "Há uma reclamação secular que a Cultura é escura. Sempre achei isso. Contratamos um iluminador e vamos fazê-la clara, cheia de luz", disse.

Já a programação da emissora será avaliada de acordo com critérios de custo, audiência, participação no número de televisores ligados (share), repercussão e se as concorrentes têm ou não uma atração semelhante. A exclusão de programas que não gerem índices de audiência acima de alguns parâmetros não está descartada por Sayad. Ele explicou que alguns programas eram incluídos na grade sem uma avaliação prévia, pelo fato de terem sido financiados por alguma empresa e por não gerarem custos ao canal.

"Depois da internet, o público específico não precisa ocupar horário nobre da TV. Tenho preocupação com audiência", afirmou. "É um esforço para que a grade não seja suja por um programa só porque tinha verba e fazer com que o telespectador, ao zapear, fale: 'Aqui, só tem porcaria'".