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Renan e suas rádios: concessões legais, mas imorais

Reza a sabedoria popular que bater em bêbado é covardia. Pois parece ser isto o que está ocorrendo no episódio envolvendo Renan Calheiros (PMDB-AL). Na noite de quarta-feira, no Jornal da Globo, a poderosa emissora apresentou mais uma denúncia contra o presidente do Senado: os laranjas denunciados em Veja e o filho de Calheiros e prefeito de Murici teriam sido beneficiados pela outorga de concessões de emissoras rádios em Alagoas já no período em que Renan estava sendo investigado no Conselho de Ética. Pior: ele mesmo teria assinado o decreto legislativo beneficiando seu filho.

É preciso entender que as concessões foram aprovadas de maneira absolutamente legal na Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado e o nome de Renanzinho inclusive consta do contrato do Sistema Costa Dourada, um dos beneficiários das tais concessões aprovadas em julho. A assinatura de Renan no decreto é mera formalidade, ele não votou nem influenciou na aprovação da concessão, pois isto não é necessário dado o espírito de corpo presente no Senado, como se verá a seguir.

Bater é fácil

Tudo somado, não há ilegalidade alguma no processo, é assim que a coisa sempre foi feita, o que inclusive motivou uma representação do Projor, entidade mantenedora deste Observatório da Imprensa, no Ministério Público Federal contra a autoconcessão de emissoras de rádio e televisão pelo Congresso Nacional.

É também verdade que o caso de Renanzinho não se enquadraria estritamente no modelo contra o qual o OI representou, pois o filho de Renan não é parlamentar. Mas é óbvio que a concessão em questão é uma grande imoralidade, embora não tenha havido ilegalidade alguma. Se a representação do Projor surtir efeito, o Congresso deverá mudar a legislação e criar barreiras para o chamado "coronelismo eletrônico" – os políticos que se aproveitam da mídia para alavancar suas carreiras.

Tudo isto dito, a verdade é que Renan virou o bêbado da briga. Todo mundo agora tem coragem de dar um cascudo no presidente do Senado. Se a TV Globo for séria, tem a obrigação de revelar ao distinto público os nomes dos políticos que têm concessões das chamadas "afiliadas", que retransmitem a programação global Brasil afora… Bater em bebum é fácil, difícil mesmo é fazer bom jornalismo.

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Concentração e diversidade: a urgência do Quinto Poder

A compra do grupo Dow Jones (que edita o The Wall Street Journal) pela News Corporation recoloca questões cada vez mais incontornáveis em relação ao poder da mídia e aos limites do jornalismo no mundo contemporâneo. Torna-se cada vez mais difícil sustentar o velho discurso liberal da "imprensa" como quarto poder fiscalizador do Estado e defensora dos direitos dos cidadãos e, conseqüentemente, da autonomia e independência do jornalismo.

Alguns poucos conglomerados privados controlam boa parte do que se vê, se ouve e se lê no mundo. Na permanente dinâmica dos mercados, os nomes variam, mas o número de integrantes desse seleto grupo faz tempo não chega a dez: General Electric (NBC), TimeWarner, Walt Disney, News Corporation, CBS, Viacom, Sony e Bertelsmann (cf., por exemplo, The Big Six).

A News Corporation faturou 24 bilhões de dólares em 2005 e sua face conhecida entre nós é a dos canais Fox e National Geographic, exibidos nas grades de programação da NET (Globo/Telmex) na TV paga, mas o conglomerado inclui também jornais, revistas, livros, cinema, internet e televisão aberta.

Esses grandes grupos empresariais são, eles mesmos, poderosos agentes econômicos com interesses ativos na formulação das políticas públicas nos países em que atuam, diretamente ou através de seus parceiros locais. E é dentro desse contexto – de pertencer a um gigante econômico – que se faz o jornalismo das empresas de mídia desses grupos.

Transparência nenhuma

O comprometimento político (e até partidário) do jornalismo da News Corporation já está fartamente documentado. Na pesquisa sobre a transparência nos sítios dos 25 principais grupos globais de mídia recentemente realizada pelo International Center for Media and the Public Agenda a Fox News e a Sky News, canais de jornalismo da News Corporation, tiveram os piores índices de transparência (1,2 e 0,4, respectivamente).

No que se refere à Fox News, a pesquisa revelou que não existem informações no sítio sobre correções de eventuais erros cometidos; não existe informação sobre conflito de interesses, código de ética ou valores que orientam a prática jornalística; e não existe ombusdman.

Com a compra do grupo Dow Jones, a News Corporation passa a controlar o maior produtor e o principal jornal – o Wall Street Journal – de notícias econômicas dos Estados Unidos. Além disso, no mês de outubro próximo, entra no ar o canal de notícias econômicas do grupo, o Fox Business Network, concorrente direto dos atuais canais Bloomberg Television e CNBC (NBC).

Articulação cidadã

Haverá possibilidade de o jornalismo – econômico e político – aí produzido ser autônomo e/ou independente?

Há como negar o poder que o grupo News Corporation passará a ter na construção da agenda e da própria realidade econômica financeira – e, portanto, política – dos mercados onde atua e/ou possui interesses?

Há de se considerar, portanto, cada vez mais atuais as advertências feitas por Ignacio Ramonet no seu "O quinto poder". Diante dos gigantes da mídia é necessário que a cidadania articule um poder capaz de fiscalizar democraticamente o seu superpoder.

A compra da Dow Jones pela News Corporation torna ainda mais evidente que a grande mídia se transformou no "único poder sem um contrapoder".

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Falta de transparência compromete a credibilidade da imprensa

O International Center for Media and the Public Agenda (ICMPA) da University of Maryland tornou público, no início da semana passada, os resultados de uma importante pesquisa sob o título "Openness & Accountability: A study of transparency in global media outlets"

Coordenado pela Dra. Susan Moeller (PhD Harvard; BA Yale), o estudo pesquisou os sítios de notícias das 25 principais empresas de mídia dos Estados Unidos, Inglaterra e do Oriente Médio [ABC; Al Jazeera (em inglês); CBS; CNN; Fox News; ITN; NBC/MSNBC; Newsweek; NPR (edição da manhã) ; PRI/BBC/WGBH: "The World"; Sky News; The BBC World Service; The Christian Science Monitor; The Daily Telegraph; The Economist; The Financial Times; The Guardian; The Int’l Herald Tribune; The Los Angeles Times; The Miami Herald; The New York Times; The Wall Street Journal; The Washington Post; Time e USA Today] em torno de cinco critérios básicos:

1. Correção de erros: existe disposição para reconhecer e retificar os erros cometidos?

2. Propriedade: os leitores sabem quem são os donos da empresa de mídia?

3. Política de emprego: como a empresa trata eventuais conflitos de interesses?

4. Política editorial: os leitores sabem quais são os valores que orientam o trabalho dos jornalistas?

5. Interatividade: os leitores têm canais para expressar seus comentários e críticas?

Dentre outros resultados, a pesquisa concluiu que a mídia hesita em admitir erros e é relutante em revelar suas políticas editoriais. Apenas 11 dos 25 sítios pesquisados publicam ou transmitem correções de matérias de maneira clara e somente 7 têm um ombudsman.

As conclusões também incluem uma afirmação do jornalista Sydney Schanberg, vencedor do prêmio Pulitzer, que diz:

"A imprensa (mídia) pede transparência para governos, corporações e para todos. Mas (…) os repórteres rejeitam transparência para eles mesmos, e ainda dizem que estão praticando bom jornalismo. O público precisa da explicação completa, que só pode ser dada pelos próprios repórteres".

De acordo com os critérios da pesquisa, os sítios com maior grau de transparência são o The Guardian, o New York Times, a BBC News, a CBS News e o The Christian Science Monitor. Os menos transparentes são Time Magazine, CNN, ITN, Sky News e Al Jazeera.

Mais abertas

Uma parte importante do relatório disponibilizado ao público refere-se à justificativa do ICMPA para o porquê de fazer uma pesquisa sobre "transparência" na mídia. Depois de uma rápida menção a casos recentes em que a falta de transparência gerou escândalos tanto no business (casos Enron e Arthur Andersen) como no governo (a invasão do Iraque baseada em informações falsas), o estudo afirma que transparência é uma buzzword (jargão) do século 21.

Para a mídia, a transparência é não só uma maneira de avaliar como os jornalistas e as empresas estão se comportando em relação aos seus próprios valores, mas uma parte natural destes valores.

Nos últimos seis anos, as pesquisas realizadas pelo conceituado The Pew Research Center for the People and the Press revelam consistentemente que metade ou mais do público americano acredita que as organizações de mídia são politicamente tendenciosas. As mesmas pesquisas revelam que boa parte do público acredita que a mídia prejudica (hurts) a democracia. E, além disso, não é mais novidade que o público não acredita nos produtores de notícia.

Por tudo isso, a ICMPA diz que as organizações de mídia precisam ser mais humildes e mais abertas. Elas devem permitir que suas audiências saibam como elas fazem o que fazem – e por que fazem o que fazem. No final das contas, transparência se transforma em responsabilidade e, esta, em credibilidade.

Perda de confiança

Desnecessário dizer que os resultados da pesquisa do ICMPA deveriam provocar algumas reflexões por parte da mídia brasileira. Por um lado, algumas das empresas globais dos sítios que receberam avaliações mais negativas têm parcerias com empresas brasileiras. A IstoÉ publica conteúdo da Time; a Band conteúdo da TV Al Jazeera; e a Globo é antiga sócia da Sky (News Corporation).

De outro lado, se em países de democracia mais consolidada do que a nossa, empresas tradicionais de mídia foram avaliadas de forma tão negativa, quais seriam as avaliações da mídia nacional se realizássemos aqui uma pesquisa semelhante?

Já tive a oportunidade de comentar sobre pesquisa mundial que o Instituto GlobeScan realizou para a BBC, a Reuters e o The Media Center sobre a credibilidade de várias instituições [ver, no OI, "Pesquisa revela a (des)confiança na mídia" e, de Carlos Castilho, "Credibilidade na imprensa é maior nos países pobres"]. No Brasil, o trabalho foi realizado pela GfK Indicator em março de 2006 – quase um ano depois do início da grave crise política que envolveu o país. Foram ouvidos, por telefone, mil adultos de nove regiões metropolitanas – Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Mais da metade dos entrevistados – ou 55% – declarou que não confiava nas informações obtidas através da mídia. Entre todos os países pesquisados, esse percentual é igual ao da Coréia do Sul e só não é mais negativo do que o obtido na Alemanha (57%).

A pesquisa revelou também que o Brasil é, comparativamente, o país onde os entrevistados estavam mais descontentes com a sua própria mídia: 80% disseram que a mídia exagera na cobertura das notícias ruins; 64% concordam que raramente encontram na grande mídia as informações que gostariam de obter; 45% não concordam que a cobertura da grande mídia seja acurada; e 44% declaram ter trocado de fonte de informação nos 12 meses anteriores por terem perdido a confiança.

Resultado conhecido

No Brasil, portanto, a percepção majoritária do público é de uma grande mídia que exagera na cobertura apenas do que é ruim e na qual a maioria não confia nem encontra o que quer. Além disso, quase a metade dos entrevistados não acredita que ela cubra os fatos corretamente e declara haver mudado de fonte de informação por falta de confiança.

Em qual dos cinco critérios básicos da pesquisa do ICMPA nossa grande mídia teria chance de se sair bem? Existe na nossa mídia disposição para reconhecer e retificar os erros cometidos? Os nossos leitores/ouvintes/espectadores sabem quem são os donos das empresas de mídia e quais são os seus interesses? Por acaso sabemos como as principais empresas de mídia brasileiras tratam os eventuais conflitos de interesses que surgem entre os seus contratados e o interesse público? Por acaso sabemos quais são os valores que orientam o trabalho dos jornalistas ou temos canais efetivos para expressar nossos comentários e críticas?

Deixo para os leitores(as) as respostas que a sua própria experiência comprove, mas não tenho dúvida de qual seja o resultado.  

* Venício A. de Lima é pesquisador sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política (NEMP) da Universidade de Brasília e autor/organizador, entre outros, de A mídia nas eleições de 2006 (Editora Fundação Perseu Abramo, 2007).

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A imprensa em busca de um novo modelo de negócios

Os grandes impérios jornalísticos da Europa e Estados Unidos começam a mostrar a cara do seu novo modelo de negócios, que marca uma mudança radical em relação ao vigente até agora.

O sintoma definitivo da mudança surgiu há pouco mais de 10 dias quando o Audit Bureau of Circulations (ABC – Burô de Auditoria de Circulação) anunciou a centralização das medições tanto do público da versão online como da versão impressa de jornais e revistas nos Estados Unidos.

A medida é uma vitória dos jornais no esforço para recuperar receitas publicitárias através da redistribuição de anúncios entre suas versões online e offline. Mas a decisão do ABC foi também uma resposta aos indícios cada vez mais fortes de que os grandes conglomerados da imprensa mundial estão conseguindo avançar na definição de um novo modelo de negócios, capaz de garantir a sua sobrevivência num ambiente informativo marcado pela presença crescente da internet. 

O processo, ainda em desenvolvimento, está obrigando as empresas a passar por momentos muito delicados. O The New York Times, por exemplo, apostou na convergência multimídia e depois teve que se desfazer de investimentos na área de televisão. A família Sulzberger, dona do jornal, também teve que abrir mão de parte do seu poder estatutário, por pressão dos acionistas.

Já o poderoso Wall Street Journal, da família Bancroft, apesar de um invejável banco de dados de informações financeiras, não conseguiu avançar na busca de um novo modelo de negócios e está a ponto de ser vendido para o conglomerado News Corporation, do arqui-milionário australiano Rupert Murdoch.

Há várias décadas os grandes jornais, revistas, redes de televisão e de rádio vêm investindo mais em equipamentos de impressão, de transmissão de imagens e sons, de distribuição de material impresso e em pontos de venda do que na produção jornalística. Segundo a American Journalism Review, as redações absorvem menos do que 40% do orçamento das empresas, desde os anos 1960.

O advento da internet provocou uma crise no modelo de negócios da imprensa convencional porque aumentou extraordinariamente a oferta de informações jornalísticas na rede, o que baixou o preço da notícia e conseqüentemente a receita dos jornais.

A crise do modelo convencional teve também outras causas como a queda da credibilidade, a fuga de leitores mais jovens e a resistência à mudança por parte de executivos e editores mais conservadores.

Os grandes conglomerados da mídia mundial estão desmobilizando ativos fixos voltados para a produção de notícias impressas e distribuição massiva de material informativo — como grandes impressoras, edifícios e sistemas de transporte — para investir na captura e gerenciamento social da informação.

Isto implica admitir uma participação crescente do público como provedor de material bruto porque as redes de correspondentes e de repórteres se tornaram muito caras. Os jornais e revistas, por seu lado, não têm muitas alternativas fora da concentração em produção de material qualificado e no desenvolvimento de sistemas, cada vez mais sofisticados e rápidos, de busca do material arquivado.

A adesão a este modelo confirma que os grandes títulos e marcas da imprensa mundial não desaparecerão, como previram alguns futurólogos mais apressados. O The New York Times deve continuar uma grande empresa, mas o seu forte não será mais a publicação de um jornal diário mas, sim, o seu sistema de produção de informações a partir de um arquivo digital de notícias, de analistas de informações capazes de antecipar tendências e identificar processos em curso, e de uma equipe de repórteres investigativos.

Isto significa uma maior qualificação dos jornalistas profissionais, tanto na área técnica (manuseio de equipamentos) como principalmente na sua capacidade de relacionamento com leitores e de análise do material indexado nos bancos de dados.

O retorno da imprensa à sua missão original de produzir notícias para o público obriga as redações a revisar condutas viciadas pela longa convivência com as exigências do mercado publicitário. Os conflitos culturais dentro das redações ainda continuam fortes e retardam a implantação do novo modelo de negócios.

Outra área muito sensível é a da publicidade, tradicionalmente, a grande responsável pela sobrevivência de toda a imprensa mundial. No novo modelo, a publicidade terá que ser repensada de forma radical, mas esta revisão de rotinas e valores ainda está muito atrasada.

A gerência e controle corporativo também devem passar por algumas mudanças traumáticas. Primeiro porque é inevitável uma enorme redução do número de empregados fixos, o que implica a perda de poder da burocracia corporativa. Segundo, porque as famílias, que controlam a maior parte dos grandes jornais mundiais terão que aprender a conviver com pressão dos acionistas por mais descentralização e mais transparência.

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Ségolène Royal vai à Justiça contra Paris Match

A capa do Paris Match de 12 de julho é a foto de uma bela mulher, de perfil, sorrindo dentro do mar azul, de óculos escuros. Voyeurismo vulgar ou informação?

Atentado à vida privada, pensa a principal interessada, Ségolène Royal, primeira mulher a chegar ao segundo turno da eleição presidencial da França.

A capa de Match e as fotos da reportagem, que a mostram numa praia da Córsega com sua filha Clémence, indignaram Ségolène Royal e reabriram o debate sobre o direito à privacidade. Imediatamente, o advogado da ex-candidata entrou com uma ação na Justiça contra a revista, pedindo a retirada dos cartazes nas bancas e exigindo uma reparação financeira "substancial", não divulgada.

Uma revista tem o direito de publicar fotos de uma personagem política de maiô, na praia, sem o seu consentimento? A publicação dessas fotos é informação, como pretende o diretor da publicação, ou é "voyeurismo vulgar", como entende o advogado da interessada?

Lendo revistas e tomando suco

"As fotos não têm relação com o texto publicado por Paris Match. Trata-se, pois, de voyeurismo sem relação alguma com o desejo de informar. É uma ilustração sem sentido para um texto pretensamente político", pensa Jean-Pierre Mignard, advogado de Ségolène Royal, que tentou, sem sucesso, impedir a publicação da foto na capa da revista.

O advogado chamou atenção para um desvio, que considera perigoso, e aconselha os jornalistas a maiores exigências éticas. Ele vê na publicação um atentado à dignidade de uma mulher política visando a reduzi-la a uma dimensão people (de celebridade).

Paris Match foi lançada em 1949 e tem como divisa a frase: "O peso das palavras, o impacto das fotos." Em matéria de impacto, a publicação atingiu o objetivo. São apenas quatro fotos. A da capa, repetida em uma página interna, e mais três em que Ségolène aparece com sua filha dentro d’água (que ocupa duas páginas), lendo revistas e tomando um suco de melancia. É bem verdade que as fotos são favoráveis, do ponto de vista estético. Em todas, a ex-candidata aparece bonita, descontraída e seu corpo, protegido por um belo maiô inteiro, parece bastante elegante para seus 53 anos.

A ira de Sarkozy

Mas há um problema: as fotos foram "roubadas", são fotos de paparazzo. E Ségolène Royal não admite que sua vida privada seja invadida a esse ponto e exposta aos leitores da revista.

A ex-candidata se disse "escandalizada" pelo fato de ela e sua filha terem sido exibidas "sem qualquer respeito à privacidade". Esta é a segunda vez que fotos de Ségolène Royal na praia são publicadas em uma revista francesa. No ano passado, fotos dela, de biquíni, foram publicadas por Closer e VSD, revistas de celebridades.

O diretor de redação de Paris Match, Olivier Royant, defendeu a publicação das fotos dizendo que as férias de verão das grandes personalidades políticas são um assunto de informação legítima, tanto na França como em outros países.

Mas na França – onde a linha de demarcação entre vida privada e vida pública dos políticos foi até pouco tempo muito clara e estritamente respeitada pela mídia – a situação mudou não faz muito tempo. Sarkozy foi um dos políticos que tentaram misturar os dois campos. Até o dia em que a mesma Paris Match publicou (em 2005) na capa a foto de Cécilia Sarkozy, então separada do marido, com um namorado, em Nova York. Quem pagou a ira de Nicolas Sarkozy foi Alain Genestar, então diretor de redação de Paris Match.

Controle da imagem

Genestar foi demitido algum tempo depois da publicação da foto e deu entrevista ao Monde atribuindo sua demissão ao então ministro do Interior. Por acaso, o proprietário de Paris Match é Arnaud Lagardère, um dos melhores amigos de Sarkozy e que, na época, desmentiu qualquer responsabilidade pela saída de Genestar da revista.

Neste novo episódio, o emprego de Olivier Royant não está ameaçado. Ségolène Royal não é amiga de Lagardère e se dirigiu à Justiça. Em breve, o juiz vai determinar se uma pessoa pública pode ter o controle total de sua imagem.

Se ganhar a causa, poderemos saber qual foi a "soma substancial" exigida pelo advogado da política. E a mídia francesa vai ter mais cuidado com fotos de políticos que não querem passar por "celebridades".

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