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Lançamento da campanha acontece cercado de alegorias no Rio de Janeiro

Na Cinelândia, centro carioca, montou-se um cenário alegórico. Às 17 horas da tarde da segunda-feira, 27, um grupo de cerca de vinte pessoas se aglomera para o lançamento da campanha nacional “Para expressar a liberdade! – Uma nova lei para um novo tempo”. Logo ao lado, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro encontra-se cercado por seguranças e grades que mantém a população a uma distância “segura”, empurrando-a da calçada para o meio da rua, onde trafegam os carros. O espetáculo em cartaz (para o qual os temidos grevistas do funcionalismo público que se manifestavam mais cedo do lado de fora não haviam sido convidados e nem eram bem-vindos) se desenrola com a presidenta Dilma discursando em defesa da meritocracia.

A banda “Todo petróleo tem que ser nosso” toca na praça atraindo a simpatia da população que passa apressada, provavelmente saindo do trabalho e recebendo os panfletos que explicam que o código que regula a radiodifusão no país comemora seus 50 anos praticamente intocado, antecedendo até o lançamento do primeiro satélite. Logo acima, na sala 1001 de um dos prédios da praça, o Instituto Millenium, centro de articulação e ação da direita “liberal” brasileira, se mobiliza para defender a “liberdade individual, propriedade privada, meritocracia, estado de direito, economia de mercado, democracia representativa, responsabilidade individual,  eficiência e  transparência”. Subordinados a alguns dos “donos da mídia” brasileira como os Marinho, Sirotsky, Civita e Mesquita, os funcionários do IMIL estranham o som amplificado que entra por sua janela exigindo liberdade de expressão.

Em seguira, vestido com trajes que remetem ao Nordeste, Sergival Silva lê o cordel sobre a “Peleja de Marco regulatório e Conceição pública na terra sem lei dos coronéis eletrônicos”. Nessa hora, porém, os carros de reportagem das TVs Globo e Record, que esperavam provavelmente por algum conflito espetacular entre os grevistas que ocupavam as ruas mais cedo e o Batalhão de Choque de prontidão, já não se encontram na praça. Não se interessam pelo artista ou pelo ato de lançamento, pois não dão ibope.

Informado do ato público de lançamento da campanha por meio de um blog que costuma visitar, Joseílton Mendes assiste as falas que se sucedem no microfone. “Tem que quebrar mesmo esse monopólio safado, que em vez de educar, deseduca”, comenta. A polícia ainda circula atenta pela Cinelândia. Sobras de um monitoramento reforçado para “dar segurança” às autoridades, que preferem evitar o contato com a população circulante da praça, que pega seu ônibus, mergulha nas escadas do metrô ou simplesmente passa.

“Tá na hora de apagar a velinha desse Código Brasileiro de Telecomunicações e dizer que esse marco regulatório não nos contempla”, afirma Denise Viola, da Rede de Mulheres em Comunicação e da Associação Mundial de Rádios Comunitárias (AMARC). Reforça, assim, a fala das demais entidades que participam do evento, articuladas localmente por meio da Frente Ampla pela Liberdade de Expressão e Direito à Comunicação (Fale Rio) e nacionalmente pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).

Após a apresentação do vídeo sobre a regulamentação das comunicações produzido pelo Centro Cultural Luiz Freire (CCLF), de Pernambuco, os músicos  Rollo e Jonathan Ferr se apresentam cantando a composição de Chico Buarque “A voz do dono e o dono da voz”. Aos poucos, o ritmo da praça vai se acalmando para dar o tempo necessário ao amadurecimento das idéias semeadas pela campanha.