Pesquisa mostra que grande mídia trata o MST de forma negativa

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) aparece com frequência nos grandes meios de comunicação do país, mas as suas pautas não têm visibilidade. Essa é uma das principais conclusões obtidas por uma pesquisa que analisou a forma com que emissoras de TV, jornais e revistas abordam o Movimento. Ela será lançada nesta quarta-feira (24), às 19h, na Tenda Cultural do Acampamento Nacional da Via Campesina (Estacionamento do Ginásio Nilson Nelson), em Brasília.

A pesquisa chegou nessa sentença ao constatar que das 301 matérias analisadas apenas 25 delas tratavam de temas relevantes para o Movimento, como a reforma agrária. Nas outras notícias, o MST é citado de forma transversal dentro de outros assuntos. “O MST aparece como um sinônimo de baderna, ilegalidade, servindo para associar outros atores sociais com o Movimento”, explica a professora da Universidade Federal do Ceará e responsável pela pesquisa, Mônica Mourão.

Um exemplo dessa estratégia midiática pôde ser percebido durante a última eleição presidencial. O MST surge como um elemento negativo usado pela campanha de José Serra (PSDB), que tentou passar a ideia de que Dilma Rousseff (PT) era apoiadora do Movimento. A então candidata, por sua vez, negou essa aproximação e em alguns momentos chegou a afirmar que não toleraria “ilegalidades”, fazendo uma alusão às ocupações de terra promovidas pelo Movimento.

O período pesquisado foi de 10 de fevereiro a 17 de julho de 2010, duração das investigações de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o MST. No entanto, o tema em que o Movimento mais apareceu nas matérias não foi a CPMI e sim as eleições (32% das inserções). Em segundo lugar vem o Abril Vermelho, uma série ações do Movimento pelo país (13,9% das inserções). A maioria dessas notícias citando o MST como autor de atos violentos. A CPMI mesmo só apareceu em oito matérias (2,6%) do universo pesquisado.

Outro dado que sustenta a conclusão do relatório intitulado “Vozes Silenciadas” é que quase 60% das matérias utilizaram termos negativos para se referir ao MST e suas ações. O termo que predominou foi “invasão” e seus derivados, como “invasores” ou o verbo “invadir”. Além disso, em 42,5% dos textos que falam de atos violentos, o MST é citado como autor das ações e em apenas 2% das matérias a organização é classificada como vítima.

“Esses veículos são ligados politicamente e economicamente a ala mais conservadora da sociedade. É claro que tem coisas positivas, mas são exceções”, avalia a pesquisadora Mônica Mourão. Mas a afinidade ideológica desses meios de comunicação com a elite brasileira não pode servir de justificativa para as práticas comprovadas na pesquisa, segundo Mônica. “Eles não precisam levantar a bandeira (do MST), mas espero como cidadã que os jornais façam um bom jornalismo. Espero que eles ouçam, coloquem contraponto nas matérias e contextualizem os fatos. Isso não está sendo feito”, arremata.

O relatório analisou as matérias que citaram o MST em três jornais de circulação nacional (Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo); três revistas também de circulação nacional (Veja, Época e Carta Capital); e os dois telejornais de maior audiência no Brasil: Jornal Nacional, da Rede Globo, e Jornal da Record. É uma realização do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social e contou com o apoio da da Fundação Friedrich Ebert e da Federação do Trabalhadores em Radiodifusão e Televisão (Fitert).

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