Entra no ar a rádio comunitária de Paraisópolis

Depois de 11 anos de luta pela implementação de sua rádio comunitária, a comunidade localizada na Vila Andrade, Zona Sul de São Paulo, inaugura hoje a rádio Nova Paraisópolis na frequência 87.5, canal das rádios comunitárias na cidade. A emissora entra no ar para atender uma população estimada em 100 mil pessoas. “No processo [de luta pela legalização], recebemos estímulos a não continuar e desistir do projeto”, afirmou Gilson Rodrigues, presidente da União dos Moradores de Paraisópolis. “Existem inimigos, como o monopólio nas comunicações, que sabe que a comunidade vai se identificar mais com a rádio comunitária.” Para a estreia estava marcada uma entrevista com o prefeito Gilberto Kassab (DEM).

Os estúdios da rádio ficam no segundo andar da sede da União dos Moradores de Paraisópolis. Todos os aparelhos são novos e foram conseguidos em parcerias com institutos e empresas privadas, como a Eletropaulo. O raio do alcance da antena ultrapassa 1 quilômetro, o suficiente para abranger toda a extensão da comunidade.

No começo, serão transmitidas 19 horas de programação diária (das 5h às 24h). “Temos planos de ter programas jornalísticos, esportivos, defesa dos direitos das mulheres, saúde, cultura”, disse o diretor da rádio, Joildo dos Santos. Além disso, serão transmitidos pelo menos dois programas produzidos por pessoas que não são moradoras de Paraisópolis. Um deles será um programa de MPB feito pela União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES). Com o tempo, pretende-se aumentar as horas de programação.

Até agora, a emissora conta com sete locutores, moradores voluntários. Os diretores também querem contratar dois sonoplastas – para isso, esbarram no problema do financiamento. O único financiamento possível de se conseguir com esse tipo de mídia é o apoio cultural de alguma marca, explicou o diretor Joildo. “A forma de divulgação permitida não é ideal. Mas ficamos mais de 11 anos brigando para conseguir a rádio, nossa luta agora é para criar meios de subsistência.”

Legalização

Como é comum nas favelas das grandes cidades brasileiras, rádios funcionando em Paraisópolis já existe há algum tempo. Joildo e Gilson dizem, no entanto, que a Nova Paraisópolis é a primeira com objetivo comunitário. Ambos ressaltam que a emissora busca atender a demanda da comunidade de se sentir representada em alguma mídia e também servir de instrumento de mobilização e pressão para reivindicar melhorias para a comunidade. Nenhuma destas coisas podem ser feitas na “mídia grande”.

As rádios que existiam anteriormente, que inclusive chegaram a ser fechadas, eram de música. “O mais importante [naquela experiência] não era a função social. Faz mais de 10 anos que foi fechada. Mas continuou um sentimento de ter uma rádio e a comunidade se mobilizou para ter uma legalizada”, disse Joildo. Segundo ele, ainda funcionam outras rádios não autorizadas na comunidade com objetivos privados e comerciais, uma delas, evangélica.

Comunidade

Para a legalização, a associação de moradores protocolou documentos no Ministério das Comunicações, correu atrás de assinaturas, buscou apoio formal de entidades locais, até que, em 2008, o Ministro das Comunicações autorizou 22 rádios comunitárias em São Paulo. “Uma delas em Paraisópolis”, contou o diretor de comunicação da associação. Em dezembro de 2009 conseguiram licença provisória de funcionamento e é com essa que inauguram a mídia, legalizados. “A licença definitiva está chegando, vai durar 10 anos”, festeja Joildo.

A participação da população de Paraisópolis na rádio acontecerá por duas vias principais, explicou Gilson Rodrigues. A primeira é o conselho que decidirá a programação e rumos da rádio, formado por pessoas da comunidade, e que terá reuniões anuais. A segunda é a interação que os ouvintes podem ter. A princípio pelo telefone, e no futuro, também por meio do site que será construído.

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