Band e Globo têm assento privilegiado no transporte público de São Paulo

Quem já usou transporte público na cidade de São Paulo já deve ter percebido em alguns ônibus dois monitores de TV suspensos na parte esquerda dos veículos – antes e depois da catraca. O "projeto" das TVs móveis existe desde 2007 e, atualmente, em um universo de 15 mil veículos municipais, 985 transmitem para os passageiros o conteúdo centralizado por três empresas: a Bus Mídia TV, a BusTV e a TVO.

Duas delas estão ligadas a grandes grupos de comunicação: a TVO faz parte do Band Outernet (pertencente ao grupo Bandeirantes), e a Bus Mídia transmite conteúdo da Rede Globo, “de qualidade reconhecida no Brasil e no mundo”, avisa o site da empresa. A primeira opera em mais de 300 veículos, enquanto a segunda, em 500. Isso confere aos dois grupos de radiodifusão citados mais de 80% de participação neste novo mercado.

O conteúdo global da Bus Mídia é composto por resumo das novelas da emissora; e matérias do Fantástico, Jornal Nacional, Globo Repórter, “dentre outros programas de grande credibilidade”, acrescenta o site. A TV da Band, no entanto, passa conteúdo específico para essa mídia: “temos diferenças de público e hábitos em cada um dos modais do transporte urbano. Estas diferenças são consideradas na criação dos conteúdos”, diz Fábio Ribeiro, diretor da TVO.

A exibição da TVO é feita em programas de 1 hora que se repetem, com 18 minutos de publicidade, 18 minutos para informações da SPTrans (empresa que gerencia o serviço) e 24 minutos de informações e entretenimento.

Negócios

A mídia móvel tem sido anunciada como um espaço publicitário exclusivo: “Em meio a essa programação [TV Globo], são comercializados espaços publicitários nos quais o anunciante é visualizado por mais de 7 milhões de passageiros por mês na cidade de São Paulo, com grandes diferenciais: em um momento de mínima dispersão; em uma viagem muito mais agradável para os passageiros”, diz o site da Bus Midia.

Além da TVO, a Band Outernet também possui a TV Minuto desde 2008 (transmitida nos trens do Metrô) e a Next Midia. Fábio explica o interesse da Band pelas mídias móveis: “O comportamento da audiência, principalmente nos grandes centros urbanos, vem se adaptando aos novos hábitos e limitações. As mídias “out-of-home” estão cada vez mais presentes nas vidas destas pessoas. É natural que um grupo de comunicação com emissoras de TV, rádios e jornais também atue neste segmento”.

Segundo a assessoria de imprensa da SPTrans, o objetivo até o momento é oferecer informação e entretenimento para o usuário do sistema de transporte coletivo da cidade. Quanto à abertura para outros grupos produtores de conteúdos, novos credenciamentos podem ser feitos desde que haja interesse por parte das empresas ou cooperativas de ônibus no serviço oferecido pela empresa de comunicação. E também desde que os interessados arquem com os custos da instalação do sistema, como os monitores de TV. Não há nenhum gasto por parte da Prefeitura.

Conteúdo

As regras de programação são relativamente simples. Elas estão na portaria SMT 61/09 (de agosto do ano passado) da Secretaria Municipal de Transportes. As empresas deverão disponibilizar a programação diária via link de internet, e a programação semanal gravada em DVD, com uma antecedência de cinco dias úteis. O conteúdo deve ser autorizado pela SPTrans.

Quanto ao conteúdo, não é permitido veiculação de mensagens políticos partidárias, que promovam a discriminação, o uso de armas, ou que induzam os usuários ao consumo de bebidas alcoólicas e drogas, e nem informações que atentem contra a moral, os bons costumes e a dignidade da família (Art. 8º da portaria SMT 61/09).

Segundo a portaria, 30% da grade de programação da mídia dentro dos ônibus fica reservada para uso preferencial de mensagens de caráter institucional, campanhas educativas e de utilidade pública, realizadas ou apoiadas pela prefeitura. Antes, essa cota era de 10%. Mesmo que o projeto exista desde 2007, só em agosto passado foi estabelecido que áudio é proibido nas TVs móveis.

TV ou “Mídia Digital Móvel”?

Quando surgiram em 2007 as TVs móveis, a portaria fundadora do assunto (SMT 79/07) dizia respeito à aprovação de veiculação, transmissão de dados e exploração de mensagens publicitárias na parte interna dos veículos, sem ser mais clara que isso sobre que aparelho afinal seria instalado. Em 2009, tivemos a Portaria 61/09 – SMT, que é a vigente, e que iniciou o uso do termo “programação televisiva”.

Fábio Ribeiro, diretor da TVO prefere o termo Mídia Digital Móvel: “Definitivamente não é uma TV. Tem outra linguagem, sem som, criada especialmente para a situação em que o público está, dentro do ônibus se deslocando pela cidade”.

Proliferação

Também existem TVs móveis nos transportes públicos em outras cidades do país. A BusTV, por exemplo, possui filial no Rio de Janeiro, e franquias em Salvador, Recife, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre e Fortaleza.

No Rio de Janeiro, o Departamento de Transportes Rodoviários (Detro) autorizou, em 22 de dezembro, a transmissão de programação da Rede Globo em ônibus intermunicipais de todo o Estado. A emissora é a única que já tem um planejamento dentro da nova tecnologia. Por enquanto só a Viação Rio Ita incorporou o sistema em 80 ônibus das linhas “Alcântara-Castelo“ e “Alcântara-Botafogo“.

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