Fazer comunicação após o FSM

Nas semanas anteriores ao Fórum Social Mundial, várias rádios comunitárias foram fechadas em Belém. Estes eram um dos poucos meios de comunicação que estavam transmitindo uma visão do evento que iam além do festivo-turístico. Todas elas estavam transmitindo desde a UFPA para toda Belém, no espaço de Comunicação Compartilhada do Fórum de Rádios.

Durante o FSM, foi anunciado que o Executivo Federal fará a convocação 1ª Conferência Nacional das Comunicações. Logo após o anúncio, mais de 200 pessoas estiveram presentes na plenária promovida pela Comissão Pró-Conferência Nacional de Comunicação, já começando a organizar a sociedade civil no processo. As falas deste espaço apontaram a necessidade de organização popular nas etapas estaduais.

Sem falar na restrição de movimentação nos espaços. Que o diga a comunidade de Terra Firme, vizinha onde estavam acontecendo grande parte das atividades do Fórum. E que não tinha os R$ 30 necessários para se credenciar no evento.

Este três fatos, entre muitos, mostram como os desafios da vida real são marcantes na luta pelo direito a comunicação.

Mesmo dentro do fórum, esta perspectiva entra em choque com uma realidade existente de verticalização, restrição e criminalização de uso dos meios, conseqüências do sistema comunicações existente no Brasil. O que nos impõe, citando Marcos Dantas [1], desafios de "fomentar, fortalecer, consolidar os sistemas não-comerciais de comunicações, as publicações, emissoras, portais, sítios ou blogs que prestem serviço ao público, na sua diversidade, não sendo e não podendo, por isto, serem sustentados por anúncios publicitários, nem servirem à ideologia do mercado."

O Fórum aceitou este desafio, produzindo sua própria informação através da Comunicação Compartilhada. Neste espaço mostrou-se na prática como é possível produzir comunicação contra-hegemônica através de audiovisual, rádio comunitária e notícias escritas. O que para alguns foi uma continuidade do que se tem no cotidiano, para outros foi aprendizado. O que pode estimular que os seus participantes construam seus próprios meios de comunicação, com suas próprias formas de distribuição, quando voltarem para seus lares.

Além disso, tivemos excelentes espaços de reflexão sobre comunicação. Espaços que raramente existem na dinâmica da luta concreta. Seja pela falta de tempo que nos impõem a batalha diária, seja pela própria ontologia do Fórum apontar para este momento reflexivo. E que também ajudaram na formação destes sujeitos comunicadores.

As diversas trocas de experiências realizadas devem apontar para a construção e organização de uma nova realidade, onde se horizontaliza a possibilidade de uso da comunicação. Nosso desafio pós Belém-2009 é superarmos as dificuldades deste uso, algumas registradas no começo do texto. E quem não pode estar neste espaço receba um pouco do que foi construído nestes seis dias.

Afinal, se uma outra comunicação é possível, ela não deve ser apenas para quem sempre teve o microfone.

* Marcelo Arruda é radialista comunitário e membro do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social.

[1] http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4134


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