Senadores e acadêmicos se opõem a líderes da indústria sobre propaganda de bebidas

Os convidados para a audiência pública sobre regulamentação da publicidade de bebidas alcoólicas no país, realizada nesta quarta-feira (3) no Senado Federal, mostraram que as opiniões estão divididas. Os posicionamentos dos representantes do meio acadêmico e do governo – favoráveis à regulamentação – se opuseram aos dos representantes da indústria e do setor de publicidade – que defendem a liberdade de expressão.

Promovida pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) e pela Subcomissão Permanente de Promoção, Acompanhamento e Defesa da Saúde, vinculada à Comissão de Assuntos Sociais (CAS), a audiência foi realizada a pedido dos senadores Papaléo Paes (PSDB-AP) e Antonio Carlos Júnior (DEM-BA). Segundo a “Agência Senado”, Papaléo se posicionou a favor "de uma regulamentação bem rígida da publicidade de bebidas". "Se a publicidade não influísse nas vendas, a indústria não gastaria milhões com ela", declarou.

Para o presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja, Milton Seligman, não existe relação direta entre publicidade e consumo de álcool. Ele acredita que a renda disponível, o preço do produto e o clima seriam determinantes para aumentar o consumo de cerveja, e que  publicidade seria importante para construir marcas, posicioná-las no mercado e informar os consumidores. "Não existe relação direta entre publicidade e consumo de cerveja. Na França, foi proibida a publicidade de bebidas na televisão e, de lá para cá, não houve nenhum resultado positivo em relação ao consumo indevido de álcool", disse Seligman.

Já o coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ronaldo Laranjeira, alegou que a indústria do cigarro mentiu à população por anos enquanto negava que o consumo provocaria câncer, e elogiou a restrição à publicidade do produto. "Agora temos a oportunidade de fazer a mesma coisa em relação ao álcool. Não podemos deixar que nossas crianças sejam educadas pelo Zeca Pagodinho", disse Laranjeira referindo-se à propaganda de cerveja protagonizada pelo cantor.

Gilberto Leifert, presidente do Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar), chamou Laranjeira de militante e o considerou alguém que "não consegue conduzir de forma desapaixonada pesquisas científicas sobre o tema".

Os senadores Flávio Arns (PT-PR), Marcelo Crivella (PRB-RJ) e Augusto Botelho (PT-RR) se posicionaram a favor da regulamentação. Já o senador Romeu Tuma (PTB-SP) defendeu a ampliação do debate sobre o tema e admitiu que a proibição da publicidade de bebida o "assusta um pouco". Ele elogiou iniciativas já promovidas pela indústria, como a de pedir aos consumidores que não dirijam se consumirem bebidas alcoólicas.

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