Grupos armados impedem circulação do jornal ‘Extra’

A compra de mais de 30 mil exemplares do “Extra” na maioria das bancas da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, no domingo (28), por grupos armados, provocou reação imediata do Ministério Público Eleitoral e do próprio jornal. O MPE informou que vai investigar o caso, já que está claro que se trata de crime eleitoral. Graças à uma decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), a distribuição e circulação do diário foi garantida pela Polícia Militar.

Tudo indica que a intenção dos grupos era impedir que leitores tivessem acesso à reportagem principal intitulada “Deputados em campanha mentem para ganhar salário de R$ 13 mil”. A manchete denunciava a ausência dos deputados Alessandro Calazans (PMN), Rodrigo Neves (PT) e Marcelo Simão (PHS) a sessões da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e a suposta ação dos três na tentativa de inventar compromissos e ter as faltas abonadas, garantindo o salário integral de R$ 13 mil.

Donos de bancas chegaram a se recusar a vender o jornal em grandes quantidades, mas foram intimidados pelos grupos armados e obrigados a ceder.

Uma operação conjunta de policiais dos batalhões de Belford Roxo, Duque de Caxias e Praça Tiradentes garantiu que o diário chegasse às bancas locais e fosse vendido. O pedido foi feito pela Infoglobo, que publica o “Extra”, ao TRE-RJ.

A edição de hoje traz a manchete “Bando armado restringe venda do 'Extra' em bancas da Baixada”, relatando o caso e trazendo, na íntegra, a reportagem que foi destaque da edição de domingo.

'Extra'

O diretor-executivo do “Extra”, Bruno Thys, definiu a ação dos grupos como uma forma “arcaica, grotesca e criminosa” daqueles que disputam cargos públicos de impedir o acesso à informação da população. “É lamentável em todos os aspectos. Os leitores não terão seu direito de acesso à informação cerceado, tanto do que o 'Extra' já publicou ou do que venha a publicar”.

Em nota, o TRE repudiou a ação, dizendo que “parece claramente um golpe de natureza eleitoral”. Segundo o Tribunal, a compra dos mais de 30 mil exemplares “tem todos os indícios de uma tentativa de impedir que informações chegassem a uma parcela do eleitorado. Igualmente graves são as denúncias de que jornaleiros foram coagidos a vender todo o estoque, o que só fortalece a hipótese de se negar à população informações que lhe ajudasse a decidir o voto de forma consciente”.

ABI

Para o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, a solução para casos como este é uma resistência permanente e denúncia política de comportamentos “delituosos e antidemocráticos”. “Ao mesmo tempo, temos que tomar as providências judiciais cabíveis. Essa agressão à liberdade de imprensa e informação mostra que há interesse evidente de políticos mencionados na reportagem e que concorrem às eleições de impedir a circulação do jornal. É preciso que o MP tome a iniciativa de intimar essas pessoas. Elas revelam um poderio econômico que só pode ter origem escusa. Comprar mais de 30 mil exemplares do “Extra” que, aos domingos, custam R$ 2,30, significa um desembolso em dinheiro vivo de R$ 69 mil, soma que só pode ter origem ilícita e não é passível de aplicação numa campanha”.

ANJ

Júlio César Mesquita, vice-presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), assinou nota em que protestou contra o que chamou de violência cometida contra o “Extra”. Para a ANJ, a ação “foi um atentado ao direito dos cidadãos de serem livremente informados e um lamentável golpe à liberdade de imprensa”. A entidade elogiou a iniciativa do TRE-RJ, garantindo a venda do jornal na Baixada Fluminense. “Cabe agora às autoridades policiais investigar a ação criminosa acontecida na madrugada do domingo e, à Justiça, punir exemplarmente seus autores”.

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