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Silêncio na comunicação ou O corte que não é noticia

A quarta-feira, 30 de junho, foi um dia especial para a classe trabalhadora brasileira, embora muito pouca gente tenha sido informada. Nesta data, a Comissão Especial da Câmara que analisava a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais – sem redução de salário – aprovou o relatório do ex-presidente da CUT, deputado Vicentinho (PT-SP). Agora, o tema vai para plenário.

Conforme o Dieese, mais de dois milhões e duzentos mil empregos podem ser gerados com a medida, mais do que necessária para o fortalecimento do mercado interno e o enfrentamento aos impactos da crise internacional em nosso país. Importante também como elemento de justiça, já que a produtividade aumentou mais de 150% desde a última redução da jornada, feita pela Assembléia Nacional Constituinte em 1988. Com a decisão, ganham a saúde, o lazer, a cultura, a família…

E como a mídia acompanhou a votação? Quantas redes de rádio e televisão cobriram o plenário completamente lotado pelas principais lideranças do país, de todas as centrais sindicais, comemorando um passo histórico? Ignorando solenemente as exigências da própria Constituição de que a mídia deve ter um papel além de informativo, educativo e formativo, demonstraram que sua pauta atende os interesses de quem está do outro lado do guichê. Os que lucram com a exploração do mundo do trabalho. Afinal, quem paga a banda escolhe a música, não é mesmo? Desta forma, o tilintar dos cifrões fala mais alto e embala as redações.

No exato momento em que transcorria a votação, um valoroso fotógrafo cutista, Roberto Parizotti, documentava a variedade – e a mesmice – das telinhas dos televisores numa loja de eletrodomésticos. Absolutamente nada, silêncio sepulcral. Aquele fato com que tanto vibramos simplesmente não era notícia para os que, sendo proprietários de concessões públicas, se crêem donos da mídia – e do país.

Uns dias antes, nossa Central enviou uma carta ao Ministério do Planejamento onde condenamos o corte de 80% dos recursos previstos para a realização da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), convocada pelo próprio presidente Lula durante o Fórum Social Mundial de Belém, em janeiro. Alertamos que, se mantida a posição ministerial de reduzir de R$ 8,2 milhões para R$ 1,6 milhão a dotação orçamentária, haverá esvaziamento da discussão sobre a urgente e necessária democratização das comunicações e que "por isso se faz necessário que tal decisão seja imediatamente revista, a fim de que as comissões possam continuar fazendo o seu trabalho e o evento não seja definitivamente inviabilizado pela gravidade dos cortes – e o conseqüente comprometimento dos prazos".

Lembramos que os recursos previstos já não garantiam sequer a participação dos suplentes – representantes da sociedade civil não-empresarial – na Comissão Organizadora da Confecom, responsável por coordenar, supervisionar, elaborar o regimento interno e realizar a Conferência Nacional de Comunicação. E que a falta de provisão orçamentária atentava contra os prazos e a qualidade dos debates.

Os movimentos que lutam pela democratização da comunicação, pela pluralidade e diversidade, querem aproveitar o processo da Conferência para ampliar os espaços comunitários, públicos e estatais, a fim de que o direito humano à comunicação seja respeitado e não continue sendo tratado como moeda de troca, sem critério nem controle social, para deleite dos que mercantilizam a informação.

No momento em que os monopólios de mídia elevam o volume – e o tom – multiplicando inconsciências, entendemos perfeitamente as razões do corte continuar sendo segredo e não notícia. A Conferência precisa deste recurso. O Brasil agradece.

Rosane Bertotti é secretária de comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Correio Braziliense e GDF, relações suspeitas

Num domingo, 8 de março de 2009, o Correio Braziliense, principal jornal do Distrito Federal, dedicou duas páginas (uma delas a capa) do seu caderno "Cidades" a ampla matéria na qual encampava publicamente a posição de porta-voz do Governo do Distrito Federal (GDF) contrária à anunciada greve dos professores da rede pública de ensino. Os professores reivindicavam o cumprimento de um acordo salarial (ver aqui e aqui).

O título principal da matéria era "Greve sem causa" e uma coluna encimada pela retranca "Visão do Correio", intitulada "Crime de lesa-futuro" fazia, dentre outras, as seguintes afirmações: que a ameaça de greve era descabida; que o reajuste salarial ultrapassava os limites do bom senso; que não se apelava ao idealismo dos professores, mas ao profissionalismo e concluía:

"Há muito o GDF deixou para trás a idéia ultrapassada de que o magistério é sinônimo de sacrifício. Não é. Trata-se de atividade essencial para formar cidadãos, preparar mão de obra qualificada e dotar o país de elite indispensável para a construção do futuro. A responsabilidade da função impõe direitos e deveres. São os deveres — exigidos de qualquer trabalhador — que os professores querem ignorar. É crime de lesa-futuro."

O leitor atento certamente terá notado, à época, que contrariamente às regras elementares e básicas do jornalismo, a longa matéria opinativa do Correio Braziliense, além de defender um dos lados, isto é, não ser isenta, omitia inteiramente o "outro lado" envolvido na disputa: os professores não foram ouvidos, simplesmente não aparecem na matéria para explicar ou defender sua posição.

Notícias (?) em sala de aula

Menos de quatro meses depois, no dia 22 de junho, o mesmo Correio Braziliense anuncia também em seu caderno "Cidades", página 23, sob a retranca "Educação" e o título "Notícias em sala de aula" (a matéria foi reproduzida no sítio do próprio GDF sob o título "SEDF e Correio lançam projeto para incentivar leitura e escrita na rede pública", ver aqui ), que 7.562 exemplares do jornal serão distribuídos todos os dias, "até o fim de 2009", a professores e alunos de 199 escolas urbanas e rurais da rede pública de ensino do DF.

Em sugestiva resposta a pergunta feita pelo jornal, o secretario de Educação do GDF informa:

Se o senhor fosse professor, o que faria com o jornal em sala de aula?

Eu olharia o caderno de `Cidades´ e tentaria identificar nas notícias o que tem a ver com a cidade do aluno e o que dali é possível demandar. Seguramente, esse é o primeiro ponto, por causa da proximidade. Estou tratando de uma coisa que está muito próxima de mim. E depois de pegar o cotidiano de todo o DF, podemos analisar o do Brasil e do mundo."

A matéria – seria possível chamá-la de "notícia"? – no entanto, omite informações fundamentais. Por exemplo: não se sabe se teria sido realizada uma licitação; qual o valor do acordo (contrato?); e se os professores e/ou os alunos da rede pública foram ouvidos. E mais: se houve alguma discussão sobre a conveniência pedagógica de acordo (ou contrato?) desse tipo.

Os professores da rede pública do GDF, por outro lado, por meio de seu sindicato, reagiram à assinatura do convênio e perguntam no seu site (ver aqui):

"Como podemos confiar na opinião do mesmo jornal que, no dia 8 de março deste ano, na abertura do mesmo caderno `Cidades´, publicou como visão do Correio um minieditorial com o indignante título de `crime de lesa-futuro´. Crime esse que nós, professores, cometeríamos se tomássemos a atitude `descabida´ (sic) de entrar em greve para fazer valer nossos direitos?"

Interdependência histórica

As relações históricas de interdependência entre o Estado e a mídia no Brasil são por demais conhecidas. Elas se materializam através de subsídios, empréstimos bancários, financiamentos oficiais, isenções fiscais, publicidade legal obrigatória ou publicidade oficial. Uma manifestação mais recente dessa interdependência é exatamente a compra volumosa – e sem licitação – de material considerado didático.

Compras desse tipo, agora em ano pré-eleitoral, já foram detectadas nos estados de São Paulo e Goiás e na prefeitura do município de São Paulo (ver "Globo e Abril agradecem ", na Revista do Brasil nº 34, de abril de 2009; e, neste Observatório, "A privatização subjetiva da educação pública "). Há, inclusive, uma representação feita junto ao Ministério Público questionando os contratos firmados entre o estado de São Paulo e o Grupo Abril (ver aqui ).

O acordo (contrato?) agora anunciado entre o GDF e o Correio Braziliense significa que cerca de 16% da tiragem média do jornal em dias úteis estão vendidas "até o fim de 2009" (cf. números do Instituto Verificador de Circulação de março de 2009). Não se conhece o valor total envolvido no acordo (contrato?). O site do Sinpro-DF informa que…

"Ainda não conseguimos ter acesso ao valor total do convênio (…) mas somente do Fundeb serão gastos mais de R$ 2,9 milhões para pagar ao CB, conforme pode se ver pela nota de empenho do Governo do Distrito Federal (clique aqui para ver). Também descobrimos que há outra nota de empenho do Fundeb em favor da revista Veja, no valor de R$ 442.462,50 (clique aqui para ver )."

Os recursos do Fundeb, como se sabe, são destinados ao financiamento da educação básica (creche, pré-escola, ensino fundamental, ensino médio e educação de jovens e adultos) e sua aplicação é fiscalizada por um Conselho de Acompanhamento e Controle Social que tem como função principal acompanhar e controlar sua distribuição, transferência e aplicação no âmbito das esferas municipal, estadual e federal (ver aqui).

Notícias, dinheiro público e transparência

Em tempos de crise da mídia impressa (salvo dos jornais populares e gratuitos), colocando em risco a própria sobrevivência no mercado de alguns jornalões, mais ainda do que em época de normalidade, não seria ético e salutar que jornais como o Correio Braziliense – além de zelar pela credibilidade fazendo jornalismo de notícias e não de matérias opinativas – praticassem, para si mesmos, aquilo que corretamente têm exigido de outras esferas de poder (exceto, aparentemente, do GDF)?

Ou o critério da transparência na destinação do dinheiro público não se aplica quando beneficia a própria grande mídia?

Venício A. de Lima é pesquisador sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política (NEMP) da Universidade de Brasília e autor/organizador, entre outros, de A mídia nas eleições de 2006 (Editora Fundação Perseu Abramo, 2007)

PL-29: o caminho para a apartação cultural

“O que restou na televisão aberta para os ‘baixinhos’, como diz Xuxa, passada a era das apresentadoras loiras?” – perguntou-se a Folha de S. Paulo, na reportagem sugestivamente intitulada “Quem precisa da TV aberta?”, assinada por Laura Mattos, publicada em 9 de novembro do ano passado. Não restou quase nada, responde. “As paixões da meninada hoje são ‘Backyardgans’, ‘Ben 10’, ‘High Scholl Musical’ e outros programas totalmente gestados em canais pagos”, informa. Esqueceu-se muito convenientemente de acrescentar: além de pagos, estrangeiros.

A mentalidade de milhões de crianças e jovens que, daqui a 20 ou 30 anos, começarão a assumir postos de responsabilidade e de liderança nas mais diversas atividades de nossa sociedade, da simples operação ou gestão de empresas, até a alta produção cultural ou direção política, está sendo, neste momento, integralmente formada por produtos simbólicos sem qualquer vinculação com a cultura brasileira e com alguma idéia de pertencimento e destino comum de nação. Mas, como diz com aparente ingenuidade a mesma matéria, aqueles e outros programas “estampam milhares de subprodutos, de DVDs a cuecas e macarrão instantâneo”. Habituam as crianças a naturalizar o consumo desmedido (de marcas importadas) e nada lhes ensinam sobre democracia, cidadania e projeto de País.

Cerca de 5,5 milhões de domicílios brasileiros já são atingidos pela TV paga. Em quase todos, encontram-se os canais Discovery Kids, Warner, Cartoon Networks, Disney, Nickelodeon e outros. É claro que esses domicílios são basicamente habitados pelas chamadas classe “A” e “B”, ou seja, burguesia e alta classe média. Neles se encontram as crianças e jovens com melhores condições de acesso à informação e educação, com elevado poder de consumo, destinadas, gostemos ou não, a sucederem seus pais e avós na condição de elite (econômica, política, intelec-tual, cultural) do País, daqui a alguns anos. Voltando a se comportar como as elites que tínhamos até meados do século XX, esta será, de novo, uma elite de costas para o Brasil, que aprenderá a olhar (já está começando a aprender) com profundo desprezo para a nossa história e para a nossa cultura, sobretudo para a nossa rica cultura popular. Uma elite americanalhada.

Este é ou deveria ser o ponto central do debate em torno da PL-29. Seria uma oportunidade para, corrigindo o equívoco da cultuada Lei do Cabo, submeter o audiovisual, qualquer que seja o seu meio de propagação e difusão, aos princípios expressos nos artigos 221, 222 e 223 da nossa Constituição. Ora, quando a Constituição foi elaborada, no final dos anos 1980, a produção cultural somente poderia ser veiculada, além da imprensa escrita e das salas de cinema ou teatro, através do rádio e da televisão.

A Constituição por isto só tratou destes. Hoje, aquelas missões que a Constituição atribuiu ao rádio e à TV propagados por sinal eletromagnético aberto, precisam também, sob pena de total incoerência, além de atentado contra o futuro do Brasil, serem estendidas ao sinal eletromagnético fechado, pago ou codificado. A televisão, seja por que meio for, seja por VHF, cabo, satélite ou celular, não pode deixar de atender aos mandamentos constitucionais: preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais, informativas; promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente; regionalização da produção cul-tural e respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

A TV paga, desde que deu os seus primeiros passos no Brasil, jamais atendeu a esses ditames da nossa Constituição. Não está a serviço do desenvolvimento cultural e econômico brasileiro. É verdade que se pode questionar se a TV aberta atende àqueles princípios. Pode-se e deve-se. Mas, hoje, quando, cada vez mais, a TV paga vai se tornando o principal meio de informação e entretenimento da população (nos EUA já atinge 90% dos lares; em todo o mundo, já chega a quase metade dos lares com TV), há que se afirmar, contra os dogmas do mercado e da ideologia consumista, que ela também precisa ser objeto de regulamentação que reconheça e estabeleça a sua finalidade primeiramente educativa e cultural; que nela imprima também princípios de regime público; que dela faça igualmente instrumento de políticas públicas em benefício da maioria da nossa sociedade.

A princípio, o debate sobre a regulamentação da TV paga deveria estar inserido no debate maior sobre a regulamentação de toda a indústria brasileira de comunicações, a ser travado na Iª Conferência Nacional de Comunicação. No entanto, enquanto a Confecom debate no abstrato, sem maiores poderes decisórios, o PL-29 avança no concreto, podendo vir a decidir sobre a TV paga no Brasil ainda este ano, assim criando fatos consumados. Por isto, é preciso debatê-la já!

O último substitutivo produzido pelas idas e vindas da Câmara assinala um enorme retrocesso diante de tudo o quê, mal ou bem, se havia conseguido avançar, enquanto o PL esteve aos cuidados do engenheiro de telecomunicações e deputado carioca Jorge Bittar. Retrocesso na forma e no conteúdo. O substitutivo de Bittar era formalmente bem elaborado e claro. Este último, apresentado pelo advogado e deputado paraibano Vital Rego Filho (PMDB), é confuso, não raro contraditório.

Um exemplo. O seu artigo 16 diz que “nos canais de programação e catálogos que veicularem mais de 3h30 de conteúdos brasileiros que integrem espaço qualificado, no mínimo 50% (cinqüenta por cento) dos conteúdos excedentes deverão ser produzidos por produtora brasileira independente”. Pelo que está aí escrito – e a lei vale pelo que está escrito – não é possível saber se esse tempo de “3h30” é diário, semanal, mensal, anual… E como definir “conteúdos excedentes”? Será aquele que ultrapasse esse tempo de “3h30”? Caso esse “excedente” seja de 1 minuto, o tempo da produção brasileira independente será de 30 segundos?

Já o projeto do deputado Bittar, ao menos era objetivo: qualquer canal cuja programação fosse majoritariamente definida como “qualificada” (isto é, canais de filmes, documentários, desenhos animados etc.), estaria obrigado a transmitir, no mínimo, 3h30 semanais de conteúdos brasileiros, metade dos quais gerados por produtoras independentes. Pode-se considerar pouco. Nas suas primeiras versões, Bittar exigia mais. Mas aqui está claro qual será o tempo dedicado à produção brasileira, desta regra não se excluindo nenhum canal estrangeiro de filmes, documentários, desenhos etc. Já a regra pretendida pelo deputado paraibano, num texto tortuoso, pretende deixar de fora os canais estrangeiros e nada deixar muito claro sequer para os nacionais.

Outro exemplo? Pelo novo substitutivo, os “pacotes ofertados aos assinantes” deverão possuir, “pelo menos, um canal para veiculação exclusiva de conteúdo brasileiro em cuja programação, no mínimo, 12 horas diárias consistam em conteúdo brasileiro integrante do espaço qualificado restrito [leia-se, filmes, documentários, desenhos etc.], produzido por produtora brasileira independente”. Já o substitutivo do deputado Bittar  determinava  que os “pacotes”  deve-riam possuir “pelo menos 25% de canais programados por programadora brasileira”, sendo que desses 25%, ao menos 1/3 deveria “ser programado por programadora brasileira independente”.

A diferença? Em um, o pacote pode ter 100, 200, 500 canais, e terá um canal supostamente brasileiro – algo como já é hoje o “Canal Brasil” perdido nos pacotes da NET. No outro, a cada 100 canais por exemplo, 25 teriam que ser canais realmente brasileiros, dos quais 8 não poderiam ser controlados por outras empresas da cadeia e todos teriam que veicular pelo menos 4 horas de filmes, documentários, desenhos etc (“espaço qualificado”). Haveria mais exemplos, o espaço porém é curto.

Infelizmente, esse debate não tem mobilizado os corações e mentes que poderiam atentar para as dimensões do problema. Com efeito, crianças, jovens e adultos não assistem à NET, nem à Sky, como não assistirão à Telefônica, à Oi ou à Claro. Crianças, jovens e adultos assistem, sim, ao Disney, ao Cartoon, à Fox, à Warner, aos Telecines, à CNN, eventualmente também à GloboNews ou ao Canal Brasil. O que está em discussão é se nesses canais de televisão que, hoje, já substituíram a Globo, a Record ou o SBT no gosto da nossa criançada bem nutrida e, mesmo, de boa parte dos nossos adultos endinheirados, haverá espaço para a cultura brasileira.

Ou não. Se não, desde já podemos prever mais um processo de apartação em nossa sociedade: dentro de uns poucos anos, as classes médias e altas estarão totalmente informadas e formadas pelos canais oriundos dos Estados Unidos, enquanto que ao nosso povão restará assistir aos Faustões, BBBs, Datenas ou Lucianas Jimenes. Daí para pior.

Marcos Dantas é professor do Dept. de Comunicação Social e coordenador do Instituto de Mídias Digitais da PUC-Rio. Integra o GTE do Fórum Mídia Livre e a Comissão Rio Pró-Conferência Nacional de Comunicação. Foi secretário de Educação a Distância do MEC e membro do Conselho Consultivo da Anatel. Este é o primeiro de dois artigos sobre o tema.

Apontamentos sobre comunicação na Bolívia de hoje

Em artigo publicado no Le Monde Diplomatique boliviano, Ricardo Bajo e Pascual Serrano afirmam que quem vive no país “não pode negar que há uma guerra midiática”: de um lado os meios privados, de outro o governo Evo Morales, “que tenta desenvolver propostas de comunicação que permitam o acesso aos setores indígenas, populares e intelectuais que defendem as mudanças políticas”. Desde antes da eleição de Morales, em 2005, essa polarização já se acirrava a cada conflito político desse país escolado em conflitos políticos.

Depois de incontáveis golpes militares (inclusive de “nacionalistas de esquerda”), algumas vezes entermeados por governos relativamente democráticos, a Bolívia ingressa na era da democraia formal em 1982, com o governo de Hernan Siles. A estabilidade duraria pouco, e o governo, fruto de uma coalizão de centro-esquerda, acabou não resistindo a uma enorme crise econômica, tendo seu mandato abreviado. Em 1985 há novas eleições, e o que vem a partir daí não difere muito da política que estava sendo ou seria executada no resto da América Latina: um convicto e voraz neoliberalismo, responsável pelo enxugamento do Estado, privatizações, demissões, redução e extinção de direitos trabalhistas etc.

O partido no poder era o Movimento Nacionalista Revolucionáio (MNR), responsável pela revolução nacionalista de 1952 e agora convertido aos ensinamentos do Consenso de Washington, e o grande marco dessa nova etapa é o Decreto Supremo 21060, que liberaliza a economia boliviana, antes considerada “estatal”.  Assim como fez com o restante da economia, o decreto é responsável por um cenário de completa ausência de regulamentação no que diz respeito à comunicação. Segundo afirma o jornalista e estudioso da mídia boliviana Andrés Gomez Vela, em seu livro Mediopoder, “a liberalização da comunicação e da informação se traduziu, com o transcurso dos anos, na organização de empresas de comunicação multimídia com um poder desmesurado e difícil de controlar somente com as normas da ética ou da auto-regulação”.

A mídia em guerra contra o povo

Evo Morales e seu Movimento Ao Socialismo – Instrumento Político pela Soberania dos Povos (MAS-IPSP) chegam ao poder em 2005, mas as raízes de tal sucesso eleitoral remontam a mobilizações iniciadas muitos anos antes. Sufocado pelo neoliberalismo privatista, o movimento popular boliviano passa a estar cada vez mais organizado, estimulado por uma identificação indígena entre seus componentes. Assim, no princípio dos anos 2000, a Bolívia é sacudida por grandes revoltas e mobilizações, como a Guerra da Água de 2000, em Cochabamba, e a Guerra do Gás de 2003, na cidade de El Alto, responsável pela queda do presidente Gonzalo Sanchez de Lozada, o presidente que tinha sotaque gringo.

Durante as mobilizações, a mídia se colocou explicitamente do lado dos governos de então, recorrendo a toda espécie de distorção e manipulação. Nas palavras de Gomez: “em nome do pluralismo, mas excluindo as fontes contrárias a seu pensamento editorial, armaram um só corpo em defesa da ordem pública e da propriedade privada transnacional”. No decorrer dos conflitos de 2003, nos quais Sanchez de Lozada foi responsável pela morte de 67 pessoas, uma nascente mídia independente teve importante papel ao prover informações, em jornais e pelo rádio, alternativas à da mídia corporativa, que era na prática mídia oficial. Antes de se ver obrigado a renunciar, Sanchez de Lozada, também conhecido como Goni, chegou a convocar os proprietários dos maiores meios de comunicação para uma reunião em sua casa.  

A partir daí, uma relação que já era de intensa desconfiança passou a ser de declarada rivalidade entre o movimento popular, representado institucionalmente pelo MAS, e a grande imprensa. Não é de se estranhar, portanto, que, com a chegada do MAS ao poder, a mudança na regulamentação nas comunicações tenha sido uma das bandeiras do movimento social durante a elaboração da Nova Constituição Política do Estado – aprovada em referendo no último dia 25 de janeiro. O texto contém capítulo exclusivamente sobre comunicação e, assim como toda a Constituição, deverá ser regulamentado pelo novo Congresso a ser eleito no final deste ano.

Os fantasmas por trás da notícia

Após estabelecer que o Estado garante o direito à liberdade de expressão, de opinião e de informação, a Nova Constituição boliviana  afirma em seu Artigo 107 que “os meios de comunicação social não poderão conformar, de maneira direta ou indireta, monopólios ou oligopólios”.  Assim como no restante do continente, a compreensão de quem detém a propriedade dos meios de comunicação na Bolívia é fundamental para se entender os interesses que o governo de Evo Morales têm tido que enfrentar.

No que tange à comunicação, uma das prioridades do governo tem sido criar e fortalecer os órgãos estatais. Assim, esforços vêm sendo tomados para que o Canal 7 de televisão melhore sua qualidade técnica e seu conteúdo. No entanto, o canal é o quarto em audiência, atrás das redes Unitel, ATB e Uno, de conteúdo explicitamente oposicionista ao governo,que juntas abocanham 70% da receita de publicidade. 

A Unitel é de propriedade da família Montesinos, dona de pelo menos 40 mil hectares de terras em Santa Cruz de La Sierra. O canal mantém ligação com o MNR, partido de direita. Já a ATB faz parte do grupo espanhol Prisa, detentor também dos jornais La Razón (considerada por Andrés Gomez Vela como “o porta-voz da nova direita” boliviana) e Extra, além do portal Bolívia.com . A emissora pertencia a um ex-embaixador do governo do ditador Hugo Banzer (posteriormente eleito democraticamente) e seus acionistas atuais têm ligação direta com poderosas empresas espanholas, como por exemplo a Repsol. Não é necessário dizer qual foi a postura (e a cobertura) do grupo frente à nacionalização dos hidrocarbonetos, por exemplo. O principal acionista do grupo é Jesús de Polanco, proprietário do diário El País, da Espanha. Já a Rede Uno pertence a Ivo Kuljis, que já foi três vezes candidato da direita à vicepresidência e participou do governo do MNR.

Além de outros canais mais regionais, há também duas outras emissoras importantes: PAT e Bolivisión. A PAT tinha como principal acionista Carlos G. Mesa, que chegou a ser presidente depois da queda de Goni; hoje 60% das ações são da família Daher, dona da única companhia área boliviana que voa para fora do país – a Aerosur – e de importadoras de eletrônicos como LG e Sony, e 40% do Grupo Líder, que também é dono do jornal de maior circulação no país, o El Deber.

A Bolivisión pertencia a Ernesto Asbún, antes que este fugisse do país depois da quebra de sua empresa aérea, e foi comprada por uma figura ímpar da comunicação latino-americana: o mexicano Remigio Ángel González González, ou somente Ángel Gonzalez, também conhecido como “O fantasma”. González adquiriu suas primeiras televisões no começo dos anos 1980, na Guatemala, com apoio da ditadura que governava o país com uma mãozinha da CIA. Depois disso, com uma passagem pela prisão no meio do caminho, o empresário adquiriu inúmeros veículos de comunicação no continente, a grande maioria deles em nome de laranjas – por isso o apelido, é impossível contablizar todas as empresas que ele administra, direta ou indiretamente.

De certo, sabe-se que ele detém hoje quatro dos cinco canais de TV aberta da Guatemala e ao menos 11 estações de rádio neste país. Além disso, possui três canais de TV na Nicarágua, seis rádios e duas TV’s na Costa Rica, duas televisões no Chile e na República Dominicana, 80% do Canal 9 da Argentina, dois canais de TV e 12 estações de rádio no Equador. Sua fortuna é estimada em 2 bilhões de dólares, e chega-se a cogitar que tenha cerca de 40 canais de TV. 

Além do El Deber e do PAT, o Grupo Líder é dono de duas rádios, outras duas televisões e nove jornais em diversas regiões do país. Outros dos jornais mais vendidos também são de propriedade de lideranças da direita boliviana, como diario El Mundo, de Santa Cruz, que é parte do Grupo Mega (dono também da TV Megavisión), de Juan Carlos Duran, parlamentar do partido de Sanchez de Lozada.Em Beni, há o La Misión, cujo dono é um ex ministro de Banzer e em La Paz há o Diário de La Paz, cujo dono, Jorge Carrasco, está em liberdade condicional – é acusado de assassinato por ter dinamitado (!) o carro de sua esposa.

Apesar da importância e influência na política boliviana, os jornais têm uma tiragem muito baixa. O El Deber é o mais vendido, e não chega a mais de 15 mil cópias durante a semana e 30 mil aos domingos. Veículos semanais e mensais apresentam números ainda mais baixos.  

O rádio é o meio mais popular e de maior penetração no país. A emissora líder em audiência é a Erbol, ligada às comunidades de base da Igreja Católica, que também é dona da segunda rádio mais popular, a Fides. Mas, diferentemente da Erbol, a Fides é ligada a um dos setores mais conversadores da Bolívia, sendo comandada pelo padre español Eduardo Perez. Segundo Adrés Gomez, a Igreja tem 17 organizações de formação em comunicação, 42 rádios, 10 canais de TV, duas produtoras de rádio e 10 de vídeo, além de duas agências de noticias.

Não é de se estranhar que quando houve, no começo de 2009, a substituição do representante do Vaticano na Bolívia, o primeiro encontro da agenda do novo núncio foi com Evo Morales. Há também a Rádio Panamericana, de propriedade da familia Dueri, dona da maior gravadora do país e cujo patriarca foi embaixador durante o governo de Losada. Fazendo frente às rádios comerciais, o governo investe na Rede Pátria Nueva, que compõe a recém criada Rede de Rádios Comunitárias, da qual fazem parte outras 30 emissoras indígenas e camponesas.

Além do fortalecimento da Pátria Nueva, o que talvez seja mais relevante no país é um já tradicional movimento de rádios comunitárias autônomas e descentralizadas.  Mesmo com estruturas débeis e recursos técnicos precários, essas emissoras são muito importantes não só para difusão de informação alternativa elaborada pelos próprios atores envolvidos nas questões expostas como também como mecanismo de organização política. Os longos informes e saudações podem parecer enfadonhos ao ouvinte não acostumado, mas parecem obter sucesso na difusão de informações políticas relevantes.

Há inúmeros exemplos, como os da rádio Integración instalada no Plan 3000, bairro da periferia de Santa Cruz de La Sierra, da rádio da Fejuve (Federação de Juntas Vicinais) de El Alto e da rede Apachita.  A rádio Integración foi muito importante durante os violentos conflitos ocorridos no Plan 3000 em setembro de 2008, quando a direita organizada e racista de Santa Cruz partiu para o confronto armado com os moradores da periferia, e segue até hoje cumprindo um importante papel tanto para discussão política quanto para divulgação de campanhas de saúde, contra a dengue, por exemplo. A rádio da Fejuve foi um dos mecanismos de contra-informação durante a Guerra do Gás, e a rede Apachita começou como uma rádio que difundia informações técnicas para ajuda aos trabalhadores da agropecuária familiar e com o tempo passou a ser também um meio contra hegemônico de informação, transmitindo exclusivamente nos idiomas quechua e aymara.

Os órgãos estatais – ainda distantes de uma comunicação pública e de qualidade

O governo de Evo Morales tem como prioridade de sua política de comunicação o fortalecimento do sistema estatal de comunicação. O Canal 7 e a Rádio Pátria Nueva receberam investimentos, e foram criados o jornal diario Cambio e a Agência Boliviana de Informações (ABI). No entanto, tais iniciativas estão muito distantes de uma comunicação realmente pública, entendida como espaço para participação de diversos setores da sociedade de maneira ampla e plural, e limitam-se a transmitir o discurso oficial e governista, sem muitas sutilezas.

O jornal Cambio ,cujo preço é quase a metade do de seus concorrentes,  é distribuído em formato tabloide, com poucas páginas, a maioria em branco e preto. A qualidade dos textos é ruim, e não há muito espaço para análise ou debate de idéias. A idéia é divulgar o que pensa o governo, e ponto. Com um pouco mais de variedade e opinião, a mesma tendência se verifica na ABI.

O Canal 7 também carece de uma programação mais consistente, mesmo que apresente alguns programas estilo “mesa-redonda” que, se não apresentam nenhuma qualidade técnica relevante (estão mais para rádio filmado, como as mesas-redonda de futebol aqui do Brasil), ao menos difundem debates interessantes e com certa variedade nas opiniões. Obviamente as fontes oficiais são prioritárias, assim como nos telejornais, que têm a grande vantagem de repercutir mobilizações “esquecidas” pelos canais privados. 

De resto o canal apresenta alguns programas de variedades, cultura, músicaetc ,de baixíssima qualidade, alguns deles inclusive apresentados pelo estereótipo presente na totalidade dos canais privados: mulheres bonitas de feição européia. Há também programas esportivos e transmissões de jogos de futebol, iguais em qualquer parte do mundo.

Nesse aspecto da comunicação fica claro uma deficiência do governo que é evidente também em outras áreas, a priorização excessiva dos meios estatais em detrimento do estímulo às iniciativas autônomas que partem do movimento popular. Envolvido numa constante batalha contra tentativas de golpe reais e imaginadas, o governo acaba focando mais a tentativa de derrotar a direita do que a opção de fortalecer a esquerda, inclusive recorrendo nesta luta midiática ao mesmo tipo de distorção e simplismo que a direita recorre em sua mídia . Fortalece-se o governo, fica para depois a auto-organização popular.

A expectativa é que com uma boa regulamentação da Nova Constituição, e também com a consolidação de iniciativas como o novo decreto de lei que estabelece o direito de opinião dos jornalistas em seus veículos (independendo desta ser divergente ou não da linha editorial dos proprietários), sedimentem-se os marcos para uma comunicação privada mais controlada para, quem sabe, a partir daí se iniciem os incentivos mais concretos à comunicação autônoma e popular, independente de interesses comerciais, partidários e ou governamentais. Há muito o que fazer mas, felizmente, o futuro da comunicação na Bolívia permanece em aberto.

Julio Delmanto é comunicador social.

Regionalização da mídia

Desde 2003, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) promove um intenso processo de regionalização da publicidade institucional. Nesse período, o universo de veículos de comunicação contemplados com a propaganda oficial saltou de 499, em 182 municípios, para 5.297, em 1.149 cidades, ou seja, um crescimento de 961%. Os dados foram publicados nesta Folha (31), em reportagem sobre o investimento realizado desde a primeira gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A reportagem informa, por exemplo, que, quando o presidente Lula assumiu o cargo, os comerciais chegavam a apenas 291 emissoras, mas, no final do ano passado, alcançaram 2.894, entre rádios e TVs.

A regionalização da mídia federal é salutar. Além de baseado em filosofia da própria Secom, esse processo decorre da elevação dos níveis de profissionalização das empresas de pequeno e médio porte. No entanto, entendemos que esse sistema deve se basear em critérios técnicos rigorosos, com sua respectiva comprovação de audiência ou circulação, a exemplo do que ocorre no mercado privado.

Se assim for, o governo cumpre uma de suas principais obrigações, que é a de prestar contas de seus atos à sociedade. Os veículos de comunicação, sejam de abrangência nacional, sejam de abrangência local, estão entre os meios mais eficazes para fazê-lo. Isso é ainda mais verdadeiro quando se trata de um país como o Brasil, de dimensões continentais, que abriga enorme diversidade cultural, econômica e social.

A regionalização é uma tendência que se intensifica nos mercados, no exterior e no Brasil, que buscam estreitar cada vez mais a comunicação com seu público e a ele adequar a sua linguagem e os temas abordados. Por isso, como estratégia complementar a campanhas de abrangência nacional, os anunciantes -sejam eles da esfera pública, sejam do setor privado- caminham no sentido de regionalizar suas ações, para atingir, com precisão, maior fatia da população.

A razão disso é conhecida. Os avanços tecnológicos, que reduziram as distâncias e permitiram acesso mais rápido e fácil a todo tipo de informação, não diminuíram a importância do que acontece no ambiente em que se vive. Apesar do processo crescente de globalização, nenhuma outra informação interessa mais ao cidadão do que aquela que trata das questões locais e regionais, que fala de seu cotidiano, dos episódios e das pessoas conhecidas.

Essa realidade, aliás, não é estranha à radiodifusão brasileira. Ao contrário. O modelo federativo da radiodifusão tem a capacidade de reconhecer essas diferenças, de valorizá-las e de reproduzi-las para todo o território nacional. Formado por 4.379 emissoras comerciais de rádio, entre AM e FM, e 517 geradoras de televisão, o setor consegue ter uma dimensão nacional e, ao mesmo tempo, um olhar local.

Aliás, no Brasil, são inúmeros os exemplos de empresas que cresceram justamente por dar ênfase aos interesses comunitários.  No caso do rádio, com sua história quase centenária de serviços prestados ao Brasil, a inter-relação é ainda mais evidente. Esse veículo de comunicação tem uma vocação natural para a regionalização. É um meio comunitário por excelência, pelo contato direto que tem com a população, a cidade, o bairro, sua história, sua cultura, seus anseios e suas necessidades.

Destaco, ainda, outra característica importante das empresas de radiodifusão e que interessa, sobremaneira, à sociedade brasileira em geral. Sabe-se que a sustentabilidade econômica, proveniente de múltiplos anunciantes, é o pressuposto essencial para veículos de comunicação independentes, capazes de produzir conteúdo de qualidade e de cobrar responsabilidade dos governos.

Pois o "Perfil Socioeconômico da Radiodifusão Brasileira" (2007), realizado pela FGV (Fundação Getulio Vargas), revelou que o faturamento das empresas do setor depende fundamentalmente da venda de publicidade oriunda de múltiplos segmentos econômicos privados. Esse estudo apontou ainda que, no caso das emissoras de rádio, somente 4,9% correspondem a verbas do governo federal, apenas para citar um exemplo.
Portanto, não se pode considerar relevante esse índice, muito menos supor ou afirmar que tais investimentos comprometam o equilíbrio editorial das emissoras de rádio e televisão.

Por fim, reiteramos a nossa firme convicção de que a democracia depende de uma sociedade civil participativa, de governos transparentes e de uma imprensa independente, em condições de fiscalizar as ações dos poderes públicos e de oferecer um serviço de qualidade à sociedade.

Daniel Pimentel Slaviero, 29, administrador de empresas, é presidente da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão).