Além de um espaço de debates temáticos, o I Fórum da Internet no Brasil, que foi realizado em São Paulo na quinta e sexta (13 e 14), também serviu para articulações entre a sociedade. A campanha Banda Larga é um direito seu! aproveitou o momento e divulgou uma carta assinada por 25 entidades sobre as políticas públicas em relação ao tema. A campanha defende a criação dos parâmetros de qualidade que estão sendo propostos pela Anatel, mas considera a ação insuficiente. Confira a íntegra do documento:
A urgência de tratar a banda larga como direito da cidadania
A iniciativa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) de realizar este I Fórum da Internet no Brasil é um importante marco por ampliar o envolvimento direto dos cidadãos e cidadãs na reflexão dos temas críticos que afetam a expansão e dinâmica de funcionamento da Internet no país. Sua primeira edição conseguiu garantir a diversidade regional e a representação dos diversos setores envolvidos no tema, preservando uma das principais características do CGI.br – sua composição multisetorial –, que o torna referência mundial para a governança da Internet. Antes mesmo de seu encerramento, já é possível manifestar a expectativa de que ele se torne um evento anual.
A realização deste I Fórum acontece em um momento político importante para a banda larga no país. Desde o início do ano, uma série de ações vêm sendo implementadas pelo Governo Federal, em especial pelo Ministério das Comunicações e Agência Nacional das Telecomunicações (Anatel), no sentido de ampliar o acesso à Internet. Neste momento, está em pauta a definição de parâmetros de qualidade para os serviços fixo e móvel, que devem ser aprovados até o final de outubro pela Anatel.
Todas essas ações são de fato um avanço em relação à crítica ausência de políticas públicas prevalente até 2010. Contudo, as entidades que fazem parte da Campanha Banda Larga é um direito seu! entendem que as medidas são absolutamente insuficientes para promover a universalização do acesso à banda larga no Brasil. Mais do que isso, veem com bastante preocupação o fato de a universalização não ser posta sequer como um objetivo nas medidas regulatórias e políticas públicas.
É importante lembrar que na I Conferência Nacional de Comunicação, realizada em 2009, os diversos segmentos presentes aprovaram por consenso que o acesso à Internet deveria ser definido como direito fundamental e que o serviço deveria ser prestado em regime público, o que garantiria metas de universalização e controle de tarifas. Nenhuma dessas duas perspectivas está contemplada nas atuais políticas públicas.
O diagnóstico da Internet no Brasil é dramático. O serviço hoje é caro, lento e para poucos, com penetração residencial de apenas 27%. São especialmente preocupantes as disparidades regionais. Na região Norte, especialmente, o acesso é totalmente restrito, com baixa velocidade e qualidade e com preços exorbitantes. Iniciativas estaduais que poderiam ajudar a mudar esse quadro, como o NavegaPará, retrocederam na qualidade e têm sido relegadas a segundo plano. A falta de competição cria monopólios locais e dificulta ainda mais o desenvolvimento do setor.
Para completar, o cenário de crise econômica gerou cortes em áreas críticas, como as políticas de inclusão digital e o financiamento da Telebras. Na contramão desses cortes, estão sendo definidas medidas de incentivo fiscal para as empresas de telecomunicações construírem redes privadas. Essas medidas contrariam a proposta inicial de fortalecer a Telebras para cumprir papel estratégico na regulação e indução da competição.
Frente a esse quadro, entendemos que há cinco ações fundamentais a serem tomadas no curto prazo:
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Definição de parâmetros de qualidade – a Anatel deve aprovar parâmetros de qualidade que garantam velocidade e índices de qualidade de rede que sigam, no mínimo, as propostas previstas na consulta pública nº 46, e que considerem também a relação da rede da operadora com outras redes, garantindo instrumentos para que o próprio consumidor faça o
monitoramento desses parâmetros; -
Migração para o regime público – deve ser planejada a migração do serviço de banda larga para o regime misto (público e privado), de forma a garantir a universalização do serviço e o controle de tarifas, preservadas condições especiais para os pequenos provedores;
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Retomada dos investimentos no programa Telecentros.BR – deve ser retomado o investimento nas ações da rede de formação e na entrega de equipamentos e conexão, com a definição de obrigações de atendimento gratuito aos telecentros pelas empresas de telecomunicações.
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Aprovação do Plano Geral de Metas de Competição – aprovação de instrumentos de indução de competição com diretrizes específicas para as redes públicas que estão sob gestão das concessionárias.
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Recompor o papel da Telebras no Plano Nacional de Banda Larga
Essas ações no campo da conectividade se somam àquelas necessárias a garantir a liberdade e a neutralidade na rede, como a aprovação do marco civil da Internet e o impedimento de aprovação de leis que afetem esses princípios, como o Projeto de Lei nº 84/99 (AI-5 Digital) e o PL 1.481/07 (que modifica a lei do Fundo de Universalização das Telecomunicações).
Neste momento, nos parece fundamental garantir que a universalização do serviço de banda larga seja prioridade das ações do Governo Federal, como apontado pela Presidenta Dilma, com o fortalecimento do papel do Estado como indutor do desenvolvimento social e econômico. Só assim acreditamos que será possível garantir uma banda larga barata, de qualidade, para todos, e uma Internet de fato democrática e inclusiva.
São Paulo, 14 de outubro de 2011
Campanha Banda larga é um direito seu!
Entidades presentes no I Fórum da Internet no Brasil:
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ABRAFIN – Associação Brasileira de Festivais Independentes
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ARPUB – Associação das Rádios Públicas do Brasil
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ARTIGO 19
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Associação Cultural Alquimídia
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Associação SoftwareLivre.Org
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CADESC – Comunidade Ativa no Desenvolvimento Sócio-Cultural Educacional de Cidade Tiradentes
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CEAPS / Projeto Saúde e Alegria
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Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé
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Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS), da Escola de Direito da FGV/RJ
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Ciranda da Informação Independente
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Coletivo Digital
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Coletivo Puraqué
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Coletivo Soylocoporti
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CFP – Conselho Federal de Psicologia
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CRP-SP – Conselho Regional de Psicologia – São Paulo
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CUT – Central Única dos Trabalhadores
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Fenadados – Federação Nacional dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação
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FITERT – Federação Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão
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Frenavatec – Frente Nacional pela Valorização das TVs do Campo Público
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GEC – Grupo de Pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias, da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia
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Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
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Instituto Nupef
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Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
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Proteste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor
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Ulepicc – União Latina de Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura – Capítulo Brasil
Atualizada em 17 de outubro, às 18h30
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