As alterações que tiveram de ser feitas de última hora na programação do II Fórum de Mídia Livre, realizado entre os dias 4 e 6 deste mês em Vitória, e a forte chuva que caiu na cidade não foram suficientes para diminuir a vitalidade da articulação. Apesar da baixa no número de participantes, cerca de 400 pessoas circularam pelo evento e quase 2 mil prestigiaram o Festival de Música Livre, que aconteceu nas noites do encontro. Os participantes também conseguiram avançar em questões de interesse coletivo, como a necessidade de aumentar e qualificar a formação em comunicação dentro e fora do ambiente escolar e acadêmico, a importância de criação de redes entre os chamados midialivristas e a busca por mecanismos que garantam a sustentabilidade dos projetos e pessoas envolvidas com as mídias livres.
Como um dos resultados do encontro foram aprovadas várias propostas discutidas em grupos, que estarão disponibilizadas no site do fórum (http://www.forumdemidialivre.org) a partir do dia 13. Várias delas pensadas em diálogo com as que foram encaminhadas pelos estados à etapa nacional da 1ª Conferência Nacional de Comunicação, que acontece a partir da próxima segunda-feira (14) e se encerra na quinta-feira (17). Além disso, destaca-se também a iniciativa dos participantes em criar uma rede de proteção e solidariedade a blogueiros e radialistas comunitários, e a idéia de aproximar o movimento à rede de economia solidária.
Para Renato Rovai, editor da Revista Fórum, o debate mais interessante do encontro foi em relação à sustentabilidade da mídia livre. “Teve muito peso no evento e se criaram alguns caminhos na órbita de se construir uma economia solidária entre os projetos midialivristas e se criar uma ponte entre os projetos e outros, da economia solidária”, relata. A idéia é incentivar a troca de produtos e serviços entre os grupos da rede. O projeto iTEIA , por exemplo, pretende criar a partir do ano que vem um ambiente digital em seu site para fomentar essa prática.
Ainda dentro desse tema, foi reafirmada a importância de o Estado também atuar como promotor das mídias livres. Uma das maneiras seria, por exemplo, dando continuidade a política de editais para esse setor, como foi feito pelo Ministério da Cultura (MinC) no início deste ano com o Ponto de Mídia Livre. “Acho que o que temos que garantir agora é ampliar para outros lugares essa política porque você não terá como protagonista único o MinC”, propõe Rovai.
Um novo edital deste tipo, porém, ainda não está nos planos do Ministério da Cultura. O que a pasta pretende fazer, por enquanto, é continuar incentivando o intercâmbio entre os projetos que participaram do primeiro edital. “Nosso papel é que os pontos consigam se comunicar e criar mecanismos de contato. A gente quer ativar uma rede”, diz o responsável por esse trabalho no MinC, Zonda Bez. Ele acredita que um caminho interessante seria descentralizar a política, fazendo com que estados e municípios também incorporem projetos de mídia livre em seus editas para a área da Cultura.
No edital lançado pelo MinC foram premiadas 82 iniciativas. Desses, 26 já eram Pontos de Cultura. Os outros contemplados vieram de rádios comunitárias, periódicos e sítios web independentes que atuam na área sócio-cultural. Dos premiados, a maioria pertence à categoria Web (27%), seguida por Rádio e Impresso (23% cada), Audiovisual (19%) e Multimídia (8%). No contexto nacional, a região Sudeste representa 51% das iniciativas premiadas. O Nordeste brasileiro foi a região com a segunda maior quantidade de projetos premiados: 26% (21 projetos). Cerca de 400 entidades se inscreveram para concorrer ao edital.
A diversidade de organizações e pessoas presentes no 2º FML foi um dos pontos mais positivos do encontro, segundo a coordenadora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ivana Bentes. “Acho que o que aconteceu de mais importante foi a aproximação do Fórum de Mídia Livre com o movimento do software livre e o Música Pra Baixar, que se incorporaram aqui (em Vitória). Deu uma mudança de perfil bacana e também conseguiu se articular com o pessoal do movimento histórico”, diz a professora.
O jornalista Altamiro Borges, integrante do Fórum desde seu início, em 2008, também avalia que a pluralidade de pensamentos é uma marca da organização. Ao mesmo tempo, ponderou, em texto publicado em seu blog, que “a diversidade não pode resultar em dispersão. Será preciso dar maior organicidade e agilidade ao FML para que ele cumpra um papel de maior protagonismo no país.”
Para tentar evitar a dispersão citada por Altamiro e também dar conta de encaminhar as discussões e propostas que saíram do encontro em Vitória, foi formado um grupo com 19 integrantes, com pessoas e movimentos de várias partes do país. A idéia é que ele se reúna ainda no começo do próximo ano e pense um subgrupo, mais enxuto e executivo. A um indicativo para que o terceiro Fórum seja realizado novamente em Vitória.
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